Timor-Leste vive a
"tragédia" de estar "completamente refém de companhias áreas da
Austrália e da Indonésia que atuam "com comportamento de
'gangsters'", mantendo preços desproporcionadamente elevados, disse hoje
José Ramos-Horta.
“Temos esta tragédia deste país
completamente refém deste 'gangsterismo' aéreo por parte da Garuda", disse
o ex-Presidente da República, referindo-se à empresa estatal indonésia,
proprietária das empresas Sriwijaya e Citilink, que voam para Timor-Leste.
"E continuamos reféns da
AirNorth que é um roubo às claras", afirmou, numa alusão à companhia da
Qantas que mantém um monopólio nos voos entre Timor-Leste e a Austrália, numa
das rotas mais caras do mundo.
Ramos-Horta falava em Díli no
lançamento oficial da primeira associação de hoteleiros do país, a HOTL, criada
por dez unidades hoteleiras, localizadas predominantemente na capital do país.
O líder histórico timorense
ironizou, igualmente, com o facto de os preços serem particularmente elevados
tendo em conta a qualidade de alguns dos aviões.
A questão dos preços das viagens
aéreas é, atualmente, um dos maiores obstáculos ao turismo em Timor-Leste, já
de si débil, dado enfrentar outros desafios, especialmente a nível de
infraestruturas.
A partir de 01 de abril o país
ficará ainda mais isolado, com o fim dos voos entre Díli e Singapura, uma de
apenas três ligações internacionais atuais, com as outras duas, para Bali na
Indonésia e para Darwin, na Austrália, a serem das mais caras do mundo, em
preço por quilómetro.
Com um monopólio, desde 1999, na
ligação a Darwin, a AirNorth, da gigante australiana Qantas, continua a manter
preços por quilómetro especialmente elevados.
Para abril, o preço indicativo de
uma viagem de ida e volta Díli-Darwim (722 quilómetros
para cada percurso) é superior a 600 dólares americanos (cerca de 530 euros).
No mesmo período, um voo de ida e
volta entre Darwin e Singapura (3.350 quilómetros
para cada percurso) custa perto de metade.
A ligação com a Indonésia depende
igualmente de um monopólio, neste caso, do grupo Garuda com as marcas Citilink
e Sriwijaya.
Nos últimos seis meses, os preços
dos voos destas transportadoras mais do que triplicou.
Uma viagem ida e volta entre Díli
e Denpassar, capital de Bali (1.140 quilómetros cada percurso), custa mais de
590 dólares, enquanto um voo entre Kupang, capital de Timor Ocidental, e
Surabaya, segunda maior cidade indonésia (1.236 quilómetros
cada percurso), custa apenas 150.
Isso significa que o preço por
quilómetro e por lugar Díli-Bali é de 26 cêntimos, 20 cêntimos mais que os seis
cêntimos entre Kupang-Surabaya.
Ramos-Horta aproveitou o discurso
para deixar recados ao o Governo, afirmando que "a liderança fala muito
sobre turismo, como alternativa ao petróleo e gás", mas as declarações
"não estão refletidas no orçamento".
"Sei que as pessoas no
Ministério do Turismo, durante anos, lutam por ter um orçamento decente, que
mal chega para os custos operacionais do próprio ministério", declarou.
O ex-Presidente e Prémio Nobel da
Paz referiu-se, ainda, a uma recente reunião com o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Dionísio Babo, sobre uma campanha de promoção de investimento em
Timor-Leste.
"Eu disse-lhe que devíamos
começar a abraçar, louvar os investidores que já estão aqui neste país, que
vieram quando ninguém queria vir, que tomaram riscos, investiram",
apontou.
Aos proprietários do setor
hoteleiro também deixou recados, afirmando que os preços devem ser consistentes
com os serviços.
O presidente da HOTL, Tony Jape,
que construiu o primeiro grande centro comercial timorense, o Timor Plaza --
que tem, também, uma unidade hoteleira -, assinalou que a associação nasceu
para fortalecer as parcerias no setor do turismo.
Afirmando que estão preparados
"para estabelecer parcerias com o Governo, com o setor privado e com
outros parceiros", Tony Jape enumerou fatores que afetam o desenvolvimento
do turismo, como "estradas, acesso à internet ou formação",
considerando que "nenhuma empresa sozinha, nenhuma organização sozinha,
nenhum parceiro, nem sequer o Governo sozinho conseguem abrir o caminho".
Lusa | em Diário de Notícias
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