segunda-feira, 6 de maio de 2019

Portugal | "Mentira", "encenação" e recuo. A crónica de uma breve crise política


Assunção Cristas e Rui Rio foram obrigados a esclarecer, no domingo, qual a sua posição face ao diploma dos professores. A líder do CDS teceu pesadas críticas ao primeiro-ministro, acusando-o de “mentir descaradamente”. Já Rui Rio foi menos forte nos adjetivos, mas não menos assertivo no discurso. Ambos garantiram que chumbarão o diploma se as alterações por si propostas não forem aprovadas.

A crise política que se instalou na passada quinta-feira, após a votação na especialidade na Comissão de Educação que aprovou o descongelamento integral do tempo de carreira dos professores, parece aproximar-se do fim.

Depois de vários dias de troca de acusações entre os líderes dos principais partidos e o primeiro-ministro, eis que Assunção Cristas e Rui Rio decidiram recuar.

Primeiro foi a líder do CDS que, numa carta enviada aos centristas e depois em declarações feitas a partir de Bruxelas, reiterou a “mentira” contada por António Costa que levou a uma “desinformação” de todos os portugueses.



"Aquilo que o senhor primeiro-ministro fez foi vergonhoso. Vergonhoso. Próprio de alguém que pode ter muita habilidade, mas nenhum sentido de Estado. Mentiu descaradamente a todos os portugueses quando afirmou que o CDS tinha contribuído para carregar sobre as contas públicas”, acusou a líder centrista.

Cristas voltou a frisar, como fez ao longo do fim de semana, que os deputados do CDS só votarão a favor, na votação final do diploma dos professores, se forem aceites as condições do partido.
“O CDS fará uma votação que nunca fez até agora, que é uma votação final global, porque essa ainda não existiu. O que nós votámos na especialidade foram os dois pontos relacionados com a nossa proposta: o tempo que deve ser considerado e a forma, as condições para considerar esse tempo, uma parte gerou um consenso mais alargado, a outra parte não gerou consenso”
Discurso semelhante teve o presidente do Partido Social-Democrata.

Numa conferência de imprensa agendada para ontem à tarde no Porto e sem direito a perguntas, Rui Rio garantiu que a orientação do partido na votação final do diploma será a de reprovação caso o “Governo e o PS persistam na recusa da salvaguarda” defendida pelo PSD.

"O travão financeiro, que a proposta do PSD contém para evitar o papão da orgia orçamental com que o Governo hipocritamente acena, foi reprovado com os votos irresponsáveis dos deputados do PS.Vamos propor no plenário a inclusão das propostas de salvaguarda que fizemos na comissão e que o PS incoerentemente rejeitou", disse o ex-autarca, atirando para as “mãos do Governo” a decisão de “cumprir a legislatura ou criar a instabilidade gratuita, fugindo às responsabilidades com base em argumentos inexistentes".

Segundo Rui Rio, as “condicionantes financeiras e orçamentais que o primeiro-ministro acusa de não estarem garantidas só não estão porque o PS votou contra elas" e deixou claro que “para o PSD e para mim é condição inegociável o equilíbrio das finanças públicas".

Para Rui Rui, os últimos dias ficaram marcados por uma “lamentável encenação” de António Costa que quis “fazer crer que o país estava na iminência de sofrer um cataclismo político-orçamental" por causa de um "documento que ainda nem sequer estava finalizado e, muito menos, votado".
“Quis fabricar um caso político de vitimização para enganar os portugueses. Um número de ilusionismo eleitoral para atacar o PSD, tentando criar a falsa ideia de que estamos a aprovar medidas que empurrariam o país para uma orgia orçamental”
Ainda a este respeito, o social-democrata Luís Marques Mendes afirmou, no seu comentário semanal na antena da SIC, que o que “ficou para a história” foi uma “crise de fim de semana”, resumida em poucas palavras: “António Costa bateu o pé, ameaçou demitir-se, dramatizou, PSD e CDS foram obrigados a recuar, e ele pôs ordem na casa e terminou a crise”.

O comentador elogiou o primeiro-ministro que "teve um discurso responsável, teve uma parte de taticismo, em que foi inteligente, e teve alguma dose de oportunismo político” e este “oportunismo”, indicou, surgiu numa altura em que o PS estava em maus-lençóis.
“Costa estava com dificuldades nas Europeias, com a Geringonça por causa da Lei de Bases da Saúde, com problemas de imagem no Governo, a cair nas sondagens, ou seja, estava à defesa. E encontrou aqui uma oportunidade para passar ao ataque", explicou, acusando Assunção Cristas e Rui Rio de terem dado, de “mão-beijada, esta oportunidade a Costa de fazer o tal teatro”.
Mais tarde, a partir de Campo Maior, em Portalegre, o primeiro-ministro dirigiu-se aos líderes do PSD e do CDS dizendo que “se votaram sem saber o que estavam a votar têm uma solução muito simples: quando a votação chegar ao plenário votem contra e emendem o erro que cometeram votando o que não sabiam que estavam a votar".

"Agora não queiram enganar nem os portugueses, nem os professores, porque virem falar de travões e condicionantes é confessarem aquilo que verdadeiramente era o seu projeto, uma mão cheia de nada para os professores e uma enorme conta calada para todos os portugueses terem de pagar", atirou.

Por fim, quem também se pronunciou este domingo sobre a celeuma do momento foi o líder da Fenprof, Mário Nogueira. O sindicalista realçou que falta "conhecer o texto final a aprovar em sessão plenária". Ainda assim, não poupou  críticas ao Governo, a quem acusa de ter levado a cabo uma "farsa negocial" no último ano e meio.

O líder da Fenprof constatou ainda que esta sequência de reações políticas em torno da contagem do tempo de serviço congelado dos professores “vem provar que de facto os professores são um grupo profissional extremamente importante neste país, sobretudo quando se trata de eleições”.

Patrícia Martins Carvalho | Notícias ao Minuto | Foto Global Imagens

Sem comentários:

Mais lidas da semana