sexta-feira, 27 de setembro de 2019

A boa cepa não permite lugar a dúvidas e confirma-o na degustação - curta-o


Eis o simpático e sempre útil Expresso Curto, colheita do sempre afável Ricardo Costa, das Adegas Impresa-Balsemão & Associados. O cheiro a mosto é inundante, a boa cepa não permite lugar a dúvidas e confirma-o na degustação. O palato vibra de satisfação e a mente parece que voa para recantos inimagináveis.

O frutuoso Trump personalisa o que o vasilhame contém do milionário excêntrico, aloucado, pusilâmine, robusto por empréstimo da balofice que o caracteriza e de que faz garbo. Que vão destitui-lo. Queriam? Querem? Mas não vão ter o que ensejam. Mais um mandato para a cepa há-de vir. Só depois é que talvez os ditos “Democratas” consigam colocar na cancerosa Casa Branca um dos seus. A diferença entre a seita de Trump (Republicamos) e a seita dos “Democratas” não é de monta. As moscas mudam mas o poiso da defecação mantém-se, assim como as práticas da assunção de donos do mundo e de destruidores do mesmo… Que por isso e mais até é um planeta condenado.

Na chamada Europa de Leste continuam as turras e os desaguisados. Presunção e água benta do ocidente ajuda à festarola. Esperemos que ainda não se peguem à trolha porque depois tudo poderá evoluir para a catástrofe nuclear que justificará mais rapidamente o citado planeta condenado. Certo é que os EUA estão a morar nas fronteiras da Rússia, provocando e não contribuindo nada para entendimentos. Além disso há o fascismo evolutivo daqueles países e povos ditos do leste. O que agrada aos extremistas nazis ocidentais. E esses vão pé ante pé invadindo a colmeia de Bruxelas denominada por suposta União Europeia. União?

Em Portugal temos Tancos e o armamento roubado por prato quente. Também aqui servido no Curto. A frio pairam as dúvidas justificáveis sobre Marcelo. Se teve conhecimento das manigâncias com que queriam ocultar os crimes, ou se não teve, é lá com ele. Até porque os portugueses quase nada contam sobre essas tais manigâncias e outras. Como constatamos quase sempre. Cá para nós devemos aceitar com naturalidade um diálogo do tipo: “Veja lá senhor presidente que aconteceu isto e aquilo nos paióis de Tancos.” Resposta: "Ah, não diga! Olhe, eu não sei de nada e nem ouvi o que me disse sobre esses bancos.” Não são bancos mas sim Tancos, senhor PR." Selfie: Pose de olhos tapados e um comentário: “Credo. Deste lado não se ouve nada”.

Evidentemente que se o PR Marcelo afirma que não é metido nem achado nestas berlindas militares-tanquistas, de cowboys, traficantes e ladrões. É porque oficialmente essa é a verdade a cem por cento… ou talvez mais. Confiemos. Do mesmo modo que confiamos em “coisas” de que desconfiamos.

E o PM António Costa nisto tudo? Há gente que consegue passar pelos intervalos dos pingos de chuva sem se molhar. Técnicas espantosas. Ainda o havemos de ver caminhar sobre o Tejo rumo a Cacilhas - que já não é terra de burros.

Expresso com preâmbulo longo neste Curto. Anunciamos o final da prosa. Rumem ao exposto por Ricardo Costa. Saboreiem a espuma expressiva do texto. Expressamente bem tirado. Nada melhor que depois de provar a boa cepa beber um café de fazer estalar o palato e a alma inquieta. 

Bom dia. Vá ler tudo a seguir, made in Ricardo Costa.

MM | Redação PG



Bom dia este é o seu Expresso Curto

E tudo um telefonema levou?

Ricardo Costa | Expresso

Ouvir falar de um impeachment a Donald Trump é tudo menos uma novidade. Desde que ganhou a corrida para a Casa Branca que essa hipótese paira sob os céus de Washington, sempre com duas constantes: a alegada interferência russa no processo eleitoral e o receio que a cúpula do Partido Democrata tem de lançar o país numa guerra suja, porque é o tipo de processo onde Trump normalmente sai reforçado, dada a sua lógica belicista e tribal.

Estava o mundo nisto, e a contar os dias para as eleições americanas de 2020, quando tudo mudou. O epicentro geográfico rodou da Rússia para a Ucrânia e o medo dos democratas deu lugar à abertura de um processo de impeachment, que vai ser longo e, portanto, cruzar toda a campanha eleitoral, onde Trump tenta uma reeleição sem ainda saber quem é o seu adversário.

Em apenas dois dias essa ideia de que não estamos a viver uma novidade foi-se esboroando. O telefonema de Trump para o Presidente ucraniano – um cómico sem qualquer experiência política – pode configurar mesmo uma tentativa de interferência nas presidenciais americanas de 2020, há evidentes tentativas da Casa Branca de colocar os relatos do telefonema fora do sistema habitual e o denunciante (whistleblower), que está protegido pela justiça americana, parece ter muitos detalhes.

