terça-feira, 18 de junho de 2019

Portugal | Tavares versus Oliveira


Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias | opinião

A propósito do Dia de Portugal, na opinião publicada, ninguém ficou indiferente ao discurso de João Miguel Tavares (JMT). Eu próprio escrevi sobre o assunto na última crónica no JN, enaltecendo o facto de JMT ter posto o dedo na ferida. Houve unanimidade no diagnóstico, discordâncias no propósito e guerra aberta quanto ao facto de Portugal ter de ter um desígnio para o futuro.

Durou uma semana, nada mau! Como sempre acontece, a opinião publicada gosta mais de séries do que de filmes. Rende mais e isso, para quem ganha a vida a tentar ver antes dos outros, faz toda a diferença. JMT no 10 de Junho foi um filme, de Bollywood para uns e Hollywood para outros, mas a série viciante do momento é "A Caixa" e a temporada em que se discute o assalto ao BCP. Esta é a novela, aliás, que mais convém a quem detém o poder. Os que lá estão são tão responsáveis como o que lá estiveram, só é preciso gerir a perceção da opinião pública para que nunca pareça que o PS tem mais culpas que o PSD e vice-versa. Se os "criminosos" foram vistos ora de laranja, ora de rosa, é certo que a narrativa tem de apontar a culpa para os reguladores, mesmo que também estes sejam ora laranja, ora rosa.


Seja como for, não deixa de impressionar a facilidade com que se matam as discussões à nascença, de forma tanto mais rápida quanto maior for, pelo menos do ponto de vista teórico, a importância do debate. Já passou! Antes mesmo que pudesse ser feito, ele estava morto, com a preciosa ajuda dos dois colunistas que mais influenciam à Direita e à Esquerda. Dois que se dizem jornalistas, em contraponto aos opinadores e aos dirigentes e ex-dirigentes partidários, como aqueles políticos que se afirmaram na política sempre dizendo que nada tinham a ver com ela.

JMT tem bom contraponto em Daniel Oliveira, os dois obrigados a opinar com elevada frequência, quase diária. Pela capacidade de trabalho, pela independência que conseguem ter, mesmo afirmando-se à Direita e à Esquerda, com tanta gente atenta ao que dizem, era bom que dessem o passo em frente, dando consistência ao seu pensamento político. Um e outro há muito que passaram da fase de analisar a realidade para a fase em que a procuram influenciar. Com a política partidária reduzida à conquista do poder e à distribuição de lugares, a análise e o comentário político presos à espuma dos dias, acaba por ser benéfico saber com o que se pode contar em relação a estes dois. A única coisa que se lhes pede é que não se gabem de ser jornalistas quando estão a fazer política.

*Jornalista

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