domingo, 31 de março de 2019

Ramos-Horta pede prudência do Governo perante investidores mais antigos em Timor-Leste


O ex-Presidente da República timorense José Ramos-Horta pediu hoje "prudência" ao Governo no tratamento dos investidores estrangeiros mais antigos do país, que vieram para Timor-Leste há quase 20 anos, evitando "discursatas agressivas" que podem prejudicar o país.

"Se queremos promover investimento, comecemos por acarinhar os investidores que já estão cá há quase 20 anos", disse à Lusa, à margem do lançamento da primeira associação de proprietários de hotéis de Timor-Leste, a HOTL.

"Se fazemos discursatas agressivas contra os investidores que cá estão e usamos os media em vez de os convidar para o diálogo, obviamente os novos investidores verão: é assim que tratam os investidores que estão cá, então não iremos", afirmou.

O também ex-chefe da diplomacia timorense disse que é importante reconhecer o esforço que muitos dos investidores fizeram assumindo os riscos de investir no país há 20 anos, e que a imagem do país pode ser afetada pela forma como esses projetos são tratados.



"Timor tem que saber que é um grão de areia na enorme competitividade que há em toda a Ásia. Se não somos prudentes e inteligentes, continuaremos a ser ignorados pelos investidores aqui da Ásia", disse.

Ramos-Horta, que deixou mensagens idênticas no seu discurso no lançamento da HOTL, deu como exemplo desses investidores pioneiros no setor, Carlos Monjardino e a Fundação Oriente "que com coragem e visão" e perante as grandes dificuldades em 2001 e 2002 abriram o Hotel Timor.

"Sem qualquer infraestruturas hoteleiras para receber os convidados para a independência, a Fundação Oriente assumiu todos os riscos e com a confiança do Governo da altura, restauraram o Hotel em tempo recorde, e em seis meses conseguiram abrir as portas", disse.

"Ao longo de anos, apesar de políticas erradas, apesar de não apoiar o setor privado a sério, com incentivos fiscais ou financeiros, a Fundação Oriente e os outros investidores, investiram para modernizar, restaurar e reabilitar o hotel", afirmou.

Motivo pelo qual, aconselhou o Governo "em relação ao Hotel Timor como em relação a todos os outros investidores, alguns aqui há 20 anos, que os trate com mais respeito, com mais sensibilidade".

Entre as medidas que o Governo poderia aplicar, Ramos-Horta referiu-se a incentivos como eletricidade mais reduzida ou outros benefícios.

"Aqui nós temos a eletricidade mais cara do mundo. Podíamos começar a ajudar os investidores reduzindo a sua conta elétrica", disse.

Timor-Leste -- um dos países mais pobres do mundo, cujo orçamento é praticamente na totalidade financiado por um Fundo Petrolífero - aplica a empresas um preço de 24 cêntimos de dólar por quilowatt, um valor mais elevado que o aplicado em países como Espanha, Reino Unido ou a Nova Zelândia.

Lusa | em Diário de Notícias

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