Pelos vistos, Trump foi mesmo imprudente a tentar forçar uma investigação ucraniana a negócios do filho de Joe Biden – seu possível adversário em 2020 – no país, condicionando uma ajuda militar à Ucrânia. A imprudência não é novidade, mas o facto de o poder ter feito enquanto Presidente, com um Estado estrangeiro, por causa de um futuro adversário eleitoral e tentando apagar o rasto do telefonema pode ser um sarilho tremendo.

O New York Times escreveu entretanto que o denunciante será um agente da CIA que trabalhou na Casa Branca - o que motivou muitas críticas ao jornal - e o Los Angeles Times divulgou uma gravação audio onde Trump ameaça tratar judicialmente o denunciante como um traidor.

Uma última nota para quem acha que a democracia americana é frágil: vejam como todo o processo de denúncia é protegido e como decorre de forma implacável em todas as cadeias hierárquicas, sem direito a improviso. Regras são regras e nem Trump as altera.

OUTRAS NOTÍCIAS

Tancos, Tancos, Tancos. A bomba caiu ontem na campanha eleitoral e hoje faz manchete em todos os jornais: Azeredo autoriza perdão a ladrões, Ex-ministro foi avisado dois meses antes do esquema da PJM, MP diz que encenação de Tancos beneficiava imagem do governo, Toda a história da farsa das armas roubadas em Tancos, Tancos as duas tramas…

Já ontem, o Expresso Diário trazia esta manchete: Tancos na campanha – à política o que é da política. A chave está exatamente aqui, porque se o processo estava na Justiça – onde, claro, continua a correr -, uma acusação desta natureza não vai, nem pode, escapar à campanha eleitoral.

Ninguém sabe que consequências eleitorais terá, mas é evidente que fez estalar o verniz entre PS e PSD, com declarações e respostas formais em tom muito pesado, e que vai cruzar toda a campanha eleitoral. O PSD faz de Tancos e das responsabilidades governamentais o seu casus belli, e o PS não tem grande escolha na matéria. Ignora o tema no seu discurso, mas não escapa a perguntas nem a ataques diretos. A dez dias de eleições, o ambiente ficou mais pesado e tenso e dificilmente volta para trás.

O texto da Ângela Silva, publicado esta manhã no Expresso Online, explica muito bem o que se passa na campanha. O título diz quase tudo; “Petardo de Tancos virou os guiões da campanha do avesso”.

A entrada do texto diz o resto: “O timing do Ministério Público para acusar Azeredo Lopes virou a campanha do avesso. Costa tenta voltar ao guião da estabilidade mas foi apertado por Marcelo. Rio decidiu fazer política com um caso judicial. Costa expôs a fratura (irreparável?) com o líder do PSD. E a esquerda assumiu, contrariada, que Tancos é tema. Finalmente, cheira a drama na estrada. A campanha segue dentro de momentos”.

Já agora, e porque estamos a falar de um caso grave de justiça, vale a pena perceber bem o que está em causa no processo. Este artigo do Rui Gustavo e do Hugo Franco no Expresso Diário (para assinantes), explica bem o que o MP pensa do “pacto de silêncio” de Azeredo Lopes com a investigação paralela da Polícia Judiciária Militar.

Hoje é dia de greve climática. Hoje é dia de greve climática. Hoje é dia de greve climática. Repeti a frase três vezes porque o tema está a ganhar uma importância brutal em vários países e hoje deve arrastar muitas pessoas às ruas de várias cidades do país e do mundo. É um tema a que a política ligava pouco mas a que os jovens ligam mesmo muito.

“Conclua o Brexit ou vai ter que enfrentar motins nas ruas”. A frase é de um ministro e terá sido dita a Boris Johnson. Faz a manchete de hoje do The Times, num momento de impasse na política do Reino Unido. A situação é de tal modo confusa que só pode ser eventualmente clarificada em eleições. O problema é que não há eleições, nem novo acordo com Bruxelas, nem Brexit, nem coisa nenhuma.

O Stena Impero já navega a caminho do Dubai. Pelo nome do navio, o leitor talvez não perceba a importância destas linhas, mas estamos a falar do petroleiro de bandeira britânica, que tinha sido apreendido pelas autoridades iranianas em julho. Já foi autorizado a zarpar e fez-se ao caminho para o vizinho Dubai.

Morreu Jacques Chirac, um dos mais importantes políticos franceses do séc. XX, com um percurso que vai do Maio de 68 até às disputas com Bush por causa da invasão do Iraque. Herdeiro perfeito do gaullismo, foi a outra face da moeda cunhada com o rosto de Miterrand. Personagem contraditória e fascinante, motivou dois textos do Expresso que recomendo vivamente:

- Um Presidente que foi um pouco troca-tintas mas um real fenómeno, excelente texto do nosso correspondente em Paris, Daniel Ribeiro.

