sábado, 31 de agosto de 2019

Portugal | Não, senhor ministro


Inês Cardoso | Jornal de Notícias | opinião

É um mistério para mim que a sinistralidade rodoviária mereça tão pouca atenção política e da sociedade civil em Portugal, mas talvez uma das explicações esteja na opacidade e confusão causada pelas próprias estatísticas. Os relatórios anuais demoram muito a ser publicados e dificilmente um cidadão anónimo terá a perceção real das vítimas.

Primeiro são publicados os dados das mortes a 24 horas. Depois, as mortes a 30 dias - ou seja, incluindo os feridos graves que nos dias seguintes ao acidente acabam por morrer no hospital. Este é o relatório com os números mais reais, mas no meio de tantas estatísticas só os mais entendidos os apreendem em pleno. Este ano com uma agravante: embora a 24 horas o número de mortes em 2018 seja bastante idêntico ao de 2017, a 30 dias registaram-se mais 73, uma diferença abissal. Confuso? Bastante.


Apesar de tão grande disparidade ser nova, os resultados divulgados esta semana passaram entre os pingos da chuva (ou, com mais propriedade, entre os raios de sol). E não se ouviu uma explicação, uma declaração que fosse, das autoridades responsáveis. Muito menos do ministro da tutela que, há pouco mais de um mês, tinha comentado os números de 2018 baseado nas mortes a 24 horas considerando que eram "moderadamente encorajadores".

Não, senhor ministro, não são de todo encorajadores. São os piores desde 2012. Estão muito longe da média europeia e dos nossos próprios objetivos, traçados para melhorar a segurança rodoviária. Tão longe, aliás, que estes 675 mortos na estrada são mais 168 do que o projetado para 2018 no plano estratégico aprovado por este Governo.

Se quiser ser sério, o próximo ministro da Administração Interna, seja ele quem for, poderá dizer uma coisa apenas. Que os números da sinistralidade só podem merecer preocupação séria, mobilização nacional e muito investimento. Sinais de encorajamento, nem vê-los.

* Diretora-adjunta

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