Gabinete Provincial de Combate à
Corrupção de Nampula manifesta preocupação com a morosidade da Justiça em
julgar processos de corrupção. Tribunal Judicial da Província diz que problema
tem a ver com a falta de juízes.
Cresce a pilha de casos de
corrupção por julgar na província moçambicana de Nampula, no norte de
Moçambique. A Justiça tem demorado a escoar os processos e o Gabinete
Provincial de Combate à Corrupção de Nampula mostra-se impaciente.
No ano passado, só 16 dos 119
processos por corrupção foram a julgamento, segundo o gabinete ligado ao
Ministério Público. Este ano, já terá havido uma melhoria: dos 54 processos
encaminhados ao tribunal, 31 foram a julgamento. Ainda assim, é preciso
acelerar o ritmo, segundo Fredy Jamal, procurador e porta-voz do Gabinete
Provincial de Combate à Corrupção de Nampula.
"Naquilo que é o combate à
corrupção em termos processuais, fazendo uma comparação em relação a 2018-2019,
é importante realçar que o gabinete não está satisfeito em relação aos números
de processos julgados em 2019, mas não deixamos de dizer que houve uma subida
de processos julgados que já nos dá algum alento", afirmou em entrevista à
DW África.
Fredy Jamal defende que se
estabeleçam metas em relação a casos de corrupção. "Não estamos a dizer
que o tribunal devia criar secções de combate à corrupção, mas se tivéssemos
metas de julgamentos desse tipo de crime poderia equilibrar aquilo que é o
esforço que o Ministério Público faz e aquilo que o judicial faz, porque este
combate não é só do gabinete", disse.
'Falta de recursos humanos'
O juiz-presidente do Tribunal
Judicial da Província de Nampula, Alberto Assane, reconhece a demora no
julgamento de diversos casos criminais, incluindo de corrupção, mas justifica
com a falta de recursos humanos, sobretudo juízes, para o efeito.
Alberto Assane disse em
entrevista à DW África que o Tribunal Judicial da Província dispõe de nove
secções, com igual número de juízes, contra os 21 que seriam necessários para
dar vazão aos processos. "Eu não diria que há morosidade nos julgamentos,
mas sim há excesso de processos por julgar. São duas coisas diferentes. Uma
coisa é demorar com o julgamento por uma mera negligência e a outra é demorar,
sim, com o processo, mas existirem muitos por tramitar", afirmou.
"Na verdade, uns demoram,
mas outros não. Isso vai em função da capacidade humana. Só para lhe dar uma
ideia, sobre esta parte processual, de uma forma geral, nos últimos dois, três
a quatro anos, todos os processos entrados findam. Pelo menos,
estatisticamente, este é um sinal de que a capacidade humana vai até lá. A ter
que retificarmos isso, temos que retificar a capacidade humana",
acrescentou Alberto Assane.
Meios alternativos
O juiz-presidente do Tribunal
Judicial da Província de Nampula assegura que se está a recorrer a meios
alternativos para tentar contornar a falta de juízes nas secções. "Há
juízes destacados: os que têm menos trabalho ao nível dos distritos são
destacados para ajudar as secções cá na província. Então, são os meios que, até
aqui, temos em vista para atacar este problema'', disse.
No entanto, o advogado
moçambicano Arlindo Muririua entende que a morosidade da Justiça não se deve
exclusivamente à falta de juízes, porque há muitas universidades a formarem
quadros superiores em Direito. Segundo o advogado, muitas vezes, o que há é uma
má instrução processual por parte dos órgãos do Ministério Público.
"Agora falta de juízes,
talvez se invoque o problemas de fundos, mas o pessoal formado em Direito
existe. Sobre a questão de morosidade processual, também não estou muito de
acordo, porque, no Gabinete de Combate à Corrupção, estão lá procuradores
formados. O que falta muito é a investigação profunda e outra coisa é a má
instrução de processos, [porque,] quando os processos são mal instruídos,
muitas vezes o juiz devolve", sublinhou.
Sitoi Lutxeque (Nampula) |
Deutsche Welle
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