domingo, 1 de setembro de 2019

Portugal | Rentrée do PSD com declaração de guerra


Rui Rio passou temas quentes em revista, deu motivos para não votar no PS e até homenageou o poeta António Aleixo. Do Pontal, sai ainda uma declaração de guerra e um prémio para os socialistas.

Vai ser uma guerra daquelas de que Rui Rio gosta, palavra de líder social-democrata. O dossiê é o da descentralização e que até foi alvo de acordo entre governo e sociais-democratas nesta legislatura, mas o trabalho feito está longe de estar completo.

"Vamos comprar uma guerra daquelas que eu gosto, vamos comprar uma guerra pela descentralização, pela desconcentração, vamos afrontar, se necessário for, interesses instalados em nome de um país mais equilibrado", defende Rui Rio no comício que marca a rentrée política do PSD.

O presidente do partido sublinha a injustiça territorial de Portugal - "algo que já toca a estupidez" - com a concentração que existe nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto em contraste com a desertificação do interior. "Isto degrada a vida das áreas metropolitanas e degrada a vida no interior, é difícil mas tem de acabar", nota Rio que tem uma farpa para António Costa, cujo nome nunca referiu ao longo de mais de meia hora de discurso. "O secretário-geral do Partido Socialista vai fazendo a estrada nacional 2 mas depois, quando interrompe o percurso e se senta na cadeira de primeiro-ministro, esquece em larga medida aquilo que vê porque, se não esquecesse, tinha tomado as medidas que deveriam ser tomadas no sentido de começarmos a caminhar ao contrário", frisa.

Mas as críticas dirigidas a António Costa e ao governo socialista não se ficam pelo tema da descentralização. No family gate, Rio acusa o PS de "usar o Estado para se servir", já na carga fiscal as críticas sobem de tom e são merecedoras de um prémio: uma medalha de latão e um balde de plástico.

Explica Rui Rio que "o PS bateu o recorde nacional de cobrança de impostos". Reconhecendo a descida no IRS promovida por António Costa, o presidente do PSD bate na tecla da carga fiscal e dos impostos indiretos para dizer que "os portugueses nunca pagaram tantos impostos".

Não é apenas o ano político que está em revista, Rui Rio volta aos anos da troikapara lembrar que "aquilo que foi feito pelo governo anterior foi a implementação do programa da troika". "O governo do PS colocou o país na banca rota e esse mesmo programa da troika foi negociado com a troika pelo PS que, depois de ter perdido as eleições, teve de ser o PSD e o CDS a fazer aquilo que o PS negociou por força da sua governação errada", acusa.

Além disso, o presidente do PSD nota ainda que com a conjuntura internacional favorável, o PS tinha "obrigação de colocar o país num patamar muito superior".

Também a greve dos motoristas não ficou esquecida e aí repetiram-se as críticas de "dramatização" e de "circo" com um discurso mais colado ao que habitualmente ouvimos à esquerda. Rui Rio nota que o governo "pretende mostrar que tem a autoridade do Estado", mas que "a autoridade do Estado não se exerce desta forma, desrespeitando aquilo que é a liberdade sindical e que é a liberdade dos trabalhadores poderem fazer greve".

"Tem de haver um equilíbrio em tudo isto e nós não podemos pôr em causa o direito à greve desta maneira grosseira apenas porque há eleições no dia 6 de outubro", conclui.

Juntando ainda números de investimento na ferrovia, saúde e educação para provar que em 2015 foi feito mais investimento do que 2018, Rio vira o bico ao prego para dizer quais os motivos pelos quais os portugueses devem votar no PSD: "melhores empregos e melhores salários", o ambiente, uma "justiça eficaz" e, claro, a descentralização que mereceu mesmo a declaração de guerra.

Com a presença de todos os cabeças-de-lista do PSD a estas eleições legislativas, também dois críticos passaram por Monchique: Miguel Morgado e Pedro Pinto.

No local onde Sá Carneiro (várias vezes evocado ao longo do dia) fez o primeiro comício em terras algarvias em 1975, Rui Rio veste a pele de poeta em jeito de homenagem ao algarvio António Aleixo. Diz Rui Rio que gostaria de lhe ter pedido, se fosse vivo, umas quadras sobre o PS. Na impossibilidade de tal acontecer, o próprio Rui Rio tratou das quadras e acrescentou-lhe uma dose de confiança:

"O PS governa mal
Só o presente lhe interessa
O futuro de Portugal
É coisa que não tem pressa
O circo monta e desmonta
Dramatiza e sobressalta
Tem sempre a novela pronta
Espetáculo não lhe falta
Não são dadas a rigores
As políticas socialistas
Foi assim com os professores
E agora com os motoristas
Mas o teatro montado
Que o povo irá julgar
Por certo será derrotado
E o PSD vai ganhar".

Filipe Santa-Bárbara | TSF | Foto: Lusa

Sem comentários:

Mais lidas da semana