Paula Ferreira |
Jornal de Notícias | opinião
As atenções viram-se para Matteo
Salvini, ministro do Interior de Itália: o homem que recusa receber no porto de
Lampedusa um barco com 134 migrantes a bordo. Ontem, obedecendo a uma ordem do
primeiro-ministro, Giuseppe Conte, não escondendo a má vontade, Salvini
autorizou o desembarque de 27 menores que viajavam sem companhia. Uma atitude
de pura desumanidade, mais uma do governante de extrema-direita.
Parece cómodo, todavia, voltarmos
as nossas atenções unicamente para o indesculpável Matteo Salvini. É hora de se
reclamar algo mais dos responsáveis políticos europeus. Não basta,
pontualmente, ir aceitando receber migrantes como deverá acontecer neste caso -
Portugal, França, Alemanha, Luxemburgo, Roménia e Espanha já se
disponibilizaram - e depois continuar, como se nada fosse, até à próxima
emergência ou tragédia.
O "Open Arms", um navio
humanitário há semanas ao largo de Lampedusa com 134 migrantes salvos de um
naufrágio, faz lembrar um barco negreiro, do tempo em que as embarcações
portuguesas e espanholas cruzavam os mares com mão de obra escrava. A situação
é explosiva, relatam os voluntários, também eles retidos num navio sob um sol
escaldante, com escassos meios de subsistência e praticamente nenhumas
condições de higiene.
Não podemos continuar a ver
nestas pessoas o outro, como os nossos antepassados olharam para os escravos,
sem qualquer gesto de humanidade - como se eles não fossem seres humanos em
tudo iguais a nós.
É tempo de a União Europeia
definir uma política séria de imigração. Também é tempo de colocar um ponto
final na hipocrisia cúmplice: alimenta, como sabemos, conflitos que conduzem ao
êxodo destas pessoas em busca, não só de uma vida não digna, mas apenas melhor.
E, sobretudo, à procura de um refúgio onde as armas não substituam as palavras.
* Editora-executiva-adjunta
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