Mariana
Mortágua | Jornal de Notícias | opinião
No
sábado passado deu à costa das Filipinas uma jovem baleia morta. Causa da
morte: choque gástrico, induzido pelos 40kg de plástico ingeridos.
Segundo
a organização Ocean Conservancy, se o Mundo continuar a produzir e despejar
plástico nos oceanos a esta velocidade, em 2025 teremos um quilo de plástico
por cada três quilos de peixe.
Um
mar de lixo. Este é só um dos desastres que o futuro nos reserva, a que se
juntam as consequências das alterações climáticas, como o aumento das
catástrofes naturais, a diminuição do espaço habitável, migrações em massa ou
escassez de água potável.
Não
se pode dizer que tenhamos chegado a este ponto por falta de aviso. Assistimos,
ao longo dos últimos anos, ao sistemático desrespeito e desconsideração pelos
alertas de cientistas e ativistas pelo clima, tratados como excêntricos
mensageiros do apocalipse, e hoje a situação é de emergência. Não temos tempo
para perder com novos negócios disfarçados de economia verde ou com discursos
verdes para esconder uma economia suja. O comércio de emissões de dióxido de
carbono não é mais que um negócio especulativo, as bicicletas e os carros
elétricos não são o bastante, e nem vale a pena falar de aquecimento global
enquanto se continua a querer tirar petróleo de baixo da terra (como queria
fazer o Governo português).
A
crise climática é a crise do sistema económico, do modo como se organiza e
funciona. É a crise do consumo em massa e da desigualdade na distribuição de
riqueza, é a crise da produção em escala e do comércio globalizado. Não é
possível reduzir a produção de plástico e a emissão de gases com efeitos de
estufa sem mudar o status quo do sistema económico e, por consequência, sem pôr
em causa o poder e os lucros de quem o domina.
Greta
Thunberg, de 15 anos, percebeu tudo o que está em causa, e por isso não falou
para as elites. Não pediu favores nem licença a quem tem lucrado com este jogo
do gato e do rato com um futuro da humanidade. Greta falou aos estudantes e
convocou-os a tomar o destino nas mãos e parar o Mundo, forçar o Mundo a parar
e ouvir. E foi ouvida. Na passada sexta-feira milhões de jovens, também em Portugal,
pararam as escolas em greve e saíram à rua para dizer ao Mundo, e às elites,
que esta é uma emergência e uma responsabilidade coletiva. A greve dos
estudantes pelo clima não foi apenas um momento emocionante ou simbólico. Foi
uma lição de sabedoria e determinação: quer queiramos quer não, esta será a
causa das nossas vidas. Só nos resta agradecer-lhes e juntarmo-nos ao
movimento.
*Deputada
do BE
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