quinta-feira, 30 de maio de 2019

Conclusão de projeto de navio para Timor-Leste, atrasado em Portugal, custará mais 12,5 ME


Díli, 28 mai 2019 (Lusa) -- A construção em Portugal do navio Haksolok, destinado a Timor-Leste, que já está com três anos de atraso e a construção de dois pontões para a sua operação, vão custar mais 12,5 milhões de euros, segundo responsáveis timorenses.

Esse valor, explicaram responsáveis de Timor-Leste, soma-se a cerca de 16 milhões de dólares (14,3 milhões de euros) já pagos pelo projeto que continua sem data de conclusão prevista, afetado por problemas financeiros nas empresas envolvidas na construção, em Portugal.

Com capacidade para transportar 377 pessoas e 25 automóveis, para ligar Díli à ilha de Ataúro e ao enclave de Oé-Cusse Ambeno, em Timor-Leste, o processo de aquisição do navio começou em 2014 pelo Governo central timorense, passando depois para a Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA).



O ministro dos Transportes e Comunicação, José Agustinho da Silva, que esteve na semana passada em visita de trabalho a Portugal, disse aos jornalistas, na segunda-feira, que para concluir o projeto são necessários mais 14 milhões de dólares (12,5 milhões de euros), referindo que esse valor se aplicava apenas ao navio.

"O contrato com a empresa Igen Shipbuilding, de Portugal teve já uma alocação orçamental de 13 milhões, mas a construção ainda não terminou e por isso é preciso um orçamento adicional de 14 milhões de dólares para finalizar a construção do Haksolok", referiu.

O presidente da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), Mari Alkatiri, disse à Lusa que o valor de 14 milhões de dólares inclui não apenas o que falta no navio em si, mas também parte dos dois pontões (a um custo de três milhões cada) no enclave de Oecusse Ambeno e na ilha de Atáuro.

Segundo referiu, o gasto total de 16 milhões de dólares até ao momento inclui 70% do navio, já concluídos, 50% do pontão de Oecusse e a compra do aço para o pontão de Ataúro.

"A gestão da empresa (em Portugal) tem sido catastrófica e não foi capaz de corresponder às nossas expectativas. Mas também houve erros à partida", explicou.

"Continuamos a tentar resolver a questão. A partir do momento em que empresa consiga resolver os problemas internos, penso que teremos o navio concluído em 12 meses", afirmou.

Alkatiri disse que as auditorias feitas ao projeto mostram a elevada qualidade do navio e rejeita a tentativa de responsabilizar apenas a RAEOA pelos problemas do projeto.

"Isto começou com o Governo central. O contrato foi adjudicado pelo Governo em 2014, quando ainda nem sequer existia a RAEOA. Só depois foi transferido para a RAEOA", disse.

O contrato para a construção do ferryboat "Haksolok", foi assinado com a Atlanticeagle Shipbuilding em setembro de 2014. Os trabalhos arrancaram em 2015, mas estão parados há vários anos.

O projeto foi incluído numa auditoria da Câmara de Contas aos projetos do enclave de Oecusse-Ambeno em 2014 e 2015.

A data inicial de entrega era 30 de outubro de 2015, tendo a 22 de janeiro de 2016 sido feita uma adenda prorrogando o prazo até 15 de novembro desse ano, sendo que em agosto de 2016 o prazo foi novamente adiado para maio de 2017.

"No entanto, todos estes prazos foram largamente ultrapassados, uma vez que a entrega ainda não aconteceu até à data de elaboração deste Relatório de Auditoria", nota a Câmara de Contas.

Inicialmente, os atrasos deveram-se "às dificuldades sentidas pela empresa em apresentar a garantia necessária ao início da execução do contrato e a garantia para que pudesse receber o adiantamento".

Tais dificuldades levaram à alteração da forma das garantias a prestar, por via da celebração da adenda ao contrato, tendo as mesmas passado a ter a forma de seguros-caução. Não obstante, registaram-se atrasos não imputáveis à empresa que necessitam, ainda, de ser devidamente esclarecidos", refere o relatório.

Numa nota de esclarecimento, a RAEOA/ZEESM explicou no ano passado que para supervisionar a construção foi contratada a entidade portuguesa Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ) e "tudo foi feito no sentido de garantir o sucesso do projeto e a construção do Ferry Ro-Ro, respeitando os melhores standards internacionais".

Atualmente e "devido a problemas judiciais entre o Estaleiro Atlanticeagle e os seus subempreiteiros, que fragilizaram a situação financeira do Estaleiro, a construção encontra-se suspensa, permanecendo o ferry nos Estaleiros do Mondego".

"É importante sublinhar que os problemas entre o Estaleiro e os seus subempreiteiros são alheios à RAEOA-ZEESM TL, estando ainda assim a RAEOA-ZEESM TL numa postura proativa, a procurar soluções que desbloqueiem a situação e permitam a continuação da construção do Ferry Ro-Ro "Haksolok" com a qualidade e especificações desejadas, e em cumprimento das mais recentes convenções marítimas internacionais", disse.

A região tem atualmente em Portugal "mandatários judiciais com o objetivo de garantir a representação dos interesses do Estado de Timor-Leste e de encontrar soluções que permitam a conclusão do ferry, o mais rápido possível e consequentemente o seu serviço às populações".

ASP//MIM

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