O Governo angolano ainda não decretou o estado de emergência
para fazer face à seca no sul de Angola. As ajudas são poucas e a seca continua
a afetar severamente as populações locais.
A seca no sul de Angola tem piorado, sendo os meses de
julho, agosto e setembro os mais quentes nesta região. O Governo não
declarou o estado de emergência e organizações não-governamentais
(ONG) no terreno apelam a uma ação imediata das autoridades competentes.
Este é um problema que já tem muitos anos e milhares de
famílias são afetadas pela fome e falta de recursos. A ajuda tem chegado aos
poucos, mas não é suficiente.
Fome, mortes e fuga de pessoas
Há muitas necessidades urgentes para as populações que vivem
nas províncias mais a sul de Angola. A agricultura não consegue gerar os
recursos necessários e isso afeta a alimentação.
O padre Pio Jacinto Wacussanga, da Associação Construindo
Comunidades, diz que a questão alimentar é uma prioridade, e que o Governo
devia definir uma cesta básica alimentar, para beneficiar todos os afetados
pela seca e pela fome.
"A primeira coisa imediata para mudar a situação é
definir muito bem o direito à alimentação adequada. É necessário que o Estado,
do ponto de vista da legislação, [preveja] por exemplo sistemas de alimentação
para poder prover as famílias afetadas", afirma.
Rafael Morais, diretor da organização não-governamental
Friends of Angola, também tem acompanhado o problema da seca com preocupação.
As mortes e a fuga de várias famílias para outros países têm
sido algumas das consequências mais graves, refere o ativista: "De acordo
com as organizações locais que trabalham com a Friends of Angola, cinco
crianças morrem por dia por causa da fome. As famílias estão a ir para os
países vizinho à procura de melhores condições de sobrevivência".
Contudo, o responsável pela Friends of Angola aponta
soluções para prevenir danos maiores no futuro: "Essas províncias do
Cunene, Cuando Cubango, Moxico e Huíla têm rios. Têm rios grandes que podem
permitir ao Estado criar condições de irrigação, para poder criar condições de
reserva alimentar para quando chega essa altura da seca encontrar solução para
esse problema", reforça Morais.
Estado de emergência
Uma das medidas mais esperadas pelas ONG é que o Governo
central decrete o estado de emergência. Segundo o padre Pio Wacussanga,
isso permitiria que houvesse mais ajuda internacional.
"Temos, de facto, uma catástrofe", diz em
entrevista à DW. "É preciso que o Governo tenha coragem de declarar o
estado de emergência por causa desta situação. Porque já está a atingir
contornos muito preocupantes. E, se declarasse o estado de emergência, haveria
também a vantagem de se permitir a entrada de agências internacionais que
pudessem acudir as pessoas."
"Sem isso, infelizmente, há pouco movimento
internacional, que venha ajudar a minimizar o problema",
sublinha Wacussanga.
Também Rafael Morais reforça a necessidade de decretar o
estado de emergência. "O estado de emergência vai gerar solidariedade
nacional e internacional no sentido de poder trazer bens alimentares para essas
famílias e encontrar outras condições, de forma minimizar a fome no sul de
Angola", diz.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) anunciou,
na semana passada, a entrega de três contentores às regiões mais afetadas
pela seca no valor de 160 mil dólares, com produtos nutricionais, água e kits
de higiene. Em maio, a ONU disponibilizou uma ajuda de 6,4 milhões de dólares
para o Governo angolano enfrentar esta seca.
Segundo o padre Wacussanga, além de dinheiro, são precisos
vários outros elementos para contrapor os efeitos da seca.
"Isto precisa de muitos recursos financeiros, precisa
de políticas novas, precisa de recursos humanos preparados para preparar a
mitigação dos efeitos, precisa do envolvimento das comunidades para poderem
terem técnicas de resiliência", afirma.
Apesar de tudo, Rafael Morais ainda acredita que o Estado
angolano tem meios para fazer face à seca no sul de Angola: "O Estado tem
capacidade. Nós sabemos que o Estado angolano tem muito dinheiro. O Estado
angolano tem dinheiro para poder acudir à fome no sul de Angola",
conclui.
Rodrigo Vaz Pinto | Deutsche Welle
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