Com economia estagnada, preços
subindo e reforma da Previdência irritando milhões de russos, reação violenta a
protestos em Moscovo mostra que governo está cada vez mais longe da população,
opina Miodrag Soric.
Eles não se deixam intimidar, não
por ameaças, não por bastões da polícia, não por prisões. Dezenas de milhares
compareceram à manifestação no centro de Moscovo neste sábado (10/08) e exigiram
eleições locais justas, liberdade para os presos políticos e a renúncia do
presidente Vladimir Putin. Foi a maior manifestação em anos – no meio do
período de férias, quando muitos russos passam seu tempo livre em sua dacha. A
sociedade civil russa desafia o Kremlin.
Superficialmente, trata-se de
eleições locais comparativamente insignificantes. Na realidade, há uma grande
insatisfação com toda a liderança estatal. Isso também é comprovado por
pesquisas, que apontam que a confiança no chefe de Estado atingiu uma baixa
histórica.
Por muitas razões: a economia
está estagnada, os preços sobem, a corrupção atingiu proporções alarmantes, a
reforma da Previdência irrita milhões de pessoas. Mais e mais russos estão
insatisfeitos – mas o governo se recusa a aceitar uma alternativa política. Nem
mesmo em nível local.
Isso leva dezenas de milhares de
pessoas para a rua. Elas são destemidas. E isso assusta o poder, que reage de
forma desesperada. Reiteradamente, o presidente e o primeiro-ministro prometem
melhorias, mais dinheiro, salários mais altos. Na realidade, no entanto, o
padrão de vida dos russos vem caindo há cinco anos. Todo mundo sabe disso, eles
sentem isso em seus bolsos.
No final, o que está em jogo é
mais do que apenas bens materiais. Muitos russos comuns se sentem deixados para
trás, não mais compreendidos, não mais percebidos ou até mesmo não mais
representados pelo governo. Isso também ficou claro na manifestação.
Ela aconteceu num trecho de rua
isolada por prédios de escritórios e forças de segurança, longe dos edifícios
governamentais, longe da vida vibrante do centro. Por isso, uma parcela dos
manifestantes marchou, após a parte oficial dos protestos, em direção à
administração presidencial no centro da cidade. Lá, eles foram abordados por
centenas de forças de segurança, que prenderam muitos daqueles que protestavam.
Entre os manifestantes estavam
muitos jovens de mentalidade liberal que querem mais liberdade e democracia no
estilo ocidental; mas também moscovitas mais velhos. Eles carregavam bandeiras
comunistas. Eles ainda choram de nostalgia pela era soviética, quando – segundo
a sensação deles – o Estado cuidava dos interesses da população.
Antigos comunistas ou jovens
democratas – ambos estão ligados pela certeza de não serem mais levados a sério
por esse governo.
Quanto mais tempo o presidente
Putin continuar no cargo, maior será a distância entre o governo e os
governados. O Kremlin usará cada vez mais policiais, controlará cada vez mais a
imprensa e perseguirá cada vez mais os dissidentes para permanecer no poder.
Perspectivas tristes.
Deutsche Welle | opinião
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