Díli, 27 mai 2019 (Lusa) -
Pessoas seropositivas em Timor-Leste continuam a enfrentar estigma e
discriminação no seio das próprias famílias, do setor de saúde e da sociedade
em geral, incluindo casos de testes e esterilizações forçadas, segundo um
estudo.
O estudo, que pela primeira vez
analisou o estigma com que vivem portadores de VIH em Timor-Leste, nota o
impacto negativo da discriminação com que vivem, que incluem casos de abuso
físico e verbal.
Entre os problemas identificados,
o estudo refere testes de VIH sem consentimento ou conhecimento de pacientes,
dificuldades em acesso a medicação e serviços de saúde regulares.
Um dos problemas denunciados foi
igualmente o facto de funcionários dos serviços de saúde divulgarem
publicamente o estado de VIH de pacientes e de continuar a haver prevalência de
reações negativas quando a doença é revelada.
Liderado pela organização
Estrela+, de advocacia de pessoas portadoras do VIH em Timor-Leste, o estudo
contou com o apoio do Governo timorense, das Nações Unida e de outras
organizações da sociedade civil.
O estudo ouviu mais de 80 pessoas
que vivem com VIH em dez municípios e no enclave de Oecusse-Ambeno, padecendo
do vírus desde há um ano e até há 15 anos, representando assim "uma
proporção significativa" dos pacientes.
O objetivo era medir o Índice de
Estigma VIH, que foi desenvolvido pela Rede Global de Pessoas Positivas (GNP+)
como instrumento para analisar a discriminação que pessoas seropositivas
enfrentam em 90 países em todo o mundo.
Mais de um terço dos sondados
(40%) disse que um funcionário dos serviços de saúde tinha dado a conhecer o
seu estado de VIH a outras pessoas, sem o consentimento do paciente.
Quase 60% dos sondados dizem ter
sido forçados a ser testados ou ter sido testados sem o seu consentimento e
cinco por cento dizem que foram obrigados a esterilizar-se desde a confirmação
do diagnóstico.
O estudo indicia problemas na
gestão de gravidezes e na prevenção de transmissão entre mãe e criança, com
"respeito inconsistentemente pelos padrões internacionais e
recomendações" sobre o assunto em Timor-Leste.
A maioria das pessoas
entrevistadas disse estar atualmente com "boa" ou
"excelente" saúde, vivendo com condições sociais e económicas
idênticas às da restante população.
Falta de stock de medicamentos ou
medicamentos fora de prazo -- "apesar de Timor-Leste receber apoio
financeiro internacional para comprar medicamentos antirretrovirais" --
foi um dos aspetos denunciados pelos sondados.
Implementado pela primeira vez em
Timor-Leste, o "Índice de Estigma de VIH" permite comprovar que
vítimas da doença no país "continuam a enfrentar grandes desafios diários,
com discriminação na família, no setor da saúde e na sociedade em geral",
refere Frederico dos Santos, ex-responsável do programa de VIH/SIDA do Ministério
da Saúde.
O estudo nota que o primeiro caso
de VIH em Timor-Leste foi diagnosticado apenas em 2003, tendo o Ministério de
Saúde registado até ao final de 2017 um total de 725 pessoas seropositivas, das
quais apenas 287 com acesso a tratamento antirretroviral.
Apesar de fundos nacionais e
internacionais dedicados ao assunto, o estudo mostra que só cerca de 08 a 12 por cento das mulheres
e 15 a
20% dos homens tinha informação detalhada sobre prevenção do VIH.
Só 7% das mulheres e 26% dos
homens sabem onde podem ser testados e apenas 4% da população fez testes.
ASP // VM
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