As máquinas vão poder assegurar
metade do atual tempo de trabalho. Uma fatia de 14% dos empregos poderá estar
em causa, já alertou a OCDE. Os trabalhadores vão ser mais precários, mas
também mais felizes.
A automatização do trabalho poderá
levar Portugal a perder mais de um milhão de postos de trabalho até 2030,
principalmente na indústria transformadora e no comércio. "Metade do tempo
hoje dedicado ao trabalho pode ser automatizado", alerta Eduardo Castro Marques,
membro da Law Academy, que vai organizar, de 19 a 20 de setembro, no Porto,
a conferência Labour 2030, que juntará 150 oradores de 30 países para debater
matérias como a robotização, a inteligência artificial e as aspirações dos
trabalhadores neste novo mundo laboral.
A robotização da indústria e a
digitalização da economia vão provocar a curto e médio prazo profundas
alterações no mercado de trabalho. A própria Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE) já previu uma redução na casa dos 14% no
mercado do trabalho. E o país tem de estar preparado. Uma das preocupações é
que "ninguém pode ser deixado para trás", mas a verdade é que "a
maioria da população portuguesa (52,7%) tem apenas o ensino básico, contra
18,7% que concluíram o ensino superior", lembra Eduardo Castro Marques.
Outra realidade incontornável é que a era da robotização e da inteligência
artificial terá um impacto significativo em funções associadas a tarefas
repetitivas, sem um elevado grau de complexidade intelectual e criativa.
Novas oportunidades
Embora reconheça que ao nível das
qualificações há "ainda um longo caminho pela frente para garantir que
todos os trabalhadores portugueses estão preparados para esta transição",
Eduardo Castro Marques destaca que "a robotização e a digitalização da
economia são também uma oportunidade única para granjear maior qualidade de
vida no trabalho". Na sua opinião, o mercado laboral já não se interessa
pela visão clássica das profissões, mas pelas competências.
Nesta visão, o risco de
desemprego é reduzido em tarefas que integrem "perceção e
manipulação", e sejam de elevada complexidade, mas também "atividades
criativas e funções ligadas à inteligência emocional e social". Mas também
há espaço para um incremento de profissões associadas aos cuidados a idosos,
doentes ou crianças. Como sublinha, a procura por estas funções "vai
aumentar exponencialmente no futuro, uma vez que a substituição de cuidadores
humanos por robôs parece muito pouco provável, ainda que tecnologicamente possível".
Felizes e precários
Hoje, as relações laborais estão
mais precárias e "dificilmente voltaremos ao modelo um trabalhador, um
empregador e um contrato de trabalho por tempo indeterminado, muitas vezes até
à reforma". Castro Marques admite que as mudanças na economia e na
sociedade sucedem-se a um ritmo de tal forma rápido que "não se compadecem
com uma excessiva rigidez dos vínculos" e obrigam a uma maior
adaptabilidade dos trabalhadores. "Apesar do que isso possa significar
para a estabilidade dos projetos de vida de cada um."
Mas a felicidade no trabalho é
agora um imperativo para estas novas gerações. Segundo o responsável, as atuais
exigências dos trabalhadores estão mais focadas em questões como a
flexibilidade horária, trabalho remoto, na conciliação da vida pessoal com a
profissional, em ser feliz no local de trabalho.
Sónia Santos Pereira - jornalista
do Dinheiro Vivo
| em Diário de Notícias
Imagem: © EPA/Space Center
Yuzhny/TsENKI
Sem comentários:
Enviar um comentário