Após longa fase de aquecimento, a
economia alemã vai a passo de tartaruga, segundo dados recentes. Mas não é hora
de pânico, e sim de ação estratégica, tanto por políticos quanto por empresários,
opina Henrik Böhme.
É possível falar tão mal do
estado de uma economia nacional, que ela fica ruim. Por isso, todos evitam
empregar a maldita palavra "recessão". Mas também de nada adianta
querer negar a verdade. Na indústria alemã, um importante pilar da economia
nacional, há muito impera a recessão: um número cada vez maior de firmas
pretende reduzir sua produção nos próximos meses, os pessimistas suplantam os
otimistas.
Há diversos motivos para tal, e
todos os conhecem: principalmente conflitos comerciais; mas também a crise
mundial da indústria automobilística; a probabilidade crescente de um Brexit
sem acordo; recentemente, o roçar de sabres da China em direção a Hong Kong.
Uma mistura explosiva.
Por isso não é nenhuma surpresa a
cifra divulgada nesta quarta-feira (14/08) pelo Departamento Federal de
Estatísticas: no segundo semestre de 2019 a economia da Alemanha contraiu 0,1% em
comparação com o trimestre anterior.
Claro que é válido partir do
princípio que a situação não melhorará nada no trimestre em curso. Quando chegar
a próxima cifra negativa, a sentença será: a economia alemã está
"oficialmente em recessão". Pois, em algum momento, os economistas
estabeleceram a fórmula segundo a qual, após dois trimestres negativos
seguidos, se fala de uma "recessão técnica".
Como dito: isso é o que vai
acontecer. Mas também não é nenhum motivo para entrar em pânico, ou mesmo
apelar para acionismo ou programas conjunturais. Por um motivo simples: embora
iniciado pelos fatores excepcionais citados acima, esse arrefecimento é totalmente
normal, sobretudo após uma fase de aquecimento tão longa como a atravessada
pela Alemanha na última década. A conjuntura se compõe de ciclos, os quais são
linhas onduladas, e não retas ascendentes da esquerda à direita.
Por que esse arrefecimento é importante? Nos últimos anos, muitas empresas do país
ficaram realmente "quentes", muitas vezes até incapazes de cumprir
todas as encomendas, com as instalações funcionando a 90% de suas capacidades,
ou mais. Além disso, há a falta de mão de obra tão lamentada por todos.
Assim, em tempos de
desaceleração, se reduzem as supercapacidades da fase de alta conjuntura, as
empresas se preparam para uma carga normal de trabalho. E há novamente
oportunidade de reparar ou substituir uma linha de produção. Também a apreensão
quanto a grandes ondas de demissões é, pelo menos no momento, ainda
absolutamente injustificada.
Claro que soa ameaçador quando
grandes conglomerados como Bayer, Basf ou Volkswagen anunciam a intenção de
cortar milhares de postos. No entanto, a economia alemã não são as grandes
multinacionais, e sim, acima de tudo, os milhares de pequenas e médias
empresas. Nunca tantas pessoas na Alemanha tiveram um emprego fixo ao mesmo
tempo, com os pesquisadores do mercado de trabalho acusando 1,4 milhão de
vagas de trabalho não preenchidas.
Além disso, há a fantástica
receita do Kurzarbeitergeld, na qual a Agência Federal do Trabalho assume
por um certo período o salário do trabalhador que teve sua carga horária
reduzida, evitando demissões e permitindo que as firmas mantenham seus quadros
de funcionários. No momento em que as encomendas voltam a se intensificar, as
companhias podem retomar imediatamente a atividade.
No momento, a Agência Federal de
Trabalho administra 50 mil requerimentos de emprego de curto prazo. Em
comparação, em 2009, um ano após a crise financeira global, eram
1,5 milhão de pedidos. Na época a medida foi muito útil, evitando grandes
ondas de demissões.
Portanto, a coisa funciona, e por
esse motivo parece, até certo ponto, agitação de campanha eleitoral quando o
ministro do Trabalho, o social-democrata Hubertus Heil, faz turné pelo país
alardeando novas ideias para o emprego de curto prazo. Realmente necessária
seria uma outra coisa: o alívio tributário dos assalariados.
Pois o desempenho económico
negativo teria certamente sido maior sem o importante suporte da "demanda
interna" (ou seja: a população tem que consumir!). Agora – quando as más
notícias da economia tornam os cidadãos mais cautelosos com seus gastos, ou
quando as empresas se retraem em seus investimentos –, talvez o ministro das
Finanças tenha que abrir a carteira.
Ninguém está precisando de um
"zero absoluto"! Necessários neste momento são incentivos a
investimentos e aquisições. A Alemanha continua empurrando com a barriga um
gigantesco déficit de investimentos na infraestrutura, e nesse contexto são
bem-vindas propostas como as do renomado teórico da economia Michael Hüther.
Ele sugere a criação, ao longo de
dez anos, de um "Fundo para a Alemanha" no valor de 450 biliões
de euros, financiados por títulos de dívida pública – que no momento o Banco
Central alemão vende em grande quantidade, com credores pagando para obtê-los.
Esse dinheiro seria, então, investido nos setores de transportes, internet de
banda larga, moradia, educação e – atenção! – proteção do clima.
Henrik Böhme | Deutsche Welle |
opinião
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