A renúncia da líder
social-democrata aumenta a probabilidade de uma nova eleição e pode precipitar
o fim da era Merkel. Os dois maiores e tradicionais partidos da Alemanha estão
em xeque, opina Ines Pohl.
Os resultados das eleições
europeias desencadearam um terremoto na política alemã. O efeito, devastador,
está ficando agora visível. O anúncio da saída da líder do Partido
Social-Democrata (SPD), Andrea
Nahles, é muito mais do que um problema interno dos social-democratas
alemães.
É também um símbolo do estado em
que se encontram o SPD e a União Democrata Cristã (CDU), partido de Angela
Merkel. Estes são os dois maiores partidos desde a fundação da República
Federal da Alemanha e se alternam, desde então, no poder no país em diferentes
coligações.
Ambas as partes carecem
atualmente do que necessitariam para assumirem a verdadeira responsabilidade de
liderança na Alemanha – tanto no nível de programa político como em
termos de pessoal.
Em primeiro lugar, a CDU: desde
que Angela Merkel desistiu da presidência do partido – forçada pelo mau
desempenho nas eleições estaduais – as batalhas internas entre diferentes alas
deixaram de poder ser controladas. A nova líder do partido e potencial
sucessora de Merkel é uma figura mais do que infeliz.
O flerte de Annegret
Kramp-Karrenbauer com a ala mais à direita da CDU durante a campanha eleitoral
europeia não rendeu nada ao partido, pelo contrário. E ainda mais grave foi a
disfunção de comunicação desencadeada por sua crítica a um Youtuber
autor de um vídeo viral criticando os conservadores.
Também neste caso, a tentativa de
mostrar dureza, apelando a uma regulamentação mais rigorosa da internet, saiu
pela culatra. Aranhada está não apenas a imagem de Kramp-Karrenbauer, mas de todo
o partido. Ele parece velho, desgastado e tudo, menos preparado para o futuro.
Para o SPD, a situação é ainda
mais complicada. Ele é o parceiro da chamada "grande coligação" há
seis anos e não conseguiu opor-se às ações habilidosas da chanceler. Quer se
trate do salário mínimo ou do cuidado de crianças, Angela Merkel sempre foi
aquela que conseguiu obter os ganhos políticos em praticamente todas as
reformas impulsionadas pelo SPD.
Os social-democratas não
conseguiram responder ao problema fundamental de encontrar um lugar num cenário
partidário alemão em que uma CDU mais liberal capitaliza com muitos temas que
eram historicamente do SPD. Em vez disso, os social-democratas tiveram disputas
entre alas partidárias e trocaram seus líderes.
Agora a líder do SPD vai
renunciar. Com isso, tudo é possível. O SPD atingiu um ponto tão baixo que
muitas vozes dentro da legenda simplesmente querem acabar com esse horror
chamado de "grande coligação", seja qual for o preço.
Isso é perigoso. E se as eleições
antecipadas para o Parlamento se realizarem ainda neste ano? Nem a CDU e nem a
CSU possuem atualmente lideranças políticas convincentes. Nenhum dos partidos
tem um programa eleitoral que ofereça respostas às preocupações atuais dos
cidadãos. O tema da proteção do clima é apenas um, ainda que esteja bastante em
voga neste momento.
Atualmente, a Alemanha está
firme em terreno democrático. E mesmo em caso de novas eleições, não
haveria perigo de que os populistas de direita cheguem ao poder. Essa é a boa
notícia vinda da Alemanha nestes tempos turbulentos.
No entanto, levando em conta a
importância que a Alemanha desempenha na atual situação mundial, nem as
batalhas internas nem as intrigas político-partidárias podem antecipar o que
acontecerá nos próximos dias.
Tanto o SPD como a CDU fariam bem
em tomar um tempo para si agora. Sem pressa, o objetivo deve ser tirar as
conclusões certas. A médio prazo, a Alemanha só permanecerá politicamente
estável e, nesse sentido, previsível para seus parceiros internacionais, se os atores
atuais pensarem na política do futuro – e não na preservação do poder de
hoje.
Ines Pohl* | Deutsche Welle |
opinião
*Ines Pohl é editora-chefe da
Deutsche Welle
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