António
Jorge * | Luanda
Lucubrações...
- Será que o problema dos
motoristas de pesados de mercadorias e de materiais perigosos... se esgota na
análise das eventuais irregularidades na formação do sindicato e das legitimas
dúvidas sobre as reais intenções com este projecto sindical... por parte dos
seus principais dirigentes?
Será que o sindicato, mesmo tendo
uma origem, ilegal, pecaminosa e dúbia... os trabalhadores não tem razão para
exigirem melhores condições de trabalho e para isso lutarem afincadamente por
melhores condições salariais?
Sim... como foi possível tanta
adesão dos trabalhadores a este neófito sindicato?
Os trabalhadores que a ele aderiram estavam sindicalizados noutro sindicato ou não... ou são de uma e outra origem?
Que razões sindicais explicam
isto?
A adesão a este sindicato.
A acusação de partidarização do sindicato, não pega... é um argumento falacioso... porque afinal, todo o movimento sindical desde há algumas décadas, está partidarizado, como tudo na vida em sociedades democráticas.
Então... como explicar a perca
dos valores dos salários ocorrido nestes anos de abundância... democrática?
Nos meus tempos de dirigente
sindical... o SMN - Salário Mínimo Nacional... depois da sua promulgação no
governo de Vasco Gonçalves em 1974... teve dois objectivos fundamentais:
1º. Abranger os trabalhadores das
chamadas zonas brancas... os que não tinham convenção de trabalho especifica -
ACT ou CCT.
Nomeadamente; trabalhadores de limpezas, empregadas domésticas, rurais e outros não definidos, etc.
2º. Por via da aplicação do SMN, fazer subir indirecta e directamente as categorias dos maiores de 18 anos... pelo SMN, que nas suas convenções de trabalho, ganhassem menos do que o mínimo estabelecido nas suas convenções de trabalho.
Continuando... A esmagadora maioria de trabalhadores portugueses, mais de 80%, ganhavam muito mais que o SMN... e no caso a que estou ligado, aos trabalhadores do comércio e serviços... mais do dobro nas categorias superiores e intemédias... caixeiros ou operadores.
O valor dos salários no tempo...
foi completamente engolido... e hoje os trabalhadores, inversamente ao que se
passava antes, até aos anos 80 (deixei o movimento sindical em meados dos anos
80) - vergonhosamente estão a ganhar um salário.... quase todos ao mesmo nível
ou próximo do SMN.
Onde está a produtividade... até
provocada pelo aumento da riqueza e dos meios tecnológicos, do crescimento da
economia... para onde vai?
Onde está a reposição dos salários tendo em conta a inflação?
Mais ainda... como entender o
paradoxo... no meu sector o comércio no meu tempo... era caracterizado por ter
uma estrutura empresarial com uma média inferior a dois trabalhadores por
empresa... os comerciantes na sua maioria, eram antigos caixeiros... e com este
tipo de estrutura pobre se ganhava mais... muito mais do que agora?
O comércio hoje em Portugal é
caracterizado e dominado pelas grandes superficies e marcas internacionais e
redes de lojas e produtos... como é que se explica que uma estrutura comercial
rica, com aplicação de métodos racionais de gestão concentrada e de tipo
multinacional pagam menos... que os comerciantes portugueses do meu tempo...
que ainda é recente e eram ex-empregados do comércio?
Por alturas do 25 de abril, os
trabalhadores do comércio andavam pelos 200 mil... e comerciantes cerca de 300
mil... esta estrutura pobre herdada do fascismo pagava o dobro dos salários...
e os trabalhadores do comércio ainda tinham fim de semana... a histórica
conquista da semana inglesa, dos trabalhadores do comércio... e tinham direitos
e garantias nos contratos específicos de trabalho e nas leis laborais de então.
Espero ver aqui expressas algumas
explicações para eu perceber... o que entretanto se passou... Estive 24 anos em
Luanda, existe um hiato de tempo, entre 1994 e 2017, que me pode escapar na
análise desta realidade.
Mas uma coisa eu digo desde já:
- Se eu quando regressei de Angola e tivesse ainda de trabalhar no sector do comércio... também me determinaria a criar um sindicato do comércio... reinvindicativo... adaptado à realidade do Portugal actual, sem deixar de assumir, um sindicalismo de vanguarda, revolucionário, de massas e de classe!
Nota:
Em função das eventuais contribuições a este texto feito por mim ao correr da pena... voltarei de novo a este assunto para o aprofundar, por ser de importância relevante... e relacionado com as condições de vida dos trabalhadores e do povo... e desmistificar os contextos no pós abril... e do tipo de democracia em que vivemos... e claro... debater este momentoso assunto, de que aqui vos falo!
Em função das eventuais contribuições a este texto feito por mim ao correr da pena... voltarei de novo a este assunto para o aprofundar, por ser de importância relevante... e relacionado com as condições de vida dos trabalhadores e do povo... e desmistificar os contextos no pós abril... e do tipo de democracia em que vivemos... e claro... debater este momentoso assunto, de que aqui vos falo!
Ex-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio do Distrito do
Porto
Ex-Membro executivo da Federação Portuguesa dos Sindicatos do Comércio e Serviços
Ex-Secretário da USP - União dos Sindicatos do Porto
Ex-Secretário Nacional e Ex-Conselheiro Nacional da CGTP-Intersindical
Ex-Membro executivo da Federação Portuguesa dos Sindicatos do Comércio e Serviços
Ex-Secretário da USP - União dos Sindicatos do Porto
Ex-Secretário Nacional e Ex-Conselheiro Nacional da CGTP-Intersindical
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