quinta-feira, 11 de abril de 2019

Uma intervenção militar não pode derrubar o governo venezuelano


Valentin Vasilescu [*]

Vários Estados latino-americanos e as Forças Especiais dos EUA parecem preparar-se para atacar a Venezuela. Entretanto, considerando a correlação de forças e a topografia, o autor deste artigo afirma que nenhuma forma de invasão poderia vencer este vasto país defendido por uma selva mais vasta do que a do Vietname. Portanto, conclui-se que qualquer intervenção militar só poderia ter o objectivo desestabilizar o país, não o de derrubar o seu governo.

Cenário de uma guerra sul-americana 

A invasão estrangeira da Venezuela é possível através do Brasil, da Colômbia e da Guiana, três Estados vizinhos da Venezuela. Teoricamente, há pelo menos três eixos de invasão. 

  Uma invasão por Estados sul-americanos deve começar pela conquista de superioridade aérea sobre a Venezuela. Mas a maior parte dos objectivos político-militares da Venezuela estão fora do alcance da aviação brasileira, composta de F-5, A-4, de AMX-1A e A-29 Tucanos.

A Colômbia tem aviões Kfir, A-37 e A-29 Tucano que não têm nenhuma possibilidade perante os sistemas anti-aéreos Buk-M2, S-125, S-300 e os aparelhos venezuelanos F-16 e Su-30 da Venezuela. O mesmo se passa com os aviões brasileiros face à defesa anti-aérea de médio e longo alcance e face à aviação venezuelana. 


Por causa do seu limite de vôo de baixa altitude, os aviões turbo-propulsados A-29 Tucano voam constantemente ao alcance dos 5.000 mísseis anti-aéreos portáteis venezuelanos SA-24 (Igla-S). Os F-5, A-4, AMX-1A, Kfir e A-37 não dispõem de armas guiadas de precisão e atacam a altitudes de 2.000 a 3.000 metros, o que os torna vulneráveis aos mesmos mísseis portáteis SA-24 (Igla-S). 


  Uma invasão terrestre a partir da Guiana é improvável. Este pequeno país não tem os meios, nem a capacidade física: não há estrada através do rio e do delta do Orinoco, nem sequer a possibilidade de mover tanques através da selva.

O Brasil é o menos susceptível de conseguir êxito. Porque antes de entrar em contacto com as principais forças venezuelanas, o Exército brasileiro deve ainda percorrer 500 quilómetros na selva.

A seguir, o rio Orinoco é um obstáculo muito difícil para os brasileiros que não dispõem de pontes móveis nem de outros equipamentos de engenharia. Além disso, para a defesa anti-aérea das tropas terrestres, o Brasil e a Colômbia dispõem apenas de mísseis portáteis com um limite de 5.000 m, ao passo que os Su-30 venezuelanos podem lançar bombas guiadas a laser KAB-500 e KAB-1500 ou mísseis Kh-29 a uma altitude de 10.000 m

O mais provável eixo para a ofensiva é a Colômbia. No entanto, o relevo não favorece a ofensiva colombiana pois a direcção da ofensiva é obstada pelo Lago Maracaibo. Ele tem que ser contornado para leste e seguindo um corredor de 15 a 20 km, facilmente defensável pelo Exército venezuelano.

A melhor opção consistiria em abrir uma via de desvio, com uma força de base aérea colombiana equivalente a uma brigada, e de a lançar de pára-quedas pelo sudeste pela Cordilheira dos Andes. Mas esta opção é igualmente impossível porque a Colômbia só possui 5 C-130 e 8 C-295, com os quais apenas duas ou três companhias de infantaria podem lançadas de pára-quedas.

A Colômbia possui igualmente uma força de combate muito inferior à da Venezuela já que ela se apoia numa infantaria com blindados ligeiros. Além disso, ela não dispõe de carros de combate, a sua artilharia está dispersa e depende de reboques por camiões. A título de comparação, a Venezuela dispõe de veículos de artilharia auto-propulsada 2S19 Msta, de carros de combate BM-30 Smerch, de BM-21 Grad, de LAR e de T-72s. 

