Inês Cardoso | Jornal de
Notícias | opinião
"Eu não quero uma Itália
escrava de ninguém." A frase é de Matteo Salvini, no dia em que o
primeiro-ministro Giuseppe Conte anunciou a sua demissão, e nas entrelinhas
"ninguém" deve ler-se União Europeia. O líder da Liga, que há 15 meses
é o número dois do Governo, quer mais. Aspira a plenos poderes e já demonstrou
que a sua noção de liderança é capaz de atropelar colegas de coligação,
tribunais e instituições europeias, pondo em causa vidas humanas, se necessário
for.
Mais do que nunca, a situação em
Itália merece toda a atenção. Não tanto pelo risco económico nem pelas
obrigações à luz do tratado orçamental, um dos argumentos esgrimidos por quem
defende a continuidade de um governo interino e uma aliança de ocasião do
Movimento 5 Estrelas com o Partido Democrático. Mas porque se houver novas
eleições Salvini será o provável vencedor, com as sondagens a darem-lhe
intenções de voto próximas dos 40%.
Em maio, em vésperas de eleições
europeias, vimos o líder da Liga presidir, em Milão, ao encontro de 11 partidos
nacionalistas de diferentes países, perspetivando uma frente comum para retirar
poder a Bruxelas. Numa altura em que só restam quatro parlamentos sem presença
de partidos nacionalistas, Itália poderá tornar-se a primeira democracia da
Europa ocidental governada pela extrema-direita.
A intolerância extrema e a falta
de humanidade de Matteo Salvini sofreram ontem uma derrota judicial, com o
procurador de Agrigento a ordenar que o navio "Open Arms" desembarque
em Lampedusa. A situação explosiva do barco é uma metáfora dos riscos que pairam
sobre Itália e sobre o projeto europeu, incapaz de encontrar caminhos sólidos
para o desafio da imigração. As próximas semanas dirão se também politicamente
será possível conter os malabarismos e aspirações pessoais de Salvini. Esse não
é apenas um problema dos italianos. É de todos os que acreditam na democracia e
na inclusão como valores que andam a par e passo.
*Diretora-adjunta
Sem comentários:
Enviar um comentário