Colocar utentes contra
trabalhadores é o mote da velha táctica para promover retrocessos em
direitos conquistados. Dividir aqueles que beneficiam desses direitos,
para reinar.
AbrilAbril | editorial
Helena Garrido, no seu habitual
comentário na Antena 1, veio invocar, entre outras ideias, que o problema
vivido hoje no sector do transporte público decorre da falta de investimento
por parte do Governo, que, veja-se, preferiu descongelar salários e carreiras.
Trata-se de uma tese em difusão,
tentando demonstrar que a única «opção» passa por melhorar serviços ou repor
direitos e rendimentos. É a velha táctica anti-progresso: colocar utentes dos
serviços públicos contra os trabalhadores, que são as peças fundamentais para o
funcionamento desses mesmos serviços públicos.
Um argumentário que procura pôr
em causa o novo passe social, que, segundo a economista, só deveria ter sido
feito se se tivesse acautelado o aumento da procura, uma tese alimentada e
apadrinhada pela direita, nomeadamente por Rui Rio. Trata-se, não de uma
preocupação com os utentes ou com a melhoria dos transportes, mas sim com
o facto de se ter conquistado mais justiça na mobilidade ao mesmo
tempo que foi possível repor rendimentos.
Prossegue o ajuste de contas dos
inconformados com as conquistas positivas para as populações decorrentes da
actual solução política.
Fazem-no a partir das limitações
a que o próprio Governo votou o desenvolvimento da sua política, preferindo a
obsessão com o défice zero, ao invés de resolver problemas do País identificados
há muito.
O que «esquecem» as «Helenas
Garridos» é que essa não é única opção do País. É possível olhar para outras
opções, nomeadamente a possibilidade de libertar verbas orçamentais que hoje se
reconduzem para juros da dívida e colocá-las ao serviço quer da melhoria das
funções sociais do Estado – entre elas o transporte público –, quer para
valorizar os seus trabalhadores.
Esta é a discussão que a
realidade impõe. Aliás, Ricardo Cabral dizia também hoje ao Público que
«a não ocorrer uma reestruturação de dívida a economia portuguesa ficará
"no fio da navalha"».
O que não pode ser opção é a
soberania do País ficar para segundo plano.
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