- O génio do paradoxo: Jacques Chirac 1932-2019, artigo mais analítico do Rui Cardoso, que retrata muito bem o homem que cruzou décadas e décadas da história de França.

Já ouviu um bebé a berrar num avião? Se anda de avião, é impossível que a resposta não seja afirmativa. A JAL, companhia aérea japonesa lançou um novo alerta a quem faz check-in online nos seus voos: quando se escolhe o lugar, aparece um sinal nos sítios onde vão sentados bebés entre os oito dias e os dois anos. Enfim, qualquer dia começam a diferenciar os preços dos lugares em função da distância para os bebés e, claro, os seus berros.

Gosta de contar os likes dos seus posts no Facebook e Instagram? Pois bem, isso pode começar a ter os dias contados. Pressionado pela evidente promoção de uma corrida aos likes, num processo com consequências sociais, nomeadamente de bullying e distúrbios psicológicos, o Facebook está lançar um teste que omite de terceiros esta “informação”.

O teste começa esta sexta na Austrália, onde também já corria um projeto-piloto idêntico sobre o Instagram, também propriedade do Facebook. A Austrália tem sido pioneira na pressão para as gigantes tecnológicas alterarem as regras do seu funcionamento, dadas as queixas e pressões de organizações sociais, sobretudo ligadas a problemas de saúde mental.

O Negócios lembra-nos que passam quarenta anos sobre a publicação do livro que mudou a vida de António Lobo Antunes e abriu uma página nova e muito importante na literatura portuguesa. Foi quando Memória de Elefante apareceu nas livrarias.

O Sporting perdeu ontem, novamente em casa, agora para a Taça da Liga e com o Rio Ave. Foi a última partida de Leonel Pontes como treinador, que cede o lugar no banco a Silas. Vai ter vida difícil, o novo treinador. Vejamos, por exemplo, as capas dos desportivos desta manhã:

- KO, manchete de A Bola.

- Silas para ontem, no Record.

- Em carne viva, O Jogo.

- Agora é que vai ser, manchete inventada por mim, em nome dos sportinguistas.

Silas, amigo, é este Sporting que vai estar contigo. Se é sportinguista deve ler a crónica do Diogo Pombo na Tribuna sobre o jogo de ontem. Se não é, também deve ler. Digamos que o grau de preocupação não varia com a escrita, mas com o posicionamento – e o batimento cardíaco – do leitor.

FRASES

"É pouco crível que um ministro não articule aspetos desta gravidade com o primeiro-ministro". Rui Rio, presidente do PSD, sobre o caso Tancos

"Atingiu a dignidade desta campanha". Resposta de António Costa, secretário-geral do PS, à declaração de Rui Rio

“Falta de eficácia de uma equipa sobre brasa”. Leonel Pontes, treinador do Sporting, depois de perder em casa com o Rio Ave

O QUE EU ANDO A LER

O Quinto Risco, de Michael Lewis é um livro do ano passado, com publicação muito recente em Portugal, e que merece uma leitura em pleno processo de impeachment. A abordagem de Lewis à presidência de Trump não é a mais óbvia, mas ganha uma incrível atualidade com o que estamos a assistir.

Michael Lewis é um dos mais famosos jornalistas americanos e um produtor de best sellers em série, com temas que vão das crises financeiras ao baseball. Este livro viaja pelos bastidores da Casa Branca através de departamentos governamentais menos óbvios, como os do comércio, da agricultura ou da meteorologia.

O retrato de O Quinto Risco é aterrador, porque mostra como uma gestão propositadamente incompetente de áreas chave da administração pública pode ter efeitos enormes na sociedade, na economia, nos negócios (normalmente de amigos) e… nos riscos da população. Em menos de um fósforo, instituições fortes e credíveis foram tomadas de assalto por escolhas absurdas, sem precedente e com consequências imprevisíveis.

Aquilo que Lewis mostra, num livro que se lê muito depressa, é que há perigos enormes e irreparáveis na destruição de uma máquina administrativa que, de forma pouco visível, reduz e controla os riscos em que a população incorre.

Nem de propósito, a capa da Revista do Expresso de amanhã é ocupada por Elisabeth Warren, a senadora que ganha tração eleitoral no Partido Democrata e que pode ameaçar Trump. Amanhã está nas bancas, mas pode ser lido por assinantes digitais hoje às 23h, quando arranca o Expresso da Meia-Noite (onde Tancos vai estar sobre a mesa).

Até lá, já sabe, é ir consultando o site do Expresso e seguir os alertas do telemóvel para não correr o risco de chegar a uma conversa ou a um jantar com ar de quem não sabe o que se passa. Quem avisa…

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