“O camaleão vai atrás da
borboleta, permanece camuflado por muito tempo, para depois avançar lenta e
gentilmente: primeiro coloca uma perna, depois outra. Por fim, quando menos se
espera, ele lança o dardo de sua língua e a borboleta desaparece – a Inglaterra
é o camaleão e eu sou a borboleta” – Rei Lobengula – http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/globalizacao-o-camaleao-voraz-que.html
Martinho Júnior, Luanda
… De há mais de quinze anos que
mantenho a tónica de necessidade de implementar os conceitos inerentes à lógica
com sentido de vida, tendo todos os sentidos por dentro dos fenómenos que
afectam África e sobretudo Angola, enquanto alvos dilectos das políticas
elitistas e neoliberais-neocoloniais!
A barbárie que tem avançado sobre
África e sobre Angola em nome do lucro e não em nome da vida, está a provocar o
pior dos cenários:
Primeiro a DESFLORESTAÇÃO E O
COLAPSO DAS NASCENTES… (http://jornaldeangola.sapo.ao/reportagem/desflorestacao_causa_degradacao_das_nascentes_na_regiao_do_huambo)...
… Depois A SECA E OS CENÁRIOS DA
MISÉRIA E DA FOME… (https://www.youtube.com/watch?v=L3mFgN_sGXU).
Por fim, ARDE ANGOLA… (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/08/incendios-florestais-angola-ultrapassa.html).
Há dez anos publiquei no Página Um uma sequência de oportunas intervenções sobre a deriva em direcção
ao abraço do controlo elitista de conceitos climático-ambientais e
geoestratégicos que tinham tudo a ver com a interpretação numa lógica com sentido
de vida e não com o lucro propiciado pelos “mercados” de
contingência, muito menos o lucro derivado de interesses, processos e
conveniências neoliberais…
Essa intenção se alguma vez
acabasse por ser levada avante, visava determinar Angola ao conhecimento, ao
controlo e à gestão da região central das grandes nascentes numa perspectiva de
geoestratégia para um desenvolvimento sustentável e a gestação duma cultura de
inteligência patriótica, mas é óbvio que inteligências dominantes têm
constituído até hoje não só inultrapassáveis aliciantes que já levam três
décadas desde o seu surgimento, mas também capazes de integrar meios que Angola
está muito longe de possuir, ou mesmo de por si ter acesso… o que aumenta a
dependência angolana, numa escala inimaginável, em relação aos expedientes
elitistas anglo-saxónicos que abordam os fenómenos naturais em toda a região,
incentivados pelo poder do “loby” dos minerais e sobretudo pelo
cartel dos diamantes! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/geoestrategia-para-um-desenvolvimento.html).
. “PEACE PARKS
FOUNDATION” – O ENGODO DAS ELITES EM DIRECÇÃO A UMA PAZ CHEIA DE
DESEQUILÍBRIOS;
. CUITO CUANAVALE – A PAZ DA
GRANDE SOLIDÃO;
. A TERCEIRA FORNADA
DA “PEACE PARKS FOUNDATION”.
Essa sequência, que já não se
encontra disponível na Internet, mas consta nos meus arquivos, foi resultado
dos poucos estudos que levei a cabo durante a minha efémera passagem entre 2002
e 2005 (de que tenho testemunhos) pelo Centro de Estudos Estratégicos de Angola
(CEEA), onde fui membro fundador, com meu nome naturalmente banido em função de
meu subtil (e também autoinfligido) afastamento…
De facto os estudos (que tenho em
arquivo, podendo ser publicados a qualquer momento, ainda que com os dados da
época em que foram feitos), eram em parte uma afronta em relação ao caminho
aberto a conceitos elitistas que, verifiquei, o próprio CEEA indiciava começar
a trilhar.
Torna-se assim compreensível o
rumo que tomei ao afastar-me (na altura diplomaticamente evoquei razões de
transporte pessoal), como compreensível o riscar do meu nome e pseudónimo das
páginas do CEEA!
