Primeiro-ministro israelita está de olho no
Vale do Jordão, onde vivem dois milhões de palestinos. ONU fala em ameaça à
solução de dois Estados, e autoridades palestinas dizem que medida destruiria
todas as chances de paz.
Benjamin Netanyahu, prometeu nesta terça-feira (10/09) que, caso seja reeleito
na próxima semana, pretende anexar parte da Cisjordânia ocupada, uma
medida que ameaça inflamar o conflito entre israelitas e palestinianos ao reduzir
as esperanças de uma solução de dois Estados.
"Hoje anuncio minha
intenção, após o estabelecimento de um novo governo, de aplicar a soberania
israelita no Vale do Jordão e no norte do mar Morto", afirmou Netanyahu
num discurso exibido na televisão israelita. Mostrando um mapa, ele chamou a
área de "fronteira oriental de Israel".
O PM adiantou que pretende
anexar também outros assentamentos israelitas na Cisjordânia, mas somente após
consultar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. "Estou esperando
para fazer isso em máxima coordenação com Trump", declarou.
Netanyahu afirmou ainda que o
plano de paz para o conflito entre israelitas e palestinianos, que vem sendo
preparado junto com Washington, será apresentado depois das eleições, e pediu
apoio da população, com o voto, para que ele lidere as negociações.
A anexação prometida por
Netanyahu pode vir a tomar permanentemente um terço da Cisjordânia,
deixando os palestinos com pouco mais do que isolados enclaves.
Ele não deixou claro o que
pretende fazer com os dois milhões de palestinianos que vivem hoje no Vale do
Jordão, considerado celeiro do almejado Estado da Palestina.
O anúncio foi visto como uma
tentativa de última hora de Netanyahu de angariar votos de seus apoiantes antes das eleições gerais em Israel em 17 de setembro. Espera-se uma disputa
acirrada entre o partido do primeiro-ministro, o direitista Likud, e a aliança
centrista e liberal Azul e Branco, liderada pelo ex-chefe militar Benny Gantz.
O pleito foi convocado após
Netanyahu ter
fracassado em formar um governo de coaligação em maio, criando uma
situação sem precedentes no país: a realização de uma segunda eleição geral no mesmo ano, além da dissolução do parlamento apenas um mês depois de ter
tomado posse.
Se Netanyahu for reeleito e
cumprir a controversa promessa de anexar parte da Cisjordânia, a medida
acabaria com a possibilidade de uma solução de dois Estados para o conflito,
que há muito tempo tem sido foco da diplomacia internacional.
Reações indignadas
Os palestinianos reagiram
imediatamente ao anúncio do líder israelita, afirmando que ele destrói
qualquer esperança de paz entre os dois povos, enquanto adversários eleitorais
acusam Netanyahu de aplicar uma jogada cínica a fim de atrair votos de
nacionalistas de direita a uma semana das eleições.
Uma alta autoridade palestina
afirmou que a promessa coloca em risco o processo de paz na região. "Ele
não está apenas destruindo a solução de dois Estados, mas também todas as
chances de paz", afirmou Hanan Ashrawi à agência de notícias AFP. "É
um completo divisor de águas."
Antes do anúncio, o líder da
Autoridade Nacional Palestina, Mohammad Shtayyeh, já havia alertado contra essa
medida, afirmando que "o território palestino não faz parte da campanha
eleitoral de Netanyahu".
As Nações Unidas também se
pronunciaram nesta terça-feira, dizendo que qualquer decisão israelita de
"impor suas leis, jurisdições e administração na Cisjordânia ocupada"
não teria "efeito legal internacional".
"A posição do
secretário-geral [António Guterres] sempre foi clara: ações unilaterais não são
úteis ao processo de paz", afirmou o porta-voz da ONU Stéphane Dujarric. A
anexação do Vale do Jordão "seria devastadora para o potencial de reavivar
as negociações, a paz regional e a própria essência de uma solução de dois
Estados", acrescentou.
Por sua vez, o ministro do
Exterior da Jordânia, Ayman Safadi, afirmou que o passo "levaria toda a
região para a violência". "As medidas unilaterais que ele [Netanyahu]
propõe arriscam matar todo o processo de paz e representam uma ameaça à paz e à
segurança na região."
A Jordânia, que é guardiã dos
locais sagrados muçulmanos em Jerusalém oriental, anexada por Israel, tem um
tratado de paz com o Estado judaico, firmado em 1994.
Chanceleres árabes também
condenaram os planos de Netanyahu, afirmou Ahmed Aboul Gheit,
secretário-geral da Liga Árabe, após um encontro no Cairo entre os ministros do
Exterior dos países que compõem a organização. Segundo ele, uma anexação
minaria qualquer chance de progresso no processo de paz entre israelitas e palestinos.
O Vale do Jordão compreende cerca
de um terço da Cisjordânia e contém numerosos assentamentos israelitas,
considerados ilegais sob a lei internacional pela maioria dos países do mundo.
Trata-se de um território de
2.400 quilómetros quadrados que se estende do mar Morto, no sul, à cidade
israelita de Beit Shean, no norte. Os palestinianos desejam que o Vale do Jordão
sirva como perímetro oriental de seu próprio Estado na Cisjordânia e na Faixa
de Gaza.
Deutsche Welle | EK/afp/ap/efe/rtr
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