Assunção Cristas e Rui Rio foram
obrigados a esclarecer, no domingo, qual a sua posição face ao diploma dos
professores. A líder do CDS teceu pesadas críticas ao primeiro-ministro,
acusando-o de “mentir descaradamente”. Já Rui Rio foi menos forte nos
adjetivos, mas não menos assertivo no discurso. Ambos garantiram que chumbarão
o diploma se as alterações por si propostas não forem aprovadas.
A crise política que se instalou
na passada quinta-feira, após a votação na especialidade na Comissão de
Educação que aprovou o descongelamento integral do tempo de carreira dos
professores, parece aproximar-se do fim.
Depois de vários dias de troca
de acusações entre os líderes dos principais partidos e o primeiro-ministro,
eis que Assunção Cristas e Rui Rio decidiram recuar.
Primeiro foi a líder do CDS que, numa carta enviada aos centristas e depois em declarações feitas a partir de Bruxelas, reiterou a “mentira” contada
por António Costa que levou a uma “desinformação” de todos os
portugueses.
"Aquilo que o senhor
primeiro-ministro fez foi vergonhoso. Vergonhoso. Próprio de alguém que
pode ter muita habilidade, mas nenhum sentido de Estado. Mentiu
descaradamente a todos os portugueses quando afirmou que o CDS tinha
contribuído para carregar sobre as contas públicas”, acusou a líder centrista.
Cristas voltou a frisar, como fez
ao longo do fim de semana, que os deputados do CDS só votarão a favor, na
votação final do diploma dos professores, se forem aceites as condições do
partido.
“O CDS fará uma votação que nunca fez até agora, que é uma votação final global, porque essa ainda não existiu. O que nós votámos na especialidade foram os dois pontos relacionados com a nossa proposta: o tempo que deve ser considerado e a forma, as condições para considerar esse tempo, uma parte gerou um consenso mais alargado, a outra parte não gerou consenso”
Discurso semelhante teve o
presidente do Partido Social-Democrata.
Numa conferência de imprensa
agendada para ontem à tarde no Porto e sem direito a perguntas, Rui Rio
garantiu que a orientação do partido na votação final do diploma será a de
reprovação caso o “Governo e o PS persistam na recusa da salvaguarda” defendida
pelo PSD.
"O travão financeiro, que a
proposta do PSD contém para evitar o papão da orgia orçamental com
que o Governo hipocritamente acena, foi reprovado com os
votos irresponsáveis dos deputados do PS.Vamos propor no plenário a
inclusão das propostas de salvaguarda que fizemos na comissão e que o PS
incoerentemente rejeitou", disse o ex-autarca, atirando para as “mãos do
Governo” a decisão de “cumprir a legislatura ou criar a instabilidade
gratuita, fugindo às responsabilidades com base em argumentos
inexistentes".
Segundo Rui Rio, as “condicionantes
financeiras e orçamentais que o primeiro-ministro acusa de não estarem
garantidas só não estão porque o PS votou contra elas" e
deixou claro que “para o PSD e para mim é condição
inegociável o equilíbrio das finanças públicas".
Para Rui Rui, os últimos dias
ficaram marcados por uma “lamentável encenação” de António Costa que
quis “fazer crer que o país estava na iminência de sofrer um cataclismo
político-orçamental" por causa de um "documento que ainda nem
sequer estava finalizado e, muito menos, votado".
“Quis fabricar um caso político de vitimização para enganar os portugueses. Um número de ilusionismo eleitoral para atacar o PSD, tentando criar a falsa ideia de que estamos a aprovar medidas que empurrariam o país para uma orgia orçamental”
Ainda a este respeito, o
social-democrata Luís Marques Mendes afirmou, no seu comentário semanal na antena da SIC, que o que “ficou
para a história” foi uma “crise de fim de semana”, resumida em poucas palavras: “António
Costa bateu o pé, ameaçou demitir-se,
dramatizou, PSD e CDS foram obrigados a recuar, e ele pôs
ordem na casa e terminou a crise”.
O comentador elogiou o
primeiro-ministro que "teve um discurso responsável, teve uma parte
de taticismo, em que foi inteligente, e teve alguma dose de oportunismo
político” e este “oportunismo”, indicou, surgiu numa altura em que o PS estava
em maus-lençóis.
“Costa estava com dificuldades nas Europeias, com a Geringonça por causa da Lei de Bases da Saúde, com problemas de imagem no Governo, a cair nas sondagens, ou seja, estava à defesa. E encontrou aqui uma oportunidade para passar ao ataque", explicou, acusando Assunção Cristas e Rui Rio de terem dado, de “mão-beijada, esta oportunidade a Costa de fazer o tal teatro”.
Mais tarde, a partir de Campo Maior, em Portalegre, o primeiro-ministro
dirigiu-se aos líderes do PSD e do CDS dizendo que “se votaram sem saber o que
estavam a votar têm uma solução muito simples: quando a votação chegar ao
plenário votem contra e emendem o erro que cometeram votando o que não sabiam
que estavam a votar".
"Agora não queiram enganar
nem os portugueses, nem os professores, porque virem falar de travões e
condicionantes é confessarem aquilo que verdadeiramente era o seu projeto,
uma mão cheia de nada para os professores e uma enorme conta calada para todos
os portugueses terem de pagar", atirou.
Por fim, quem também se
pronunciou este domingo sobre a celeuma do momento foi o líder da Fenprof, Mário Nogueira. O sindicalista realçou
que falta "conhecer o texto final a aprovar em sessão plenária".
Ainda assim, não poupou críticas ao Governo, a quem acusa de ter levado a
cabo uma "farsa negocial" no último ano e meio.
O líder da
Fenprof constatou ainda que esta sequência de reações políticas em torno
da contagem do tempo de serviço congelado dos professores “vem provar
que de facto os professores são um grupo profissional extremamente
importante neste país, sobretudo quando se trata de eleições”.
Patrícia Martins Carvalho | Notícias
ao Minuto | Foto Global Imagens
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