A esta distância, o que eu mais
temia está a realizar-se: hoje não só mais de 90.000 km2 do sudeste de Angola
está em mãos do “lobby” dos minerais, por via do cartel dos diamantes
e das correntes elitistas correspondentes (http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/parques-nacionais-sao-geridos-por-americanos-e-sul-africanos)
que prevalecem instrumentalizadas com a globalização neoliberal à feição do
império da hegemonia unipolar, como também a minha luta sobre a necessidade de,
na trilha da lógica com sentido de vida se poder iniciar uma geoestratégia para
um desenvolvimento sustentável no espectro duma cultura de inteligência
patriótica, continua a ser votada à indiferença, quando essa indiferença
redunda em prejuízo impossível de contabilizar para Angola e para toda a região
austral de África! (http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/globalizacao-o-camaleao-voraz-que.html).
Neste momento chegou-se à cereja
em cima do bolo elitista eem nome da paz, nas questões físico-geográfico-climáticas-ambientais:
com as comunidades do sudeste e sul do país sem educação e entregues a si
próprias na redundância de expedientes ancestrais (mas agora com mais densidade
demográfica que antes e sujeitos a todo o tipo de pressões, inclusive a seca, a
migração forçada, a miséria, a fome e os incêndios), o grande camaleão penetrou
na imensa região à medida da progressão para norte dos desertos do Namibe e do
Kalahári, apossando-se da paisagem ecoturística como manobra para se apossar do
subsolo, garantindo a continuidade da indústria extractivista que elevou o
Botswana a primeiro produtor mundial de diamantes-jóia, sob o olhar silencioso
e cúmplice do National Geografic… (https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_produ%C3%A7%C3%A3o_de_diamante)...
Mas sob as constantes críticas da Survival Internacional! (http://www.survivalbrasil.org/povos/bosquimanos)...
Enquanto o National Geografic se
move facilmente transpondo fronteiras até agora virgens (https://nationalgeographic.sapo.pt/natureza/grandes-reportagens/1727-missao-para-salvar-o-delta-do-okavango-em-africa),
o desprotegido Survival International (que tem chocado com os processos
elitistas no Botswana por causa dos khoisan – https://www.survivalinternational.org/tribes/bushmen),
tem dificuldades em acompanhar os ritmos que geraram o KAZA-TFCA… (https://www.kavangozambezi.org/index.php/en/).
Na usura da água interior,
entrou-se no clímax: fazer com que Angola arda acima de todos os demais, no
momento em que o aquecimento global começa finalmente a ser um fenómeno cada
vez mais reconhecido por todos e no momento em que as correntes elitistas
dominam até nas questões físico-geográfico-climáticas-ambientais sobre todos os
estados da África Austral!
Por isso considero meu dever
repescar o que publiquei de há mais de quinze anos, por que tudo o que se está
a fazer tenho consciência que não sendo em meu nome, em muito pouco resulta em
benefício dos povos da África Austral nos termos duma geoestratégia para um
desenvolvimento sustentável de que os estados estão a abdicar por que se
tornaram substanvialmente vulneráveis aos engodos do “lobby” dos
minerais e cartel dos diamantes!
Recordo a primeira dessas
intervenções que foi publicada no Página Um Blogspot em Setembro de 2009,
dando-lhe sequência com as outras duas (de Setembro e Novembro de 2009)…(https://www.peaceparks.org/about/our-journey/).
Ainda hoje é possível constatar a
foto de Nelson Mandela com o Príncipe Bernhard of Lippe-Biesterfeld (co-fundador
do Grupo Bilderberg –https://en.wikipedia.org/wiki/Prince_Bernhard_of_Lippe-Biesterfeld)
e Anton Rupert (multimilionário sul-africano “reconvertido” do“apartheid”,
que com os “Peace Parks” sabiamente deu uma outra sequência à trilha
de Cecil John Rhodes e da British South Africa Company, sem logicamente abdicar
das capacidades elitistas que prevalecem desde então, desde as sementes lamçadas
no terreno da África Austral pela imperialmente britânica velha Universidade de
Oxford – https://en.wikipedia.org/wiki/Anton_Rupert).
