Ex-Presidente guineense, Serifo
Nhamadjo, acusa Presidente "Jomav" de inventar crises e de ser o foco
de instabilidade. Juventude da coligação que forma maioria Parlamentar ameaça
empossar um novo primeiro-ministro.
Na Guiné-Bissau avizinham-se dias
sombrios para o país mergulhado na mais frustrante crise política de sempre
para o povo guineense. A coligação dos partidos que forma a maioria parlamentar
ameaça empossar um novo primeiro-ministro na quarta-feira (22.06.), na
sequência de uma manifestação de rua. À DW, o antigo Presidente guineense
acusa o atual de pretender levar o país à "explosão".
Manuel Serifo Nhamadjo, que foi
Presidente de Transição da Guiné-Bissau depois do golpe de Estado de 2012,
responsabilizou nesta segunda-feira (20.05) o atual Chefe de Estado
guineense, José Mário Vaz, pelo impasse que o país vive desde que lhe entregou
a chave da presidência do país. O Presidente, que termina o mandato no dia 23
de junho, ainda não convidou o partido vencedor, o PAIGC, para indicar o
nome do futuro primeiro-ministro, cuja tarefa será a formação do próximo
Governo e estabilizar o país.
"Jomav é responsável pela
crise"
Em entrevista à DW África, Serifo
Nhamadjo acusa o Presidente Mário Vaz de estar sempre a violar a Constituição
da República e de ser o pivô de toda a instabilidade governativa que a
Guiné-Bissau está a viver nos últimos 4 anos.
"Como garante da
estabilidade e do cumprimento das normas constitucionais, ele tem feito tudo
menos isto. A prova é que neste momento deveria ter convidado o partido que
ganhou as eleições para apresentar o candidato ao primeiro-ministro, mas não o fez
e já lá vão dois meses, com argumentos que não convencem a ninguém”, declarou
Nhamadjo à DW África a partir de Portugal onde se encontra em contatos com
a disporá guineense.
Para Serifo Nhamadjo que obteve
15,75% dos votos na primeira volta das presidenciais de 2012,(o pleito
eleitoral que viria a ser interrompido pelos militares), o Presidente
"Jomav" é contraditório nas suas afirmações públicas e desde que
chegou ao palácio só inventou crises.
Com os apelos e
pressões vindos de vários quadrantes, Nhamadjo não tem dúvidas que "o
Presidente José Mário Vaz não terá outro caminho se não convidar o partido
vencedor e resolver o problema do novo Executivo. E, a nível do Parlamento,
fazer os bons ofícios juntos dos líderes de forma a encontrar uma solução para
o impasse, caso contrário [José Mário Vaz] estará a complicar o sistema e a
fazer o trabalho fora da Constituição”, sublinhou.
Guiné-Bissau a beira de uma
explosão
Nhamadjo afirma que o Presidente
da Guiné-Bissau está a aumentar ingredientes que possam fazer o país explodir:
"Neste momento, tudo está em
aberto. Quanto mais se esticar a situação, terá mais extremar de posições e
aumentarão as frustrações. Está-se a aumentar ingredientes para uma
"explosão", porque o país não pode continuar como está com um impasse
que causa frustrações a todos os níveis”, afirma.
O político de 61 anos de idade
que já foi também vice e presidente interino do Parlamento da
Guiné-Bissau, em 2011, garante que vai concorrer às primárias do PAIGC para ser
o candidato do partido nas próximas presidenciais, ainda sem data marcada, mas
que eventualmente terão lugar em novembro deste ano. Nhamadjo acusa,
por outro lado, José Mário Vaz de não ser uma figura apaziguadora, dialogante
e de não ser capaz de unir os guineenses.
"A lei diz uma coisa e ele
faz interpretações de acordo com os seus interesses. Tenta sempre arranjar
argumentos que complicam a Governação e que criam a instabilidade política.
Infelizmente, ao longo do seu mandato, José Mário Vaz só serviu para inventar
crises e fazer parte do problema. Agora, não marcando a data das presidenciais
à espera que lhe digam o que deve fazer é mais uma nódoa negra no seu
mando”, acusa.
Povo vai empossar o seu
primeiro-ministro
Entretanto, as estruturas dos
partidos que formam a nova maioria Parlamentar, o Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Assembleia do Povo Unido – Partido
Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), União para a Mudança (UM) e Partido da
Nova Democracia (PND) preparam para a próxima quarta-feira (22.06.), uma
marcha, que segundo dizem, servirá para o povo empossar o novo
primeiro-ministro, como nos conta Dionísio Pereira, líder da Juventude Africana
Amílcar Cabral (JAAC), organizadora do protesto.
"Já chegamos ao limite com
mais de 68 dias sem o novo Governo... então não podemos esperar o
Presidente da República fazer o que quiser. Na democracia é o povo quem ordena,
se José Mário Vaz, não quer cumprir com a sua responsabilidade constitucional,
então o povo vai sair a rua, manifestar a sua indignação e empossar o seu
primeiro-ministro eleito”.
Num comunicado na posse da DW, os
quatro partidos que formam a nova maioria parlamentar referem também a sua
"absoluta indisponibilidade em negociar as leis da República” e a sua
"determinação intransigente em respeitar e fazer cumprir a Constituição”.
Mais de dois meses depois das
eleições a crise política agudizou-se e o país continua estagnado. A comunidade
internacional em peso tem apelado ao Presidente guineense para nomear um novo
primeiro-ministro, com base nos resultados eleitorais de março último.
Braima Darame | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário