Ao afirmar que o Vox (Espanha) não é um
partido de extrema-direita, sugerindo inclusive a leitura do seu programa, Nuno
Melo deu um precioso contributo para desmascarar a verdadeira ideologia do
CDS-PP.
AbrilAbril | editorial
O candidato dos centristas ao
Parlamento Europeu referiu-se este sábado à formação de extrema-direita
liderada por Santiago Abascal como «uma deriva do PP», «um partido de direita»,
«talvez à direita do CDS-PP em Portugal, mas é um partido de direita».
Caracterizava assim Nuno Melo o
movimento fascista que Abascal definiu como «único instrumento que pode
garantir a unidade de Espanha, atacada por comunistas e socialistas», e que se
apresentou às eleições deste domingo com um programa repressivo.
Acabar com as regiões autónomas,
deportar imigrantes, ilegalizar partidos, associações ou outras organizações
que ameacem a «unidade territorial da Nação e a sua soberania», pôr fim à lei
da memória histórica, ilegalizar o aborto e estabelecer a xenofobia e a
islamofobia são apenas algumas das radicais medidas apresentadas pelo partido
que ontem conseguiu eleger 24 deputados.
Nuno Melo entende que o Vox pode
vir a fazer parte do Partido Popular Europeu, onde se integram CDS-PP e
PSD. Afinal de contas, esta «família europeia» também já aceitou o Fidesz
de Viktor Orbán, que agora pôs de castigo.
Mas a cereja em cima do bolo veio
com a recomendação de leitura do programa do Vox, onde encontramos propostas
que os centristas gostariam de implementar, como o cheque escola, partilhando
aqui o argumento da «liberdade de escolha» das famílias; ou que já implementaram,
designadamente a «reforma administrativa», com o Vox a propor sem rodeios a
fusão de municípios e a redução do número de eleitos locais.
Apesar de ter sido cunhada por
Miguel Relvas (PSD), foi no anterior governo que, à revelia da vontade manifestada
pelos eleitos e pelas populações, se avançou com a extinção de 1168
freguesias, entre outras medidas antidemocráticas que tanto em
Portugal como na Europa abriram caminho aos populismos e à
extrema-direita.
A candura vertida nos últimos
cartazes de campanha do CDS-PP, com Nuno Melo, Assunção Cristas e Mota Soares,
não é inocente. Mas nem sempre uma boa campanha de comunicação consegue turvar
os olhos da memória.
*Foto: Hugo Delgado / Lusa
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