Martinho Júnior - Luanda, 25 de Agosto de 2019
Imagens:
01- Primeira publicação
de “Globalização – O camaleão voraz que espreita todas as fragilizadas
borboletas de África”, no semanário ACTIAL nº 419, de 6 de Novembro de 2004;
foi posteriormente publicado no Página Um Blogspot, a 24 de Outubro de 2010 – http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/globalizacao-o-camaleao-voraz-que.html;
02- Incêndios florestais à escala
global, com Angola no primeiro lugar dos incendiários – https://paginaglobal.blogspot.com/2019/08/incendios-florestais-angola-ultrapassa.html;
03- Os Peace Parks Foundation
são, em nome da paz, uma implantação elitista que põe em causa toda a
conservação na África austral, pela atracção ao lucro, ao invés da atracção à
educação – https://www.peaceparks.org/about/our-journey/;
04- Uma cacimba na região
afectada pela seca no sul de Angola – https://noticias.sapo.ao/sociedade/artigos/a-beira-da-crise-cunene-luta-pela-sobrevivencia;
05- Founding patrons Nelson
Mandela, HRH Prince Bernhard of the Netherlands and Dr Anton Rupert ©Roy
Beusker/NPL; Nelson Mandela, entre elitistas, (o Príncipe é um dos
co-fundadores do Grupo Bilderberg), elitista é – https://www.peaceparks.org/about/our-journey/;
******
“PEACE PARKS FOUNDATION” – O
ENGODO DAS ELITES EM DIRECÇÃO A UMA PAZ CHEIA DE DESEQUILÍBRIOS
A longa batalha do Cuito Cuanavale,
que ocorreu entre Julho de 1987 e 30 de Agosto de 1988, no ângulo
sudeste de Angola e se expandiu a quase toda a fronteira sul, não pode ter
resultado apenas numa vitória contra os últimos bastiões do colonialismo,
do “apartheid” e daqueles que perfilhavam conceitos de tal maneira
retrógrados que não tiveram sequer a vergonha de alinharem com os restos de
fascismo na África Austral, alguns deles evocando até hoje os mais surrealistas
argumentos.
A longa batalha do Cuito
Cuanavale em função dos componentes do movimento de libertação em África, foi
um firme garante para que hoje, honrando a história e as responsabilidades para
com os povos da África Austral, se continuem a erguer as consciências de
vanguarda a fim de, perante as evidências das politicas neoliberais, se ousar
retirar aos projectos em curso a carga eminentemente elitista que pelo menos
alguns deles possuem, mesmo que eles sejam forjados com o rótulo
da “indústria da paz”, porque um dia, “na Namíbia, no Zimbabwe e na
África do Sul esteve a continuação da nossa luta” e hoje não poderá haver
integração sem a procura extensiva de equilíbrio entre todas as componentes
humanas existentes nas áreas dos projectos e à volta delas.
As elites em África, mais as que
foram forjadas na sequência da revolução industrial no âmbito do que eu tenho
sinteticamente definido como“lobby” dos minerais, estão a ser obrigadas a
abandonar a trilha das guerras de usura e rapina, por que o acesso ao petróleo
enquanto fonte de energia que se esgotará um dia é hoje, quando o “pico de
Hubbert” foi atingido, determinante e isso obriga ao emprego intensivo da
maior parte do poderio militar “hegemónico” no imenso espaço do Médio
Oriente, desde a Palestina às fronteiras da Índia.
Folga a África e por isso os
mesmos que antes favoreciam as condutas de guerra, favorecem as condutas da
paz, onde também esperam obter muitos lucros, apesar da crise, com os sentidos
postos na parte mais suculenta do continente, Angola, a RDC e os Grandes Lagos.
As “indústrias da paz”, com
as correntes que seguem a lógica da vida e do socialismo, ganhou hoje um novo
significado e amplitude, abrangendo não mais e só os conceitos dos serviços que
se prendem ao turismo das elites, mas também os amplos conceitos que envolvem a
educação, a saúde, o turismo social e o conjunto das humanísticas, devem
revolucionar as iniciativas em curso, até por que logo à partida favorecem a
integração equilibrada e sustentável das iniciativas.
Para o caso dos projectos
africanos, a integração das comunidades é fundamental, não nos termos de
fornecimento de mão-de-obra, não nos termos de “produto cultural típico ou
exótico”, mas participando em pé de igualdade nas iniciativas, tirando também
proveito delas.
O município de Cuito Cuanavale,
por exemplo, terá uma quota participativa nos parques nacionais que estão
dentro de sua área territorial, ou o envolvem?
Um desses projectos carentes de
reformulação ostenta o rótulo aliciante de “Peace Parks
Foundation” que em África teve a sua origem nos inícios da última década do
século XX.
