O atual deputado do MPLA N'zau
Puna vai lançar o livro "Mal Me Querem" em que fala sobre os
combatentes pela liberdade. Em entrevista à DW África também falou também sobre
o momento atual de Angola e Jonas Savimbi.
O nacionalista angolano e atual
deputado do MPLA, o partido no poder em Angola, N'zau Puna revelou que a
"UNITA pediu apoio ao regime da África do Sul quando foi abandonada por
todos os países”.
Em entrevista exclusiva a DW
África, em véspera do lançamento do seu livro em Portugal, também falou sobre
corrupção, caso Cabinda, José Eduardo dos Santos e a governação de João
Lourenço.
A conversou com Miguel Maria
N'zau Puna na sua residência em Luanda começou em torno do seu mais
recente livro intitulado "Mal Me Querem”, a ser lançado, na próxima
quarta-feira (26.06.), em Portugal.
O ex-militante da UNITA, o maior
partido da oposição em Angola, e atual deputado da Assembleia Nacional
pelo MPLA começou por explicar o tema do livro. "Aborda a trajetória de um
combatente da liberdade, nós que lutamos que fizemos a guerra de libertação
nacional. Portanto, contamos factos”.
África do Sul e Jonas Savimbi
E um destes factos é a ligação
que a UNITA de Jonas
Savimbi manteve com o regime sul-africano. "Participei em quase
todas as comunicações e não posso negar. Pedi a África do Sul para vir,
também fiz parte da delegação para poder nos apoiar quando fomos abandonados
por todos, pelos americanos e pelos próprios sul-africanos e outros países que
nos apoiavam", conta Puna.
Não esconde admiração que nutre
por Jonas Savimbi e a posição que este tomava, em plena reunião, na África do
sul, para exigir a libertação de Nelson Mandela: "E ele dizia: É a minha
visão, África
do Sul não tem outra saída se não a libertação de Mandela. Ele disse
isso várias vezes porque era muitas vezes convidado pelos sul-africanos,
Conselho de Segurança da África do Sul, composto por brancos apenas, para
fazer palestras. E era aplaudido. Ele fazia uma análise sobre o que via para o
futuro da África austral".
A direção da UNITA e a família de
Jonas Savimbi esperaram mais de 17 anos para o inicio do processo do seu
funeral condigno que começou depois de um encontro realizado em em 2018 entre o
Presidente angolano João Lourenço e o líder da UNITA Isaías Samakuva. N'zau
Puna não tem dúvidas, a iniciativa presidencial é um "sinal de
reconciliação nacional”.
"O Presidente deu
autorização para a exumação de Savimbi, já o fez com Ben Ben, são coisas
que podem criar uma verdadeira reconciliação entre os angolanos, é um sinal de
aproximação dos angolanos. Era um problema levantado constantemente, agora
já não”, diz.
Os restos mortais de Jonas
Savimbi desceram a sepultura de Lopitanga, a 1 de Junho de 2019. N'zau Puna
revela que teve de pedir autorização ao líder do partido no poder, João
Lourenço, para participar na cerimónia de exumação do seu amigo, com quem
esteve mais de 30 anos, 24 dos quais como secretário-geral da UNITA.
"Quando a direção da UNITA e
a família me pediram para ir as exéquias eu pedi autorização porque já não sou
da UNITA, sou do MPLA e tive que pedir autorização ao presidente do partido. E
fui, para surpresa de alguns e animação de muitos”, conta Puna.
Também falou sobre o
ex-Presidente José Eduardo dos Santos que governou Angola de 1979 a 2017. Ele entende que
não devia ser hostilizado, embora reconheça que deixou o país mergulhado numa
crise económica e financeira e num índice de corrupção galopante. Explica que o
núcleo radical do MPLA muitas vezes influenciou negativamente o antigo
estadista na tomada de algumas decisões.
E N´zau Puna não é tão severo com
o ex-Presidente: "Eduardo dos Santos cumpriu a missão dele. Conseguiu
a paz do seu jeito e está onde está. Portanto, eu penso que ele não devia ser
hostilizado”.
Momento atual
Em relação a atual governação,
Puna louva a iniciativa da luta contra a corrupção e
a impunidade, cavalo de batalha do seu partido e do Presidente João Lourenço,
mas critica a "justiça seletiva”.
"É uma boa iniciativa. É uma
outra visão que está a dar a comunidade internacional sobre aquilo que Angola é
efetivamente. Ou começamos uma coisa e andamos, ou começamos e paramos. E isso
significa derrota. Tem que se ir para frente. E a corrupção tem de ser feita,
não de forma seletiva. Todo que é corrupto deve ser chamado”, entende.
Admite, no entanto, que a nova
governação está a contribuir para o processo democrático em curso em Angola:
"Atualmente há mais respeito pelos direitos e liberdades”.
"Com o novo Presidente há
mais abertura porque hoje as pessoas já falam. Antigamente quem é que podia
falar? Só os mais corajosos, mas toda gente tinha medo de falar. Também há uma
certa abertura democrática”, diz Puna.
Sobre o caso Cabinda, o deputado
do MPLA, partido no poder, apresenta um caminho que pode ser adotado pelo
Governo para se encontrar uma solução para o enclave angolano.
"O Governo se quer encontrar
uma solução, tem de reunir os cabindas todos internamente. Se não o Governo
fará sempre disso uma questão de negócio”.
N'zau Puna pede respeito aos que
chama de "combatentes da liberdade” e quer ser recordado como um homem que
lutou para o alcance da liberdade, da paz e da justiça em Angola.
Manuel Luamba | Deutsche Welle
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