Jorge Rocha* | opinião
É claro que não dei um cêntimo,
ou um segundo do meu tempo, para as ditas comemorações do 10 de junho, data
definitivamente conotada com o que dela fez o fascismo. E se, a posteriori,
venho gastar algumas palavras é por as ver comentadas por amigos facebookianos,
que terão passado pelo transe de ouvirem os bacocos discursos de Marcelo ou o
do seu escolhido para a ocasião, obviamente carregado do bafio, que lhe varre o
pensamento. Fica, pois, a compadecida simpatia por quem se dispôs a tal
sacrifício, imbuído do sentido cívico de no-lo vir reportar.
No fundo, e a acreditar em tais
testemunhos, tudo se ajustou: o filho de Baltasar (e afilhado de quem lhe deu o
nome próprio) considerou que, para suceder a grandes intelectuais anteriormente
comprometidos no esforço de desfascizar o evento, era altura de lhe dar a
coloratura de tempos idos, quando se fazia anunciar como Dia da Raça ao som de
estrondosas trombetadas.
Uma vez mais Marcelo confirma a
impossibilidade de deixar de ser quem é: pode-se vestir hábito mais modernaço,
ao jeito democrático da moda Primavera/Verão, mas esse passado sempre se impõe
como tronco maior da sua personalidade. Resultado: sessenta anos depois o velho
Marcelo não consegue dissociar-se do tempo em que, petiz,
acompanhava o papá às cerimónias organizadas para contentar o ditador de Santa
Comba Dão e se deixava por ele acarinhar.
Fazei vir a mim as criancinhas,
ordenava Salazar com o pensamento nos pequenos lusitos a desfilarem com os
calções seguros pelo elucidativo cinto com o «S» a lembrar quem mandava, e o
gaiato Marcelo nunca mais esqueceria a devoção com que cumprimentava o objeto
de adoração do progenitor.
Nada de novo, pois então, até
porque o «intelectual» de serviço correspondeu em pleno aos motivos por que
mereceu a incumbência: o discurso saiu-lhe rasteirinho à medida da medíocre
dimensão do pensamento. No fundo Marcelo e Tavares merecem-se plenamente quando
sugerem obsoletas reminiscências de um tempo que, decididamente, não volta para
trás.
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