Dez semanas consecutivas de protestos
mergulham região semiautónoma chinesa em sua mais grave crise política em
décadas, representando um desafio para o governo em Pequim e para as finanças
da cidade.
No décimo fim-de-semana
ininterrupto de protestos em Hong Kong, a polícia da região semiautónoma
chinesa voltou a usar gás lacrimogéneo, neste domingo (11/08), para dispersar
manifestantes que bloquearam estradas e fecharam um dos principais túneis da
cidade. Até o meio-dia (hora local), 16 pessoas foram detidas por reunião
ilegal, porte de armas e agressões a policiais.
Na sexta-feira, a polícia de Hong
Kong informou que 592 pessoas já haviam sido detidas desde o início dos
protestos, em 9 de junho, com idades entre 13 e 76 anos, enfrentando acusações
que podem levar a penas de até dez anos de prisão.
Dez semanas consecutivas de
protestos cada vez mais violentos mergulharam Hong Kong em sua mais grave crise
política em décadas, representando um desafio para o governo central de Pequim
e para a economia da região semiautónoma.
Quartos de hotel vazios, lojas
sem clientes e até mesmo fechamento temporário na Disneylândia: os mais de dois
meses de protestos tiveram um grande impacto na economia da cidade – sem fim à
vista.
"A situação desta vez é mais
grave", disse Lam. "Em outras palavras, a recuperação económica
levará muito tempo."
O setor privado, em particular a
indústria do turismo, começou a contabilizar o custo de mais de dois meses de
manifestações que surgiram em oposição a um projeto de lei que permite
extradições para a China, mas que se transformaram num movimento pró-democracia
mais amplo.
Os números são preocupantes: as
taxas de ocupação dos hotéis estão abaixo dos percentuais de "dois
dígitos", assim como as chegadas de visitantes em julho. As reservas de
excursões do mercado de curta distância caíram até 50%.
"Nos últimos meses, o que
aconteceu em Hong Kong realmente colocou a subsistência da população local e a
economia numa situação preocupante ou até perigosa", alertou Edward Yau,
secretário de Comércio e Desenvolvimento Económico de Hong Kong.
A indústria do turismo da cidade
diz que se sente sitiada. "Acho que a situação está ficando cada vez mais
séria", disse Jason Wong, presidente do Conselho da Indústria de Viagens
de Hong Kong. O impacto é tão ruim que os agentes de viagens estão considerando
colocar os funcionários em licença não remunerada enquanto tentam resistir à
tempestade, alertou.
Uma série de advertências de
viagens emitidas por países como os Estados Unidos, a Austrália e o Japão
provavelmente agravará os problemas no setor de turismo.
Imagens de confrontos cada vez
mais violentos entre manifestantes mascarados e a polícia usando gás lacrimogéneo
nas ruas da cidade ocuparam as manchetes em torno do planeta, com os ativistas
anunciando novas manifestações durante todo o mês de agosto, enquanto fazem
pressão por suas demandas.
O setor de vendas também foi
atingido pela queda do número de visitantes à caça de pechinchas, com lojas
frequentemente forçadas a fechar durante os protestos às vezes diários.
Especialistas dizem que a atual situação está agravando a crise econômica que
Hong Kong já vivenciava como resultado da guerra comercial EUA-China.
É um "duplo golpe",
avisou Stephen Innes, sócio-gerente da empresa de investimentos Valour Markets.
O mercado imobiliário, que caiu mais de 20% durante o crash financeiro de 2008,
continua forte. Mas Innes alertou que o aprofundamento da crise poderia
resultar em saídas de capital: "Todo o dinheiro do continente que
sustentou os mercados imobiliários de Hong Kong poderia sair tão rapidamente
quanto entrou."
O quadro económico da cidade já
estava em dificuldades, mesmo antes do início dos protestos, com o crescimento
recuando de 4,6% para 0,6% no primeiro trimestre – o pior desempenho trimestral
em uma década.
Dados preliminares sugerem que o
segundo trimestre não se saiu melhor, enquanto o governo ainda espera um
crescimento de 2-3% neste ano – as previsões dos grandes bancos são mais
pessimistas.
Essas quedas refletem os efeitos
da guerra comercial EUA-China numa economia que depende muito do processamento
de logística e é vulnerável a uma queda no comércio.
O impacto dos protestos sobre o
crescimento não estará claro até o final do ano, mas Martin Rasmussen,
economista especializado em China na empresa de pesquisa macroeconómica Capital
Economics, disse que a crise deve pesar muito.
"No começo, os protestos
eram bastante pacíficos, podia-se dizer comparável às manifestações de
2014", disse Rasmussen, referindo-se aos movimentos dos guarda-chuvas na
cidade. "Agora eles se tornaram muito mais extremos, então achamos que o
impacto na economia começará a cobrar seu preço".
Deutsche Welle | CA/afp/lusa/rtr
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