A ONU e a OIM denunciaram as
"terríveis" condições nos centros de detenção de migrantes na Líbia e
exortaram a União Europeia a adotar medidas urgentes, incluindo para os civis
deslocados pela guerra civil no país.
"Estamos profundamente
preocupados pelas terríveis condições em que estão detidos na Líbia os
migrantes e os refugiados", declarou em conferência de imprensa em Genebra
esta sexta-feira (07.06.) Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado da
ONU para os direitos humanos (ACDH). "Cerca de 22 pessoas morreram
desde setembro passado na sequência de tuberculose e outras doenças no centro
de detenção de Zintan", acrescentou.
Segundo o porta-voz, 60 pessoas
que sofriam de tuberculose foram encerradas num hangar, um verdadeiro
"inferno", como referiu. Outras 30 pessoas, todas cristãs, e com a
mesma doença, foram transferidas para o centro de Gharyan, perto da linha da
frente. Centenas sobrevivem ainda com rações alimentares mínimas.
"Maior urgência nas
respostas"
Em paralelo, o responsável da
agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, e o diretor-geral da
Organização Internacional para as Migrações (OIM), António Vitorino, mantiveram
conversações com os ministros do Interior da UE e apelaram a "uma maior
urgência nas respostas" aos atuais desafios.
"A Líbia não é um lugar
seguro para desembarques atendendo às condições de detenção nos centros para
onde são transferidas as pessoas. É necessário mais apoio para os que estão
encurralados".
Os dois responsáveis lamentaram
que a UE ainda não tenha acordado no fornecimento de barcos para os migrantes
que os conduzam a um porto seguro, para de seguida serem distribuídos por
diversos países europeus.
"É óbvio que cada barco
lançado ao Mediterrâneo [a partir da Líbia] não tem condições para efetuar a
travessia", assinalaram.
Violentos combates
Segundo a ONU, ainda existem
3.400 migrantes e refugiados nos centros de detenção em Tripoli, onde desde o
início de abril decorrem violento combates.
Os confrontos opõem as tropas do
marechal Haftar, o homem forte do leste do país, às forças do Governo de Acordo
Nacional (GAN) dirigido por Fayez al-Sarraj e sediado em Tripoli.
Apesar das violências, os
guarda-costeiros líbios continuam a transportar para a Líbia as pessoas
intercetadas no mar. Desde janeiro, mais de 2.300 pessoas foram colocadas em
centros de detenção, segundo a ONU.
Rupert Colville explicou hoje que
o Alto-comissariado visitou recentemente o centro de Zintan, onde 654 migrantes
e refugiados estão detidos em condições "equivalentes às das prisões ou de
tratamento inumanos e degradantes", e que podem ser comparados com "a
tortura".
"Fomos encontrá-los num
estado de subalimentação grave, privados de água, encerrados em depósitos
sobrelotados, empestados com cheiros e com as sanitas repletas", disse.
Alguns dos migrantes apenas
recebem uma refeição diária de 200 gramas de pasta. Aí estão detidos 432
eritreus, incluindo 132 crianças, que apenas recebem metade desta ração,
segundo a ONU.
"Apelamos às autoridades
líbias e à comunidade internacional para efetuarem esforços no sentido de que
estes migrantes e refugiados detidos nestes locais de detenção sejam
imediatamente libertados", sublinhou o porta-voz.
Tráfico de seres humanos
O ACDH também solicita que
"sejam reforçados os repatriamentos e reinstalações humanitárias
voluntárias e desenvolvidas alternativas às detenções".
"Estamos ainda extremamente
preocupados pelas informações sobre desaparecimentos e tráfico de seres humanos
após as pessoas terem sido intercetadas no mar pelos guardas-costeiros líbios e
enviadas de novo para a Líbia".
Agência Lusa, ar | Deutsche Welle
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