José Pedro Soares estava entre os
50 presos da cadeia da Fortaleza de Peniche, aquando do 25 de Abril de 1974,
que foram libertados dois dias depois, uma data que é celebrada no próximo sábado,
passados 45 anos.
"Noutros dias, os que saíam
da cadeia só tinham a família e uns amigos à espera e, naquele dia, tínhamos
uma multidão que abriu um corredor, batia palmas e cantava as cantigas da
libertação da altura", recorda José Pedro Soares, enquanto visita as obras
a decorrer na fortaleza, para instalar o Museu Nacional da Resistência e da
Liberdade.
Na manhã do 25 de Abril de 1974,
lembra, um grupo de presos, do qual fez parte, juntou-se na sala de convívio da
cadeia para ver televisão, e estranhou o facto de o ecrã estar "escuro e
ouvir-se apenas música sinfónica".
Poucas horas depois, chamaram
todos os companheiros e assistiram pela televisão à leitura de um documento do
Movimento das Forças Armadas, que "dava já indicação da tomada de vários
pontos" no país pelos militares, assim como as reportagens ao longo do dia.
"Percebemos que tinha havido
um levantamento militar popular", concluiu.
As notícias levaram os presos a
falar com os guardas e com a direção da cadeia. "Inicialmente estavam
atrapalhados, começaram a receber-nos com uma simpatia extraordinária e a dizer
que eram funcionários públicos e que tinham servido uns, mas serviriam
outros".
Nesse mesmo dia, uma guarnição
militar vinda de Viseu, do Regimento de Infantaria N.º 14, tentou tomar a
Fortaleza de Peniche, contou, mas "a cadeia não se rendeu e só no outro
dia, um outro grupo de militares de Lisboa tratou da sua libertação".
José Pedro Soares recorda à Lusa
que todos os presos disseram que "ou saíam todos ou não saía
ninguém".
Numa altura em que as condições prisionais
já tinham melhorado, e quando faltava menos de um ano para cumprir a pena de
três e meio de prisão a que fora condenado, José Pedro Soares e os restantes
presos foram, por fim, libertados, às primeiras horas do dia 27 de abril, após
a libertação dos presos de Caxias.
José Pedro foi para casa, onde
"praticamente todas as pessoas da terra" lhe bateram à porta para o
saudar.
Durante o dia 27 de abril de
1974, as primeiras horas de liberdade foram dedicadas a dar comícios nas
oficinas de material aeronáutico em Alverca, onde trabalhava, antes de ter sido
detido, com mais cinco mil trabalhadores.
"Passei por todas as secções
da empresa e, sempre que passava, parava tudo e tinha de fazer um comício. A
alegria era imensa", lembra à Lusa.
Lusa | em Notícias ao Minuto |
Foto: © Wikimedia Commons
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