  Uma expedição marítima brasileira da 1ª Brigada de Infantaria de Marinha a bordo de porta-helicópteros e de navios de desembarque poderia complicar a situação dos defensores da Venezuela. Mas a Venezuela poderia atacar o grupo de navios de desembarque numa faixa de 100 a 200 km de costa com mísseis anti-navio Kh-31A1 e Kh-59ME lançados por Su-30.

O cenário de uma invasão norte-americana 

Só uma invasão militar dos EUA poderia derrubar Nicolas Maduro, tal como foi o caso no Iraque e na Líbia. No entanto, a Rússia mudou de política externa e demonstrou na Síria que era capaz de defender os seus aliados.

Devido a interesses económicos elevados na Venezuela, a Rússia e a China, mesmo que não enviem tropas, iriam fornecer-lhe tipos de armas de alto nível e de grande raio de acção a fim de impedir uma invasão estado-unidense.

Os Estados Unidos são a maior potência naval do mundo e possuem dois corpos de infantaria naval (mariners). É por isso que o principal eixo ofensivo poderia ser aberto por um desembarque norte-americano.

Mas o afundamento de um a dois porta-aviões e de alguns navios anfíbios de desembarque dos EUA significaria a impossibilidade de obter a supremacia aérea e hipóteses reduzidas de criar uma cabeça de ponte da infantaria naval na costa venezuelana.

Este objectivo seria facilmente atingível com o míssil hipersónico russo Zircon, com um alcance de 1.000 km, e o míssil de cruzeiro Kalibr 3M-54 com um alcance de 1.400 km. Se a Venezuela dispuser destes mísseis poderá atingir o grupo de navios expedicionários norte-americanos a sul das Baamas, a 500 km de Miami.

Mas não penso que a Rússia fornecesse aos venezuelanos mísseis Zircon e Kalibr. Ela poderia no entanto propor sistemas Bastion e mísseis ar-ar Kh-59MK2, com um alcance de 550 km, operacionais em aviões Su-30.

Uma bateria do míssil costeiro terra-mar Bastion, usado pela Rússia, utiliza quatro lançadores de mísseis móveis P-800 Oniks. Este míssil tem uma massa de 3 toneladas, uma envergadura de 1,7 m e uma ogiva destrutiva de 250 kg. A propulsão é feita por um motor de cruzeiro "ramjet" (estato-reactor supersónico), similar ao do míssil Zircon. O alcance do míssil P-800 é de 350 a 600 km, a sua velocidade é de Mach 2,5 (700 m/s). Na trajectória, no limite de voo de cruzeiro de 14.000 m, o míssil é guiado por satélite. À aproximação do alvo, o P-800 fixa-se no alvo, desce até 10 m de altura e executa manobras de mudança de direcção.

Nesta situação, a Venezuela estaria à altura de fazer face ao grupo de um Corpo Expedicionário dos EUA que navegasse a sul das ilhas do Haiti e de Porto Rico. O erro provável na precisão do míssil Oniks P-800 é de 1,5 m, o que significa que o alvo é atingido a 100% no caso de um porta-aviões, de um porta-helicópteros, de um cruzador ou de um contratorpedeiro (destroyer), todos com um comprimento superior a 100 m.

A única possibilidade seria um bombardeamento coordenado da NATO (EUA, França, Países Baixos, Reino Unido) e de Estados latino-americanos (Brasil, Colômbia, Guiana) sobre alvos seleccionados. Neste caso, não se trataria de uma invasão mas, antes, da destruição de estruturas venezuelanas. 

04/Março/2019

Ver também: 

  en.wikipedia.org/wiki/National_Bolivarian_Armed_Forces_of_Venezuela

[*] Analista militar, romeno, antigo comandante-adjunto da base aérea militar de Otopeni.

O original encontra-se em https://www.voltairenet.org/article205410.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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