domingo, 1 de setembro de 2019

Portugal | Onde estão as bruxas?


Domingos de Andrade*| Jornal de Notícias | opinião

O problema da Direita não é Rui Rio, embora as elites não gostem do "parolo do Norte", como o chamam em surdina, e o seu ar de autossuficiência apartidário não ajude. O problema da Direita, protagonizada pelo PSD, é que lhe falta tudo, a remoer na herança de Passos Coelho e repleta de líderes órfãos.

Não tem discurso. Não se vislumbra um projeto político diferente e melhor do que o dos socialistas. Não está mobilizada. Divide-se no ruído de putativas lideranças que ainda não perceberam o risco de chegar a 6 de outubro com um partido nos mínimos. E com pouco para liderar depois das eleições.

A última sondagem da Pitagórica para o JN e a TSF (sim, as sondagens valem o que valem, mas quanto a serem encomendadas estamos no mesmo domínio do delírio de quem acredita em bruxas), a cinco semanas das eleições, deveria ser suficiente para fazer soar as campainhas.

O bloco tradicional (PSD + CDS) já só vale 25,3% (teve mais de 38% em 2015, quando a austeridade ainda parecia um fosso sem fundo). Ou seja, perde mais de 13 pontos relativamente às últimas legislativas. E quase sete pontos desde que começou este ciclo de sondagens, em abril.

O retrato só melhora se somarmos dois novos partidos, o Aliança e a Iniciativa Liberal. Chega aos 28,1%, mas, mesmo assim, representa uma queda de mais de dez pontos percentuais comparando com as eleições de 2015.

Portanto, em queda e simultaneamente a fragmentar-se, restando um partido de média dimensão (o PSD, a rondar os 20%) e três pequenos partidos (o CDS com 4,9%, o Aliança com 1,5% e o Iniciativa Liberal com 1,2%), não sendo sequer possível dizer ainda se estes chegarão ao Parlamento.

O diabo, se vier pela confirmação das sondagens em urna, é o PSD entrar numa crise profunda, com menos militantes, menos subvenções estatais, uma estrutura pesada e uma guerra de lideranças difícil de superar. O diabo, para a Direita, é um Parlamento quase unicolor, com o sistema partidário a perder pluralidade, e na expectativa de que a Esquerda volte a desaprender a dialogar. Rio remete para as bruxas. Resta saber se está preparado para o diabo.

* Diretor

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