O martírio do povo palestiniano
dura há 71 anos, e está longe de ter terminado. Os falcões da guerra estão ao
ataque. Os governos dos EUA e Israel rasgam ostensivamente todos os acordos, as
resoluções da ONU, a legalidade internacional. No Médio Oriente, o Irão é
anunciado como novo alvo de uma política assassina que ameaça arrastar todo o
mundo a uma monstruosa catástrofe.
Nos 71 anos da Nakba, a limpeza
étnica que acompanhou a criação do Estado de Israel, adensam-se nuvens negras
sobre a Palestina, o Irão, e não só. Os falcões da guerra estão ao ataque. Os
governos dos EUA e Israel rasgam ostensivamente todos os acordos, as resoluções
da ONU, a legalidade internacional. Os EUA deitaram para o caixote do lixo o
Acordo Nuclear (multilateral) com o Irão, reconheceram Jerusalém como capital
de Israel e a anexação israelita dos Montes Golã sírios, cortaram os
financiamentos à UNRWA, a Agência da ONU para os milhões de refugiados
palestinos. Israel bombardeia sistematicamente território sírio e a Faixa de
Gaza e massacra manifestantes indefesos. Netanyahu anuncia a anexação formal
dos ilegais colonatos israelitas nos territórios palestinos ocupados.
Um colunista do Financial Times
(D. Gardner, 8.5.19) diz que «os EUA estão numa ulterior escalada» contra o
Irão e «substituíram um dos raros trunfos da diplomacia por um detonador, numa
das mais inflamáveis regiões do planeta». O embargo já montado contra Cuba, a
Venezuela e a Faixa de Gaza, com consequências dramáticas, está agora a ser
estendido ao Irão «com o objectivo declarado de reduzir a zero as exportações
petrolíferas iranianas e fazer colapsar a sua economia». Um ano após os EUA
rasgarem o acordo nuclear, «o Irão tem honrado o acordo, apesar do Sr. Trump
ter reimposto sanções e ameaçado aliados, além de adversários, que não cessem
os seus negócios com o Irão». A UE geme, mas submete-se. Os EUA e seus aliados
preparam também um salto qualitativo para destruir as promessas de criação dum
Estado Palestiniano soberano, consagradas em décadas de resoluções da ONU. Mas
a UE só encontra firmeza para condenar os palestinianos de Gaza, cercados,
massacrados e bombardeados.
Devemos estar preparados para
provocações. Os tambores de guerra são acompanhados por avalanches de mentiras.
Oficiais e gabadas. Falando no dia 15 de Abril na Universidade texana A &
M, o ex-Director da CIA e actual MNE dos EUA, Pompeo, afirmou, para gáudio e
aplausos da assistência: «Qual era a palavra de ordem dos cadetes [na Academia
Militar] de West Point? Não mentirás, não vigarizarás [cheat], não roubarás
[…]. Eu fui director da CIA. Nós mentíamos, vigarizávamos, roubávamos. Fazíamos
cursos inteiros de formação [nisso]». E rematava, com ar mais sério: «Isto
faz-nos pensar na glória da experiência americana»(!). Palavras para quê? A
comunicação social de regime não difundiu, mas o vídeo está disponível na
Internet. Deveria ser visto após cada peça dos telejornais sobre a Venezuela.
Pompeo acrescentou a sua visão do
cargo que desempenha hoje: «Diplomacia e ataques [strikes] militares vão de
mãos dadas». Mote repetido à CNN (23.4.19) pelo Embaixador dos EUA na Rússia, a
bordo de um porta-aviões dos EUA no Mediterrâneo e falando para a segunda
potência nuclear do planeta: «quando temos 200 000 toneladas de diplomacia a
cruzar o Mediterrâneo – isto é o que eu chamo diplomacia […] – não é preciso
dizer mais nada». A bazófia belicista foi pronunciada poucos dias antes do aniversário
da Vitória na II Guerra Mundial, que custou o sacrifício de mais de 20 milhões
de soviéticos. O imperialismo sempre teve a guerra como companheira natural.
Mas o imperialismo em decadência parece querer arrastar tudo consigo.
*Este artigo foi publicado no
“Avante!” nº 2372, 16.05.2019
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