Inês Cardoso | Jornal de
Notícias | opinião
É um mistério para mim que a
sinistralidade rodoviária mereça tão pouca atenção política e da sociedade
civil em Portugal, mas talvez uma das explicações esteja na opacidade e
confusão causada pelas próprias estatísticas. Os relatórios anuais demoram muito
a ser publicados e dificilmente um cidadão anónimo terá a perceção real das
vítimas.
Primeiro são publicados os dados
das mortes a 24 horas. Depois, as mortes a 30 dias - ou seja, incluindo os
feridos graves que nos dias seguintes ao acidente acabam por morrer no
hospital. Este é o relatório com os números mais reais, mas no meio de tantas
estatísticas só os mais entendidos os apreendem em pleno. Este ano com uma
agravante: embora a 24 horas o número de mortes em 2018 seja bastante idêntico
ao de 2017, a
30 dias registaram-se mais 73, uma diferença abissal. Confuso? Bastante.
Apesar de tão grande disparidade
ser nova, os resultados divulgados esta semana passaram entre os pingos da
chuva (ou, com mais propriedade, entre os raios de sol). E não se ouviu uma explicação,
uma declaração que fosse, das autoridades responsáveis. Muito menos do ministro
da tutela que, há pouco mais de um mês, tinha comentado os números de 2018
baseado nas mortes a 24 horas considerando que eram "moderadamente
encorajadores".
Não, senhor ministro, não são de
todo encorajadores. São os piores desde 2012. Estão muito longe da média
europeia e dos nossos próprios objetivos, traçados para melhorar a segurança
rodoviária. Tão longe, aliás, que estes 675 mortos na estrada são mais 168 do que
o projetado para 2018 no plano estratégico aprovado por este Governo.
Se quiser ser sério, o próximo
ministro da Administração Interna, seja ele quem for, poderá dizer uma coisa
apenas. Que os números da sinistralidade só podem merecer preocupação séria,
mobilização nacional e muito investimento. Sinais de encorajamento, nem vê-los.
* Diretora-adjunta
Sem comentários:
Enviar um comentário