“A 27 de Maio de 1990, Anton
Ruppert, Presidente do WWF da África do Sul (na altura chamado de Fundação da
Natureza da África do Sul), teve um encontro em Maputo com o Presidente Joaquim
Chissano de Moçambique, para discutir a possibilidade de se estabelecer uma
ligação permanente entre algumas das áreas protegidas no sul de Moçambique e as
adjacentes contrapartidas na África do Sul, Suazilândia e Zimbabwe.
O conceito de áreas de cooperação
transfronteiriças protegidas, através do estabelecimento de parques de paz,
tinha já sido aceite internacionalmente.
A União da Conservação do Mundo
(IUCN) tinha já de há muito promovido o seu estabelecimento por causa dos seus
muitos benefícios associados”…
(…)
Em resultado da iniciativa de
Ruppert, a WWF da África do Sul foi encarregue de realizar um estudo, que
deveria ser submetido ao governo de Moçambique em Setembro de 1991 (Tinley
& van Riet, 1991).
O relatório foi discutido no
Conselho de Ministros de Moçambique, que recomendou o seu aprofundamento de
forma a abarcar por completo as questões de ordem política, sócio-económica e
ecológica no detalhe de viabilidade.
O governo de Moçambique
requisitou o Instituto para o Ambiente Global (GEF) do Banco Mundial, a fim de
garantir assistência para o projecto, o que foi concedido.
A primeira missão teve contacto
com o terreno em 1991 e em Junho de 1996, o Banco Mundial elaborou a sua
recomendação num relatório intitulado Áreas Piloto de Conservação
Transfronteiriça e Projecto de Execução Institucional (Banco Mundial – 1996)”.
A partir daí foram sendo
definidos “pragmaticamente” os conceitos de base dos “Trans
Frontier Conservation Areas” (“Áreas de Conservação Trans Fronteiriças”),
ou simplesmente os “Parques da Paz”, que apelam:
- À oportunidade para que as
áreas protegidas se tornam de uso de recursos múltiplos pelas comunidades,
tendo em conta que as populações nessas fronteiras têm muitas afinidades
sócio-culturais.
- À oportunidade para, em cada um
dos Parques da Paz, se conjugarem os esforços de dois ou mais estados, no
sentido de se organizarem áreas ambientais de grande vastidão, protegendo-as e
tornando-as adequadas fundamentalmente à prossecução do turismo ambiental.
Só dois anos depois da eleição de
Nelson Mandela, de acordo com o “site” do “Peace Park
Foundation” se começou a desenvolver rápida e significativamente a
indústria com base no turismo ambiental, com muito poucos benefícios contudo
para Moçambique, (com quem a África do Sul faz longa fronteira), o que motivou
Anton Rupert a solicitar um novo encontro com o Presidente Chissano a 27 de
Maio de 1996, encontro esse que permitiu o início do processo de arranque
envolvendo a África do Sul, Moçambique e Zimbabwe, estendendo-se de seguida ao
Lesoto, Suazilândia, Namíbia e Botswana.
A “Fundação dos Parques da
Paz” acabou por arrancar a 1 de Fevereiro de 1997, com um orçamento
equivalente a 230.000 USD provenientes da “Rupert Nature Foundation”,
pelo que a SADC em 1999 estabeleceu um Protocolo sobre a Conservação da Vida
Selvagem, definindo as“Áreas de Conservação Trans
Fronteiriça” como “áreas compostas por regiões ecológicas que
abrangem as fronteiras de dois ou mais países, integrando uma ou mais zonas
protegidas, assim como zonas de recursos múltiplos”.
O que marca fundamentalmente a
iniciativa dos “Peace Parks Foundation”, é o encontrar-se como
seus promotores alguns elementos e instituições que fazem parte das elites
capitalistas globais, dos que estiveram com o colonialismo, o “apartheid”,
a gestação dos “bantustões” e têm imensas responsabilidades na
barbárie de sangue que vai ainda hoje ocorrendo em África e muito em particular
na vasta região onde se tem mantido a “Guerra Mundial Africana” e
suas sequelas.
Esses elementos que fazem parte
da oligarquia que tem sido decisiva no desconcerto do Mundo, tiveram que ver um
dia com a visão geoestratégica de organizações do tipo dos “freedom
fighters” africanos, entre elas a RENAMO em Moçambique e a UNITA em
Angola, bastando para tal levar em consideração as áreas onde, enquanto houve
vigência do “apartheid”, elas se mantiveram geo estrategicamente
implantadas:
- A RENAMO teve o
seu “núcleo duro” acampado na área do Parque Nacional da
Gorongosa, “partindo” Moçambique em dois e podendo fustigar o
Zimbabwe.
