Maioria dos adultos austríacos
não sabe que 6 milhões de judeus foram mortos no Holocausto, indica pesquisa.
Ainda assim, diretora do memorial Yad Vashem vê progressos no país.
A maioria dos adultos da Áustria
não sabe que 6 milhões de judeus foram mortos durante o Holocausto, afirma um
estudo divulgado nesta quinta-feira (02/05).
"Estamos vendo tendências
perturbadoras que indicam uma falta de conhecimento sobre o Holocausto",
disse Julius Berman, presidente da Claims Conference, organização que
trabalha desde 1951 pela compensação às vítimas do nazismo.
A pesquisa, encomendada pela
associação judaica Jewish Claims Conference, foi divulgada em meio a um
antissemitismo crescente, com movimentos de extrema direita ganhando apoio na
Europa, inclusive na Áustria, que tradicionalmente minimiza o
próprio papel no Holocausto e onde um partido populista de direita
faz parte da coalizão de governo.
A pesquisa enfocou o conhecimento
e a conscientização sobre o Holocausto, o papel da Áustria e sua anexação
pela Alemanha nazista, bem como opiniões sobre o neonazismo e o antissemitismo
e a educação sobre o Holocausto nas escolas.
O levantamento ouviu mil
austríacos com mais de 18 anos entre os dias 22 de fevereiro e 1º de março de
2019.
Dos entrevistados, 87% disseram
que, com certeza, já viram ou ouviram a palavra Holocausto, e 58% disseram que
o Holocausto se refere ao extermínio do povo judeu.
Segundo 69%, o Holocausto
ocorreu na Alemanha, e 62% identificaram a Áustria anexada e 48%, também a
Polônia ocupada pelos nazistas como lugares onde o Holocausto
ocorreu.
Mais da metade dos consultados
(56%) não sabia que 6 milhões de judeus foram mortos no Holocausto,
e 10% disseram que cerca de 100 mil judeus foram mortos.
Dos entrevistados, 98% disseram
estar familiarizados com o nome de Adolf Hitler, o chanceler da Alemanha
nazista, mas apenas 51% disseram conhecer Adolf Eichmann, um austríaco que foi
um dos principais organizadores do Holocausto.
E 21% não sabiam que Hitler
nasceu na Áustria. Apenas 14% sabiam que Eichmann era austríaco.
O presidente da Jewish Claims
Conference, Greg Schneider, disse à agência de notícias AP que resultados
semelhantes são registrados em outros países, mas que o caso da Áustria chama a
atenção por se tratar de um país onde o Holocausto ocorreu.
O principal campo de concentração
nazista na Áustria ficava em Mauthausen, perto de Linz, mas 42% dos
entrevistados disseram nunca terem ouvido falar nele.
Anexada pela Alemanha nazista em 1938, a Áustria foi vista
como a "primeira vítima" dos nazistas logo após o fim da Segunda
Guerra Mundial. O rótulo foi usado até o fim do século 20, o que
certamente dificultou a conscientização sobre o Holocausto no país.
Na pesquisa, 13% dos
entrevistados disseram enxergar a Áustria apenas como perpetradora do
Holocausto, 12% somente como vítima, e 68% disseram que o país foi
tanto vítima como perpetrador.
O chefe do escritório de
Jerusalém do Simon Wiesenthal Center, Efraim Zuroff, chamou a atenção para
esses números, também em declarações à AP. "Diante do fato de que
cerca de um terço dos criminosos mais culpados eram austríacos, isso diz muito
sobre a distorção em relação ao Holocausto na Áustria e a relutância em assumir
qualquer responsabilidade."
Já Richelle Budd Caplan, diretora
do Departamento Europeu da Escola Internacional para Estudos do Holocausto do
memorial Yad Vashem, disse ver aspectos positivos e negativos nos resultados do
levantamento.
"Isso indica que houve um
progresso e que os austríacos não se veem mais apenas como a 'primeira vítima'.
Há 25 anos, essa teria sido a opinião pública dominante", disse Budd
Caplan. "Por outro lado, ainda há muito por fazer para perceber as,
digamos assim, boas-vindas da Áustria à Alemanha nazista em 1938 como um fato
histórico."
Desde 1999, o Yad Vashem
trabalha com autoridades educacionais austríacas para treinar professores
na educação sobre o Holocausto.
Para Budd Caplan, a pesquisa
ajuda a apontar áreas onde há falta de conhecimento, algo de que os educadores
precisam estar cientes para enfrentar os desafios futuros. Ela ressaltou a
importância de as gerações mais jovens expandir seu "conhecimento
superficial" do Holocausto para aprender sobre a complexa situação que
permitiu que ele ocorresse.
"É muito consistente essa
percepção de que Adolf Hitler é o único responsável", disse. Embora afirme
ser indiscutível o fato de que o líder nazista desempenhou um papel
fundamental, ela indaga: "E o que dizer sobre a colaboração que continua?
E sobre as partes da sociedade que estavam envolvidas?"
Ela disse que fazer com que os
alunos entendam essas relações mais complexas, assim como aumentar sua
familiaridade com outras figuras-chave do Holocausto, como Eichmann, é um
desafio-chave para os educadores de hoje.
Budd Caplan vê positivamente o
fato de os entrevistados acreditarem que mais esforços devem ser feitos para
ensinar os estudantes sobre o Holocausto. Dos participantes, 76% disseram que a
educação sobre o Holocausto deveria ser obrigatória nas escolas.
Cerca de 31% dos entrevistados
disseram que algo como o Holocausto poderia acontecer na Áustria, e 58%
disseram ver tal risco novamente em algum lugar da Europa.
Ao mesmo tempo, três em
cada quatro entrevistados disseram ser importante continuar ensinando
as pessoas sobre o Holocausto para impedir que algo assim se repita.
Cristina Burack (ip) | Deutsche
Welle
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