Domingos de Andrade*| Jornal de Notícias | opinião
O problema da Direita não é Rui
Rio, embora as elites não gostem do "parolo do Norte", como o chamam
em surdina, e o seu ar de autossuficiência apartidário não ajude. O problema da
Direita, protagonizada pelo PSD, é que lhe falta tudo, a remoer na herança de
Passos Coelho e repleta de líderes órfãos.
Não tem discurso. Não se
vislumbra um projeto político diferente e melhor do que o dos socialistas. Não
está mobilizada. Divide-se no ruído de putativas lideranças que ainda não
perceberam o risco de chegar a 6 de outubro com um partido nos mínimos. E com
pouco para liderar depois das eleições.
A última sondagem da Pitagórica
para o JN e a TSF (sim, as sondagens valem o que valem, mas quanto a serem
encomendadas estamos no mesmo domínio do delírio de quem acredita em bruxas), a
cinco semanas das eleições, deveria ser suficiente para fazer soar as
campainhas.
O bloco tradicional (PSD + CDS)
já só vale 25,3% (teve mais de 38% em 2015, quando a austeridade ainda parecia
um fosso sem fundo). Ou seja, perde mais de 13 pontos relativamente às últimas
legislativas. E quase sete pontos desde que começou este ciclo de sondagens, em
abril.
O retrato só melhora se somarmos
dois novos partidos, o Aliança e a Iniciativa Liberal. Chega aos 28,1%, mas,
mesmo assim, representa uma queda de mais de dez pontos percentuais comparando
com as eleições de 2015.
Portanto, em queda e
simultaneamente a fragmentar-se, restando um partido de média dimensão (o PSD,
a rondar os 20%) e três pequenos partidos (o CDS com 4,9%, o Aliança com 1,5% e
o Iniciativa Liberal com 1,2%), não sendo sequer possível dizer ainda se estes
chegarão ao Parlamento.
O diabo, se vier pela confirmação
das sondagens em urna, é o PSD entrar numa crise profunda, com menos
militantes, menos subvenções estatais, uma estrutura pesada e uma guerra de
lideranças difícil de superar. O diabo, para a Direita, é um Parlamento quase
unicolor, com o sistema partidário a perder pluralidade, e na expectativa de
que a Esquerda volte a desaprender a dialogar. Rio remete para as bruxas. Resta
saber se está preparado para o diabo.
* Diretor
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