Mariano Nhogo - à esquerda |
Ameaça Mariano Nhongo
O líder da autoproclamada
"Junta Militar da RENAMO” ameaça inviabilizar a realização das eleições de
15 de outubro, se o executivo não negociar com seu grupo a implementação do
DDR, e acusa o Governo de enganar o povo.
Em entrevista exclusiva à DW
África, esta segunda-feira (26.08), Nhongo voltou acusar o líder da
RENAMO, Ossufo Momade de ser um homem infiltrado no seio do maior partido da
oposição moçambicana, acrescentando que "a RENAMO são os militares. Nós
nunca vamos aceitar Ossufo candidatar-se às eleições pela RENAMO”.
Por outro lado, o presidente da
autoproclamada "Junta Militar da RENAMO”, garante que continua disposto a
negociar com o Governo sobre o DDR [Desarmamento, Desmobilização e
Reintegração].
DW África: O senhor Mariano
Nhongo sempre disse que quer negociar com o Governo a implementação do DDR. Já
iniciou os contactos para isso?
Mariano Nhongo (MN): Não.
Ainda vou reunir-me com os deputados da RENAMO, no Parlamento moçambicano, para
criarmos uma comissão que vai iniciar os contactos com o Governo.
DW África: Quando é que será esta
reunião com os deputados? E quem são eles?
MN: Ainda hoje (26.08) falei
com eles, mas não está definida a data. Você quer saber quem são os deputados?
Não conhece os deputados da RENAMO no Parlamento? São estes mesmo com quem vou
me reunir.
DW-África: Mas há dias, o
porta-voz da "Junta Militar” disse à imprensa que os deputados da RENAMO
não iriam votar a transformação do Acordo de Paz Definitiva e Reconciliação
Nacional, assinado no dia 06 de agosto em lei no Parlamento. No entanto,
vimo-los a votarem a favor. Quem são estes deputados que o sr. Mariano Nhongo
fala?
MN: Já disse, os deputados
da RENAMO.
DW África: Vocês ["Junta
Militar], continuam a não reconhecer a liderança do sr. Ossufo Momade como presidente
da RENAMO. E o partido diz que já começaram conversações convosco, como
"família”. Confirma-se?
MN: Não. Nós não temos mais
conversa com o Ossufo Momade. Queremos conversar com o Governo. Os militares
elegeram-me como presidente. Ossufo foi rejeitado pelos militares. Não temos
mais nenhum programa com ele, não nos forcem a aceitá-lo, senão vão arranjar
guerra connosco.
DW África: Você e seus homens são
membros da RENAMO. Existe um diálogo interno para pôr fim a este impasse?
MN: Eu quero dizer a
verdade, o Governo está a enganar a RENAMO e o povo moçambicano quando diz que
esse é um problema interno. Se é problema interno porque assinou acordo com
Ossufo Momade? Desde quando eu e os militares da RENAMO começamos a falar que
não queríamos Ossufo? Mas o Governo assinou o acordo com ele. Isso é provocação
e desprezo pelos militares da RENAMO. Nós vamos mostrar ao país quem
somos.
DW África: Como?
MN: Como é que você começou
a ouvir falar da RENAMO? Da forma que ela iniciou, vai voltar a fazer o mesmo
[referindo-se aos ataques].
DW África: Existe uma previsão de
quando isso pode acontecer?
MN: O Governo levou um
indivíduo que não conhece nada da RENAMOe o colocou na liderança do partido.
Mas nós estamos a par disso. Se o executivo não perceber isso, vou vos
comunicar o dia em que vou iniciar a guerra. Agora, ainda não prefiro guerra.
DW África: Quer dizer que prefere
um diálogo?
MN: Sim. Mas se o Governo
pensar que vai nos dominar, está enganado. Vamos obrigá-lo a negociar
connosco o DDR.
DW África: Há dias circularam
informações dando conta de um suposto ataque a uma ambulância na região da
Gorongosa. O senhor está informado sobre este ataque?
MN: Eu já apelei ao Governo,
não nos obriguem a termos Ossufo como nosso presidente e nos forçou. Então,
assim eu já não tenho voz para controlar os militares. Esses guerrilheiros que
estão a atacar, eu já perdi o controlo deles. Estão espalhados. Cada qual onde
está, faz o que quer. Nós nunca vamos aceitar Ossufo candidatar-se como
Presidente da Resistência Nacional Moçambicana [RENAMO]. Se é guerra que querem
vamos a isso.
