Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias
| opinião
A propósito do Dia de Portugal,
na opinião publicada, ninguém ficou indiferente ao discurso de João Miguel
Tavares (JMT). Eu próprio escrevi sobre o assunto na última crónica no JN,
enaltecendo o facto de JMT ter posto o dedo na ferida. Houve unanimidade no
diagnóstico, discordâncias no propósito e guerra aberta quanto ao facto de
Portugal ter de ter um desígnio para o futuro.
Durou uma semana, nada mau! Como
sempre acontece, a opinião publicada gosta mais de séries do que de filmes.
Rende mais e isso, para quem ganha a vida a tentar ver antes dos outros, faz
toda a diferença. JMT no 10 de Junho foi um filme, de Bollywood para uns e
Hollywood para outros, mas a série viciante do momento é "A Caixa" e
a temporada em que se discute o assalto ao BCP. Esta é a novela, aliás, que
mais convém a quem detém o poder. Os que lá estão são tão responsáveis como o
que lá estiveram, só é preciso gerir a perceção da opinião pública para que
nunca pareça que o PS tem mais culpas que o PSD e vice-versa. Se os
"criminosos" foram vistos ora de laranja, ora de rosa, é certo que a
narrativa tem de apontar a culpa para os reguladores, mesmo que também estes
sejam ora laranja, ora rosa.
Seja como for, não deixa de
impressionar a facilidade com que se matam as discussões à nascença, de forma
tanto mais rápida quanto maior for, pelo menos do ponto de vista teórico, a
importância do debate. Já passou! Antes mesmo que pudesse ser feito, ele estava
morto, com a preciosa ajuda dos dois colunistas que mais influenciam à Direita
e à Esquerda. Dois que se dizem jornalistas, em contraponto aos opinadores e
aos dirigentes e ex-dirigentes partidários, como aqueles políticos que se
afirmaram na política sempre dizendo que nada tinham a ver com ela.
JMT tem bom contraponto em Daniel
Oliveira, os dois obrigados a opinar com elevada frequência, quase diária. Pela
capacidade de trabalho, pela independência que conseguem ter, mesmo
afirmando-se à Direita e à Esquerda, com tanta gente atenta ao que dizem, era
bom que dessem o passo em frente, dando consistência ao seu pensamento
político. Um e outro há muito que passaram da fase de analisar a realidade para
a fase em que a procuram influenciar. Com a política partidária reduzida à
conquista do poder e à distribuição de lugares, a análise e o comentário político
presos à espuma dos dias, acaba por ser benéfico saber com o que se pode contar
em relação a estes dois. A única coisa que se lhes pede é que não se gabem de
ser jornalistas quando estão a fazer política.
*Jornalista
Sem comentários:
Enviar um comentário