PS continua no limiar da maioria
absoluta (43,6%). BE consolida terceiro lugar (10%). Direita cada vez mais
enfraquecida e fragmentada, com o PSD nos 20,4%.
Adivinha-se uma vitória
contundente da Esquerda sobre a Direita nas próximas eleições legislativas. De
acordo com uma sondagem da Pitagórica para o JN e a TSF, os três partidos da
"geringonça" somariam neste momento um pouco mais de 60% das
intenções de voto. Já os quatro partidos à Direita, valeriam menos de 30%.
É uma Direita cada vez mais
enfraquecida e fragmentada aquela que resulta do retrato político do mês de
agosto. Enfraquecida, porque já só soma 28,1% - são menos 10 pontos percentuais
do que o conseguido por Passos Coelho e Paulo Portas nas eleições de 2015; e
menos seis pontos do que marcava em abril, data do arranque dos estudos da
Pitagórica para o JN.
Fragmentada, porque há agora
quatro partidos com hipótese de eleger deputados: o PSD, que continua em perda
e está agora nos 20,4%; o CDS, também em queda, nos 4,9%; o Aliança a subir
ligeiramente para os 1,5%; e o Iniciativa Liberal, que se estreia nestas
projeções com 1,3%.
Assunção Cristas antecipou o
cenário de fragmentação esta semana, admitindo a formação de uma
"geringonça à Direita", depois das eleições de 6 de outubro. Mas foi
naturalmente mais contida no que diz respeito ao enfraquecimento.
Se a líder do CDS se pudesse dar
ao luxo de ser realista (estamos em campanha), não teria falado da hipótese de
essa nova "geringonça" chegar aos 116 deputados, que asseguram uma
maioria na Assembleia da República, antes da necessidade dos quatro partidos
somarem pelo menos os 78 deputados que impedissem os três partidos de Esquerda
de formar uma maioria constitucional de dois terços.
Será mais um fantasma lançado por
alguns políticos à Direita do que uma hipótese credível - o PS está a um mundo
de distância de BE e PCP em várias matérias. Veja-se o caso das leis laborais
-, mas, como se diz a propósito de bruxas, "que elas existem,
existem!"
Desentendimento à esquerda
Os últimos sinais políticos à
Esquerda são aliás pouco promissores relativamente a entendimentos. Há a
questão da atualização do salário mínimo, que o PS coloca fora de qualquer
acordo futuro. Como há o ataque de António Costa ao BE. Que não será fruto do acaso.
A sondagem da Pitagórica parece indicar que a luta pelas franjas que ainda
sobram à Esquerda será sobretudo entre PS e BE. E no mês de agosto, foram os
bloquistas que levaram a melhor.
É certo que a projeção para o PS
aponta à eventual subida de 0,4 décimas, para os 43,6%. Mas o BE subiria quase
um ponto percentual e chegaria aos 10%. A CDU ficaria com 6,6%, ou seja,
manteria o mesmo patamar dos últimos quatro meses (com oscilações diminutas).
Os socialistas continuam, como já
acontecera na sondagem de julho, no limiar da maioria absoluta. Faltarão poucas
décimas, mas o resultado atual poderá não ser suficiente. Basta recordar que os
44% de António Guterres, em 1999, foram curtos (faltou um deputado para a
maioria). Mas que os 45% de José Sócrates, em 2005, garantiram uma margem
razoável (mais cinco deputados do que o necessário para uma maioria absoluta).
Mesmo sem o poder total, os
socialistas poderão vir a ter mais uma hipótese de parceria. O PAN, partido
animalista reconvertido em ambientalista, tem uma projeção de 3,2%. Baixa
ligeiramente face a julho, mantém a hipótese de eleger vários deputados.
Rui Rio é quem mais sobe na taxa
de rejeição
Más notícias para o líder do PSD
no que diz respeito à sua candidatura a primeiro-ministro. Tal como partido,
também Rui Rio, enquanto trunfo eleitoral, está em baixa. Na taxa de rejeição
de voto, o social-democrata sobe quatro pontos: são agora 58% de inquiridos que
asseguram que "jamais" votariam nele. O mercado eleitoral estreita-se
a pouco mais de um mês das eleições e o fenómeno ganha visibilidade se
compararmos os resultados desde abril, data de arranque deste ranking: em
quatro meses, Rio acrescentou 13 pontos aos que o rejeitam.
Igual nesta má prestação só André
Ventura, que também subiu 13 pontos desde abril, mas soma agora uma taxa de
rejeição de 64%. Outros líderes partidários que estão a gerar rejeição são
Catarina Martins (BE), que também cresce quatro pontos em agosto, e André Silva
(PAN), que marca mais cinco pontos.
Ainda assim, o líder continua a
ser Santana Lopes, que já foi primeiro-ministro, acabando demitido por Jorge
Sampaio, em 2005. Talvez seja essa uma das explicações para a rejeição do eleitorado.
Quando se espreitam os resultados
contrários, ou seja, a percentagem de eleitores que "de certeza"
votaria em Rui Rio para primeiro-ministro, as notícias voltam a ser negativas:
o líder do PSD perde três pontos de julho para agosto e já só tem três pontos
de vantagem sobre Catarina Martins, do BE (em julho eram oito).
Quem lidera o ranking da firmeza
de voto é, como sempre, António Costa: tem assegurados 26% dos eleitores.
Acresce que o atual primeiro-ministro e recandidato pelo PS é também o líder
com a taxa de rejeição mais baixa entre os nove que são avaliados no barómetro
da Pitagórica para o JN e a TSF: soma 42%, mais um ponto que no mês passado.
Abstenção pode favorecer o PS e
prejudicar PSD
A sondagem do JN apresenta
evoluções aparentemente contraditórias, quando se comparam os resultados de
julho e agosto: na intenção direta de voto, o PS recua (menos 1,2 pontos) e o
PSD melhora (0,7 pontos); mas na projeção de resultados, é o PS que sobe e o
PSD que está em perda. Como explica Alexandre Picoto, da Pitagórica, a análise
que permite a projeção final inclui, para além da distribuição dos indecisos, o
tratamento da abstenção, que se faz a partir de oito perguntas sobre hábitos,
probabilidades e importância do voto. "Os prováveis abstencionistas são
então retirados da amostra", acrescenta o mesmo especialista. Não há,
portanto, uma contradição. O que se constata é que os eleitores socialistas
estão mais motivados do que os sociais-democratas para ir votar. Mas se isso
será mesmo assim, só será possível confirmar no dia das eleições, conclui.
Um em cada cinco eleitores ainda
está indeciso. São sobretudo mulheres, uma vez que a diferença para os homens é
de quase nove pontos (23,7% face a 15,1%). Onde menos se hesita é no Grande
Porto (apenas 11,2% de indecisos).
Rafael Barbosa | Jornal de Notícias
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