- A UNITA teve o seu “núcleo
duro” nas áreas do sudeste angolano, nas “reservas parciais” de
Luiana e Mavinga, “cotadas públicas” de Mukusso, Luiana, Luengue e
Mavinga, assim como no “parque regional” do Cuelei, de onde
exploravam os trajectos dos rios para chegar à decisiva região central das
grandes nascentes no planalto do Bié, um autêntico nó de águas de onde,
seguindo de perto o curso dos rios, se pode atingir qualquer ponto de Angola.
Em relação à implantação da
RENAMO, por exemplo, veja-se o que Jaime Nogueira Pinto escreveu a páginas 219
de “Jogos Africanos”:
“Treinados na Rodésia e armados e
assistidos pelo CIO e pelas forças especiais, os guerrilheiros da RENAMO têm o
seu QG no sopé da Gorongosa e a sua homeland na província de Manica, a oeste,
encravada entre Sofala e o Zimbabw.
Este complexo logístico-militar,
na periferia do maciço da Gorongosa, cerca de 50 quilómetros a
norte do curso do rio Pungué e no coração das montanhas de Sofala, foi montado
pela RNM, com o apoio dos SAS (Special Air Service) rodesianos, a partir de
1979.
Com os seus picos a mais de 2000 metros de
altitude, a Gorongosa é uma zona de florestas, colinas e vales, cortada por
numerosos cursos de água, bem coberta pela vegetação de qualquer observação
aérea.
E de difícil acesso.
Às vezes o topo do planalto
emerge algumas centenas d metros acima das nuvens, assumindo uma aura mágica e
mística aos olhos dos habitantes da região.
E aos de qualquer mortal”.
Os Estados Unidos redescobriram o
conceito de “áreas sem governação” durante a administração
republicana de George Bush, conforme eu tive o cuidado de referir antes:
“Theresa Whelan, a Subsecretária
da Defesa para África da dupla administração republicana terminal de George
Bush II, com uma notável avaliação post moderna (que diferença trouxe este
género), sentenciou sobre os riscos das áreas sem governação, de que Angola é
fértil a partir aliás do próprio exemplo de Savimbi e de sua trajectória.
As áreas sem governação em África
são-no mesmo que não hajam armas na mão – se a Conferência de Berlim
arquitectou as fronteiras sem respeitar os factores de ordem sócio-cultural (o
que torna tão complexas as relações na maior parte das fronteiras africanas,
contraditoriamente aos fulcros políticos principais das jovens nações), a
democracia qual válvula de escape, permite que nas periferias, para o bem e
para o mal se desenvolvam os métodos e processos convenientes a pelo menos uma
parte das grandes manipulações”. (2)
Não é por acaso que o
conglomerado de interesses que rodam à volta da “Anglo American” e
da “De Beers”, dos Rotchchield, dos Rockefeller, dos Openheimer, tão
evidentes nos incentivos à “guerra dos diamantes de sangue”, guardam
a “chave” de Mavinga para a identificação e futura exploração
de “kimberlites”, bem dentro da antiga “área sem governação reservada
à UNITA” no sudeste angolano, uma área outrora sob cobertura permanente
das “South Africa Defence Forces”, uma área cuja “defesa” acabou
por levar à batalha decisiva do Cuito Cuanavale.
A primeira grande fornada
dos “Peace Parks Foundation” em “áreas sem
governação”, “transfronteiriças”, foi estabelecida entre as fronteiras da
África do Sul, da parte sul quer da Namíbia quer do Botswana, bem como das
regiões sudoeste de Moçambique e algumas regiões abrangendo as fronteiras da
Suazilândia e do Lesoto:
- | Ai – | Ais / Richtersveld
Transfrontier Park (noroeste da África do Sul e sudoeste da Namíbia).
- Kgalagadi Transfrontier Park
(norte da África do Sul sudoeste do Botswana).
- Limpopo / Shashe Transfrontier
Park (leste do Botswana, norte da África do Sul e sul do Zimbabwe).
- Great Limpopo Transfrontier
Park (sudoeste de Moçambique, sul do Zimbabwe e nordeste da África do Sul).
- Lubombo Transfrontier Park (sul
de Moçambique, leste da Suazilândia e leste da África do Sul).
