Manlio Dinucci*
Aquando dos atentados de 11 de
Setembro, o Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld e o seu conselheiro, Arthur
Cebrowski, definiram a necessidade do Pentágono dominar, completamente, o campo
de batalha mundial (Full-spectrum dominance), de modo a manter a unipolaridade
do mundo. É precisamente o que, hoje, os Estados Unidos da América tentam
estabelecer.
Há duas semanas, Washington
proclamou Presidente da Venezuela, Juan Guaidò, apesar de ele nem sequer ter
participado nas eleições presidenciais e declarou ilegítimo, o Presidente
Maduro, juridicamente eleito, anunciando a sua deportação para Guantánamo.
Na semana passada, anunciou a
suspensão USA do Tratado INF, atribuindo a responsabilidade à Rússia e, assim,
abriu uma fase ainda mais perigosa da corrida aos armamentos nucleares.
Esta semana, Washington dá mais
um passo: amanhã, 6 de Fevereiro, a NATO sob comando USA, expande-se ainda
mais, com a assinatura do protocolo de adesão da Macedónia do Norte, como seu
30º membro.
Não sabemos que outro passo
Washington dará na próxima semana, mas sabemos qual é a direcção: uma sucessão
cada vez mais rápida de acções de força com as quais os USA e outras potências
ocidentais tentam manter o domínio unipolar, num mundo que se está a tornar
multipolar. Essa estratégia - expressão não de força, mas de fraqueza, todavia
não menos perigosa - espezinha as normas mais elementares do Direito
Internacional.
Facto exemplificador é o
lançamento de novas sanções USA contra a Venezuela, com o “congelamento” de
activos de 7 biliões de dólares pertencentes à estatal petrolífera, com o
objectivo declarado de impedir a Venezuela, país com as maiores reservas de
petróleo do mundo, de exportar petróleo.
A Venezuela, além de ser um dos
sete países do mundo com reservas de coltan, também é rica em ouro, com
reservas estimadas em mais de 15 mil toneladas, usadas pelo Estado para
adquirir moeda de reserva e comprar produtos farmacêuticos, alimentares e
outros géneros de primeira necessidade. Por esta razão, o Departamento do
Tesouro USA, juntamente com os ministros das Finanças e com os governadores dos
Bancos Centrais da União Europeia e do Japão, concretizaram uma operação
secreta de “expropriação internacional” (documentada pelo ‘Il Sole 24 Ore’).
Apreendeu: 31 toneladas de
lingotes de ouro pertencentes ao Estado venezuelano:
14 toneladas depositadas no Banco da Inglaterra,
17 toneladas transferidas para este banco, pelo Deutsche Bank alemão, que as havia prometido como garantia de um empréstimo, totalmente reembolsado pela Venezuela em moeda de reserva.
Uma rapina, verdadeira e
oportuna, ao estilo da que, em 2011, levou ao “congelamento” de 150 biliões de
dólares dos fundos soberanos da Líbia (agora em grande parte desaparecidos),
com a diferença de que, esta contra o ouro venezuelano, foi levada a cabo
secretamente. O objectivo é o mesmo: estrangular economicamente o Estado alvo a
fim de acelerar o seu colapso, fomentar a oposição interna e, se não for
suficiente, atacá-lo militarmente, do exterior.
Com o mesmo desrespeito pelas
regras mais elementares de conduta nas relações internacionais, os Estados Unidos
e os seus aliados acusam a Rússia de violar o Tratado INF, sem apresentar
provas, enquanto ignoram as fotos de satélite divulgadas por Moscovo, que
provam que os Estados Unidos começaram a preparar a produção de mísseis
nucleares proibidos pelo Tratado, numa fábrica da Raytheon, dois anos antes de
acusarem a Rússia de violar o Tratado.
Finalmente, no que diz respeito
ao novo alargamento da NATO, que será ratificado amanhã, deve recordar-se que,
em 1990, na véspera da dissolução do Pacto de Varsóvia, o Secretário de Estado
dos EUA, James Baker, assegurou ao Presidente da URSS, Mikhail Gorbachev, que
“a NATO não se estenderá, nem uma polegada para Leste». Em vinte anos, depois
de ter demolido com a guerra, a Federação Jugoslava, a NATO aumentou de 16 para
30 países, expandindo-se cada vez mais para Leste, em direcção à Rússia.
Manlio Dinucci*
| Voltaire.net.org | Tradução: Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)
* Geógrafo e geopolítico. Últimas
publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di
viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016;Guerra
nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla
catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra.
Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
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