quinta-feira, 2 de maio de 2019

Muitos austríacos desconhecem o básico sobre o Holocausto, afirma estudo


Maioria dos adultos austríacos não sabe que 6 milhões de judeus foram mortos no Holocausto, indica pesquisa. Ainda assim, diretora do memorial Yad Vashem vê progressos no país.

A maioria dos adultos da Áustria não sabe que 6 milhões de judeus foram mortos durante o Holocausto, afirma um estudo divulgado nesta quinta-feira (02/05).

"Estamos vendo tendências perturbadoras que indicam uma falta de conhecimento sobre o Holocausto", disse Julius Berman, presidente da Claims Conference, organização que trabalha desde 1951 pela compensação às vítimas do nazismo.

A pesquisa, encomendada pela associação judaica Jewish Claims Conference, foi divulgada em meio a um antissemitismo crescente, com movimentos de extrema direita ganhando apoio na Europa, inclusive na Áustria, que tradicionalmente minimiza o próprio papel no Holocausto e onde um partido populista de direita faz parte da coalizão de governo.



A pesquisa enfocou o conhecimento e a conscientização sobre o Holocausto, o papel da Áustria e sua anexação pela Alemanha nazista, bem como opiniões sobre o neonazismo e o antissemitismo e a educação sobre o Holocausto nas escolas.

O levantamento ouviu mil austríacos com mais de 18 anos entre os dias 22 de fevereiro e 1º de março de 2019.

Dos entrevistados, 87% disseram que, com certeza, já viram ou ouviram a palavra Holocausto, e 58% disseram que o Holocausto se refere ao extermínio do povo judeu.

Segundo 69%, o Holocausto ocorreu na Alemanha, e 62% identificaram a Áustria anexada e 48%, também a Polônia ocupada pelos nazistas como lugares onde o Holocausto ocorreu. 

Mais da metade dos consultados (56%) não sabia que 6 milhões de judeus foram mortos no Holocausto, e 10% disseram que cerca de 100 mil judeus foram mortos.

Dos entrevistados, 98% disseram estar familiarizados com o nome de Adolf Hitler, o chanceler da Alemanha nazista, mas apenas 51% disseram conhecer Adolf Eichmann, um austríaco que foi um dos principais organizadores do Holocausto.

E 21% não sabiam que Hitler nasceu na Áustria. Apenas 14% sabiam que Eichmann era austríaco.

O presidente da Jewish Claims Conference, Greg Schneider, disse à agência de notícias AP que resultados semelhantes são registrados em outros países, mas que o caso da Áustria chama a atenção por se tratar de um país onde o Holocausto ocorreu.

O principal campo de concentração nazista na Áustria ficava em Mauthausen, perto de Linz, mas 42% dos entrevistados disseram nunca terem ouvido falar nele.

Anexada pela Alemanha nazista em 1938, a Áustria foi vista como a "primeira vítima" dos nazistas logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. O rótulo foi usado até o fim do século 20, o que certamente dificultou a conscientização sobre o Holocausto no país.

Na pesquisa, 13% dos entrevistados disseram enxergar a Áustria apenas como perpetradora do Holocausto, 12% somente como vítima, e 68% disseram que o país foi tanto vítima como perpetrador.

O chefe do escritório de Jerusalém do Simon Wiesenthal Center, Efraim Zuroff, chamou a atenção para esses números, também em declarações à AP. "Diante do fato de que cerca de um terço dos criminosos mais culpados eram austríacos, isso diz muito sobre a distorção em relação ao Holocausto na Áustria e a relutância em assumir qualquer responsabilidade."

Já Richelle Budd Caplan, diretora do Departamento Europeu da Escola Internacional para Estudos do Holocausto do memorial Yad Vashem, disse ver aspectos positivos e negativos nos resultados do levantamento.

"Isso indica que houve um progresso e que os austríacos não se veem mais apenas como a 'primeira vítima'. Há 25 anos, essa teria sido a opinião pública dominante", disse Budd Caplan. "Por outro lado, ainda há muito por fazer para perceber as, digamos assim, boas-vindas da Áustria à Alemanha nazista em 1938 como um fato histórico."

Desde 1999, o Yad Vashem trabalha com autoridades educacionais austríacas para treinar professores na educação sobre o Holocausto.

Para Budd Caplan, a pesquisa ajuda a apontar áreas onde há falta de conhecimento, algo de que os educadores precisam estar cientes para enfrentar os desafios futuros. Ela ressaltou a importância de as gerações mais jovens expandir seu "conhecimento superficial" do Holocausto para aprender sobre a complexa situação que permitiu que ele ocorresse.

"É muito consistente essa percepção de que Adolf Hitler é o único responsável", disse. Embora afirme ser indiscutível o fato de que o líder nazista desempenhou um papel fundamental, ela indaga: "E o que dizer sobre a colaboração que continua? E sobre as partes da sociedade que estavam envolvidas?"

Ela disse que fazer com que os alunos entendam essas relações mais complexas, assim como aumentar sua familiaridade com outras figuras-chave do Holocausto, como Eichmann, é um desafio-chave para os educadores de hoje.

Budd Caplan vê positivamente o fato de os entrevistados acreditarem que mais esforços devem ser feitos para ensinar os estudantes sobre o Holocausto. Dos participantes, 76% disseram que a educação sobre o Holocausto deveria ser obrigatória nas escolas.

Cerca de 31% dos entrevistados disseram que algo como o Holocausto poderia acontecer na Áustria, e 58% disseram ver tal risco novamente em algum lugar da Europa.

Ao mesmo tempo, três em cada quatro entrevistados disseram ser importante continuar ensinando as pessoas sobre o Holocausto para impedir que algo assim se repita.

Cristina Burack (ip) | Deutsche Welle

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