- Maloti – Drakensberg
Transfrontier Conservation & Development Área (leste do Lesoto e área
contígua na África do Sul).
Essa fornada marca o compasso
inicial do “lobby” dos minerais e do cartel dos diamantes, enquanto
exploraram essencialmente a África do Sul, sua “originária praça-forte”,
desde os tempos de Cecil John Rhodes.
Uma segunda fornada foi depois
produzida mais a norte, tendo como fulcro principal uma região que envolve
as “áreas sem governação”,“transfronteiriças” de cinco países:
sudeste de Angola, Namíbia (faixa do Caprivi), sul e sudoeste da Zâmbia, norte
do Zimbabwe e norte do Botswana.
Entre os Transfrontiar Parks
periféricos dessa segunda fornada destacam-se:
- O Iona – Skeleton Coast, entre
o sudoeste angolano e o noroeste namibiano (periférico oeste em relação à
concentração central).
- O Malawi – Zâmbia,
um dos periféricos leste do sistema central.
- O Niassa – Selous, entre o
norte de Moçambique e o sul da Tanzânia, outro dos periféricos a leste.
- O Mnazi Bay – Quirimbas
Conservation and Marine Area (periférico leste entre o nordeste de Moçambique e
o sudeste da Tanzânia).
Os grandes parques centrais da
segunda fornada são:
- O Liuwa Plain – Mussuma
(fronteiras leste de Angola e Oeste da Zâmbia).
- Kavango – Zambezi (no nó de
fronteiras abrangendo a faixa de Caprivi, o sudeste de Angola, o sul da Zâmbia,
assim como o norte do Botswana e do Zimbabwe).
- Lower Zambezi – Mana Pools ,
entre o sul da Zâmbia e o norte do Zimbabwe e imediatamente a oeste de Moçambique
(à latitude da Província de Tete).
Esse riquíssimo conglomerado
central de Parques Nacionais no imenso espaço dos componentes da SADC, tem
como “pivot” o Botswana (onde se encontram as instalações principais
da SADC), onde os “lobby” dos minerais e o cartel se tornaram
omnipresentes em data recente, o que deixa prever a sua “catapulta
pacífica” de ocupação de “áreas sem governação” através
da “Peace Parks” na direcção de Angola e da RDC.
Para a prossecução desse
conglomerado Angola, que em função da situação que viveu de guerra está
atrasada em relação às iniciativas estruturantes levadas a cabo pelos outros
países junto à sua latitude sudeste, incorporará todos os espaços já acima
mencionados e pertencentes ao sudeste angolano em plena região do Cuando
Cubango, outrora área da UNITA e das “SADF”, que tem o eixo de Cuito
Cuanavale – Mavinga bem no centro.
O bastante homogéneo conglomerado
central de “Transfrontier Parks” da segunda fornada de iniciativas,
está bem no centro de todo o espaço formado pelos países componentes da SADC, o
que reforça a sua geo estratégia, visando por um lado consolidar o esforço bem
no centro da SADC, por outro preparar a terceira fornada com os olhos postos na
bacia do grande Congo, nos Kivus e nos Grandes Lagos.
A terceira fornada está pois em
embrião e abrangerá para além dos “Transfrontier Parks” do norte de
Angola, do oeste da RDC e sul do Congo (este fora da SADC), os emblemáticos
Parques do leste da RDC e oeste do Uganda, Ruanda e Burundi (países esses
também fora da SADC).
As expectativas do fim da
barbárie de sangue, abrirão para as oligarquias que tutelam os processos de
globalização inerentes à hegemonia, a oportunidade maior a
esse “fecho” no âmbito da SADC, um fecho que poderá levar à
integração na região do Uganda, do Ruanda e do Burundi, senão mesmo do Quénia.
As elites que promovem os
conceitos e a geo estratégia dos “Peace Parks Foundation” na África
Austral sabem bem que se está num momento intermédio, realizadaque foi a
primeira fornada e estando em curso a segunda, de que a incorporação do sudeste
de Angola se torna o“clímax”.
A terceira fornada será
logicamente realizada quando a ausência de tiros se consolidar em todo o
território da sacrificada RDC, bem como na região dos Grandes Lagos, um projecto
de enorme envergadura que terá na bacia do grande Congo o fulcro, (daí a ênfase
que tenho dado às iniciativas sincronizadas da USAID e do AFRICOM em Angola e
na RDC).
