Jorge Rocha* | opinião
Oito dias depois de ter despedido
Pedro Santos Guerreiro da direção do «Expresso», o clã Balsemão demonstra o
verdadeiro fito dessa decisão ao nomear para seu substituto o tenebroso João
Vieira Pereira. Ora, apesar, de um e outro, serem ideologicamente de direita,
existe uma diferença muito grande na cultura, que possuem e, sobretudo, na
forma de fazerem jornalismo. Guerreiro sempre revelou uma bagagem intelectual,
que tornava desafiante a leitura dos seus textos, mesmo com ele quase sempre
discordando. Ao contrário Pereira tem sido sempre um hooligan das
direitas, enviesando o bastante os argumentos para dizer o pior possível do
governo socialista e das esquerdas em geral. O seu fanatismo neoliberal aproxima-o da
tal alt-right que, espicaçada por Steve Bannon, também pretende avançar pelas
nossas fronteiras adentro.
Falido economicamente, o grupo
Impresa não desiste de levar até ao derradeiro suspiro a porfiada tentativa de
devolver às direitas a condução governativa do país. Daí que, em ano eleitoral,
quando o futuro se definirá para os próximos anos, o clã Balsemão não se
contente com um jornalista inteligente para lhe cumprir os desígnios. Em vez de
um diretor dado a floreados poéticos, exige a raiva aguda de um rottweiller da
estirpe do agora indigitado responsável. Mas para não revelar tibiezas na
missão de que se vê revestido, acolitam-no com David Dinis para que a horda
bárbara do «Observador» encontre expansão mais alargada no semanário, até agora
adquirido por alguns resistentes, progressivamente desagradados com os seus
conteúdos, mas carecidos de alternativa mais digerível.
Adivinhamos que os próximos meses
não serão fáceis para as esquerdas tendo em conta o avassalador domínio que as
direitas possuem nas televisões, nos jornais e nas rádios. E os exemplos estão
à vista com a repetição insana de argumentos risíveis como o do suposto
nepotismo socialista, da degradação dos serviços públicos ou dos muitos
incêndios, que Marcelo, com afirmações perversas, mandou começar a atear, como
forma de estabelecerem uma densa barreira de fumo capaz de iludir o eleitorado
quanto aos benefícios colhidos com a governação destes últimos quatro anos.
Em definitivo, o «Expresso» acaba
de perder um dos seus mais antigos leitores...
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