Parlamentar de esquerda Andrej
Hunko se reuniu com venezuelano em Caracas. Ele disse que quis "expressar
solidariedade” ao povo venezuelano, mas políticos alemães de outras siglas
classificam encontro como "vergonhoso”.
Um encontro em Caracas entre um
deputado federal alemão e Nicolás Maduro provocou indignação entre políticos da
coalizão governista da Alemanha.
Andrej Hunko, filiado ao partido
Die Linke (A Esquerda), se reuniu com o líder venezuelano na última quarta-feira
(24/04) durante uma viagem de 11 dias à Venezuela.
Foi a primeira visita de um
parlamentar alemão desde que Berlim reconheceu o oposicionista Juan Guaído como
presidente do país latino-americano em detrimento da liderança de Maduro, que,
em resposta, expulsou o
embaixador alemão do país em março.
Após o encontro entre Hunko e
Maduro, Johann Wadephul, o vice-líder parlamentar da União
Democrata-Cristã (CDU) – o partido da chanceler federal Angela Merkel –
descreveu a reunião em Caracas como "escandalosa".
"Com esta visita, Hunko deu
um tapa na cara da população venezuelana oprimida e se tornou um fantoche
político de Maduro", disse Wadephul.
Já Nils Schmid, porta-voz para
assuntos de política externa do Partido Social-Democrata (SPD) – que também faz
parte da coalizão de governo – chamou a iniciativa de Hunko de
"vergonhosa". "É embaraçoso como o partido A Esquerda ainda
apoia um líder que destruiu a democracia na Venezuela e mergulhou o país na
ruína econômica."
O deputado Omid Nouripour, dos
Verdes – que não fazem parte do governo –, disse que Hunko se deixou usar como
"instrumento de propaganda” do regime venezuelano. "Maduro não é um
presidente de esquerda. Ele é um cleptocrata perverso que arruinou seu país e
seu povo”, disse.
Após o encontro com Maduro, Hunko
escreveu em sua conta Facebook que durante o encontro com o venezuelano, ele
expressou sua "solidariedade com o povo venezuelano contra as sanções
econômicas e ameaças de guerra". "Nós tivemos um longo intercâmbio de
ideias sobre a situação internacional, especialmente sobre a erosão do direito
internacional”, salientou.
A televisão estatal venezuelana
VTV cobriu a visita de Hunko ao Palácio de Miraflores. "Esta reunião
destaca o compromisso com o diálogo do presidente Maduro ", disse um
âncora de televisão estatal.
A cobertura mostrou Hunko e
Maduro trocando gracejos durante as boas-vindas. A conversa ocorreu como se
fosse uma visita oficial de um chefe de estado, diante das bandeiras dos dois
países.
O deputado alemão de esquerda
também se reuniu com Guaído e outros representantes da oposição. Neste
caso, ele disse "expressei minha convicção de que uma solução para a crise
só pode ser pacífica e com diálogo", escreveu Hunko.
Essa não é a primeira vez que
membros do partido de Hunko expressam simpatia por Maduro. O Die Linke (A
Esquerda) foi formado nos anos 2000 por remanescentes do antigo Partido
Socialista Unificado da Alemanha (SDE) – que governou a Alemanha Oriental por quatro
décadas – e uma antiga facção mais à esquerda do Partido Social-Democrata.
Em fevereiro, durante uma
convenção do partido em Bonn, vários filiados, entre eles três deputados,
interromperam o encontro para agitar bandeiras venezuelanas e exibir cartazes
que diziam "Tirem as mãos da Venezuela”, em referência às ações dos
Estados Unidos e da União Europeia para isolar o regime de Maduro. Alguns
deputados também parabenizaram o venezuelano pela vitória nas eleições
presidenciais de 2018, que não foram reconhecidas pela maior parte da
comunidade internacional.
Em 2015, Hunko já havia provocado
controvérsia no meio político alemão ao viajar para o leste da Ucrânia. Na
ocasião, ele se encontrou com o líder separatista Alexander Zakharchenko, que
travava uma guerra contra o governo ucraniano com apoio da Rússia. O
episódio provocou ainda críticas de Kiev, que baniu Hunko de visitar a Ucrânia.
Mas Hunko também único deputado
alemão que já se envolveu em viagens controversas.
Em 2018, seis deputados do
partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) viajaram
a Damasco, onde se encontraram com o grão-mufti da Síria e representantes
do governo do ditador Bashar al-Assad, que desde 2011 trava uma sangrenta
guerra civil contra forças rebeldes e foi repetidamente acusado de usar armas
químicas contra a população civil. À época, a viagem foi criticada pelo porta-voz
do governo Merkel e classificada como “repulsiva” por políticos de outros
partidos.
JPS/ots | Deutsche Welle
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