É evidente que a manipulação por
parte dos poderes que se prendem à hegemonia, em relação à evolução da RDC /
Grandes Lagos, levará à sincronização das iniciativas: imediatamente após a
ausência de tiros, aparecerá a “Peace Parks Foundation”…
Se os democratas com a
administração de Bill Clinton foram os impulsionadores de “freedom fighters” como
Museveni e Paul Kagame, com implicações directas e indirectas nos sucessivos
holocaustos que vieram a ocorrer na RDC – Grandes Lagos, são agora com a
administração de Barack Obama os impulsionadores da paz que se projecta na era
post Bush para a África Central e parte norte da SADC, a partir da “praça
forte” em que se está a constituir o Botswana.
A “Peace Parks
Foundation” é nesse aspecto, uma sua autêntica “mola impulsionadora
de contenciosos de paz nas fronteiras”, ou não tivessem sido as fronteiras
percursos incontornáveis para as guerras que tão bem souberam tirar, as elites
político-económicas-financeiras democratas, proveito, nos espaços periféricos
de praticamente toda a África sub Sahariana, onde os estados não possuíam
capacidade de controlo e de exercício de soberania, onde era mais fácil a
rapina, onde se tornavam mais baratas que nunca as explorações das mais
variadas matérias primas (entre elas os “diamantes de sangue” de
Savimbi), onde perderam a vida nessa voragem milhões de seres humanos e se
causaram prejuízos enormes ao meio ambiente.
Conforme sintetiza bem Nelson
Mandela entre seus pares elitistas profundamente implicados na história
contemporânea do continente e aglutinando as capacidades científicas de
investigação na natureza, antes promotores de guerras e hoje “avidamente
convertidos” às potencialidades dos post conflitos em África:
“Não conheço algum movimento
político, alguma filosofia, alguma ideologia, que não esteja de acordo com o
conceito dos Parques da Paz, conforme hoje vemos fruir.
É um conceito que pode ser
abraçado por todos.
Num mundo ferido por conflitos e
divisão, a paz é uma das pedras angulares do futuro.
Os Parques da Paz são um bloco em
construção nesse processo, não só na nossa região, mas potencialmente em todo o
mundo”.
Assim será se o conceito se
tornar extensivamente integrador e não for apanágio exclusivo das elites onde
Nelson Mandela tão bem se soube enquadrar reformulando o “circo
Rowland” (co-optando muitos dos rivais que sobreviveram a Timy Rowland e
assumindo a “crista da onda”à qual emprestou seu prestígio e auréola), com
todos os sentidos voltados para os benefícios de alguns e longe de garantirem
os benefícios para todos.
Por mim tenho sérias reservas,
quando além de verificar não terem sido contemplados os decisivos aspectos
históricos que evidenciam Cuito Cuanavale enquanto vitória do movimento de
libertação numa região central da geografia do SADC, tão mal se estar ainda a
equacionar as questões que se prendem por exemplo à sobrevivência sociocultural
dos khoisan, conforme evidências que nos têm sido sistematicamente fornecidas
pela “Survival” em relação ao Botswana. (3) e (4)
Por causa da exploração dos
diamantes no Kalahári às ordens da toda poderosa De Beers, pela via da
Debswana, conforme cada vez mais testemunhos, os Khoisan estão a ser expulsos
da sua “homeland”. (5)
Martinho Júnior - 17 de Setembro de 2009
Notas:
- (1) – “Peace Parks
Foundation” – http://www.peaceparks.org/Home.htm ; Pro Natura
- http://www.pronatura.org.br/home/index.asp ;
South Africa it’s possible – Peace Parks Foundation – http://www.southafrica.net/sat/content/en/us/full-article?oid=9462&sn=Detail&pid=1 ;
The global solution – http://www.ppf.org.za/
- (2) – Em Angola, “áreas
sem governação” são manipulações sem limite – Página Um – http://pagina-um.blogspot.com/2008/10/em-angola-reas-sem-governao-so.html
- (3) – Página Um – Cuito
Cuanavale – Vinte anos depois – I (ver também restantes) – http://pagina-um.blogspot.com/2008/01/cuito-cuanavale-vinte-anos-depois-i.html
- (4) – “Survival
International” – http://www.survivalinternational.org/
- (5) – Botswana official admits:
Bushmen were evicted for diamonds – http://www.survivalinternational.org/news/4878
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