DW África: No dia 31 de agosto
começa a campanha eleitoral e vocês ainda estão desavindos com a liderança do
partido. Qual é o próximo passo?
MN: Nós rejeitamos Ossufo. O
Governo deve negociar connosco para que tudo corra bem. Que haja eleições
e campanha eleitoral sem problemas. Senão conversar connosco, não haverá
campanha e nem eleições. Nós vamos lutar convosco [Governo]. Queremos ver quem
é esse (…) que vai andar por aí a gritar vote em mim (…), vamos
matar. Vou colocar armas em todos os distritos e vamos emboscar os que vão
fazer campanha porque deixaram a RENAMO de fora. Levaram um individuo qualquer
e colocaram na frente do partido. Não gostamos disso. Não há campanha e não há
votação, afirmo eu Mariano Nhongo - presidente da Junta Militar e estou
disposto a lutar com o Governo. Não podem gozar connosco, saímos de longe. Não
gostamos destas brincadeiras. Ossufo não é presidente da RENAMO, deixaram-nos
de lado e foram negociar com alguém que não sabe nada do partido. Se é
luta armada que estão a procura vamos a isso até quando quiserem conversar
connosco.
DW África: Já apresentaram uma
proposta concreta ao Governo para tal adiamento das eleições de que tanto
falam?
MN: Não há eleições e não há
campanha eleitoral. Primeiro devem sentar e falar com os donos do partido
RENAMO. Ossufo não é dono do partido. Nós somos a RENAMO.
DW África: Qual RENAMO de que diz
serem donos? RENAMO militar ou civil?
MN: Não existe RENAMO civil.
Desde muito tempo há uma RENAMO militar. As forças militares é que são o
partido. Se o Governo quer trabalhar com a RENAMO civil pode, e nos deixe como
estamos, mas um dia vai procurar por nós. A RENAMO somos nós os militares. Levamos
civis colocamos como membros, mas o partido somos nós.
DW África: Como é que a RENAMO
pretende governar o país, se continua militarizada?
MN: A intenção da RENAMO é
negociar com o Governo, para sermos enquadrados nas forças de Defesa e
Segurança, Polícia da República de Moçambique (PRM), Unidade de Intervenção
Rápida (UIR), Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE), e os que não
tiverem capacidade física serem desmobilizados.
DW África: E é essa a vossa maior
reclamação?
MN: Sim. Primeiro haver
enquadramento, o resto vai no acantonamento e entrega das armas e já está.
DW África: Mas este processo já
está acontecer no quadro do acordo de cessão das hostilidades militares
assinado na Gorongosa?
MN: Não, viste quem que já
entregou as armas? Já estamos a ser enquadrados. A arma é última coisa a ser
entregue. No dia 22 de agosto (quinta-feira) passou uma equipa a dizer que
temos que entregar as armas, era para nos enquadrar? Era apenas para nos
arrancar as armas e depois nos abandonar.
DW África: Mas o Acordo de Paz
Definitiva e Reconciliação Nacional, assinado no Maputo no dia 06 de agosto,
prevê isso?
MN: Não há acordo que foi
assinado. Se o Governo quer acabar com a guerra deve assinar estes acordos com
a RENAMO. Já disse, Ossufo não é a RENAMO. Procure considerar os militares da
RENAMO, dai haverá acantonamento e depois o cumprimento do DDR. Mas o Governo
não quer entender isso e insiste no Ossufo.
DW África: Mas o sr. Ossufo foi
eleito em Congresso da RENAMO, realizado na Serra da Gorongosa. Como é que diz
que ele não é presidente do partido?
MN: Ele foi eleito por
amigos dele de Maputo. Não há militar que elegeu Ossufo Momade como presidente
do partido. Nós vimos que ele é uma pessoa comprada e quer estragar o nosso
partido. E rejeitamos entregar os nossos homens. E os militares escolheram o
seu presidente. E é este que vai levar todos os militares da RENAMO ao
enquadramento e desmobilização e não haverá guerra.
Amós Zacarias | Deutsche Welle
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