Rui Rio passou temas quentes em
revista, deu motivos para não votar no PS e até homenageou o poeta António
Aleixo. Do Pontal, sai ainda uma declaração de guerra e um prémio para os
socialistas.
Vai ser uma guerra daquelas de
que Rui Rio gosta, palavra de líder social-democrata. O dossiê é o da
descentralização e que até foi alvo de acordo entre governo e
sociais-democratas nesta legislatura, mas o trabalho feito está longe de estar
completo.
"Vamos comprar uma guerra
daquelas que eu gosto, vamos comprar uma guerra pela descentralização, pela
desconcentração, vamos afrontar, se necessário for, interesses instalados em
nome de um país mais equilibrado", defende Rui Rio no comício que marca a
rentrée política do PSD.
O presidente do partido sublinha
a injustiça territorial de Portugal - "algo que já toca a estupidez" -
com a concentração que existe nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto em
contraste com a desertificação do interior. "Isto degrada a vida das áreas
metropolitanas e degrada a vida no interior, é difícil mas tem de acabar",
nota Rio que tem uma farpa para António Costa, cujo nome nunca referiu ao longo
de mais de meia hora de discurso. "O secretário-geral do Partido
Socialista vai fazendo a estrada nacional 2 mas depois, quando interrompe o
percurso e se senta na cadeira de primeiro-ministro, esquece em larga medida
aquilo que vê porque, se não esquecesse, tinha tomado as medidas que deveriam
ser tomadas no sentido de começarmos a caminhar ao contrário", frisa.
Explica Rui Rio que "o
PS bateu o recorde nacional de cobrança de impostos". Reconhecendo a
descida no IRS promovida por António Costa, o presidente do PSD bate na tecla
da carga fiscal e dos impostos indiretos para dizer que "os portugueses
nunca pagaram tantos impostos".
Não é apenas o ano político que
está em revista, Rui Rio volta aos anos da troikapara lembrar que "aquilo
que foi feito pelo governo anterior foi a implementação do programa da
troika". "O governo do PS colocou o país na banca rota e esse
mesmo programa da troika foi negociado com a troika pelo PS
que, depois de ter perdido as eleições, teve de ser o PSD e o CDS a fazer
aquilo que o PS negociou por força da sua governação errada", acusa.
Além disso, o presidente do PSD
nota ainda que com a conjuntura internacional favorável, o PS tinha
"obrigação de colocar o país num patamar muito superior".
Também a greve dos motoristas não
ficou esquecida e aí repetiram-se as críticas de "dramatização" e de
"circo" com um discurso mais colado ao que habitualmente ouvimos à
esquerda. Rui Rio nota que o governo "pretende mostrar que tem a
autoridade do Estado", mas que "a autoridade do Estado não se
exerce desta forma, desrespeitando aquilo que é a liberdade sindical e que é a
liberdade dos trabalhadores poderem fazer greve".
"Tem de haver um equilíbrio
em tudo isto e nós não podemos pôr em causa o direito à greve desta maneira
grosseira apenas porque há eleições no dia 6 de outubro", conclui.
Juntando ainda números de
investimento na ferrovia, saúde e educação para provar que em 2015 foi feito
mais investimento do que 2018, Rio vira o bico ao prego para dizer quais os
motivos pelos quais os portugueses devem votar no PSD: "melhores empregos
e melhores salários", o ambiente, uma "justiça eficaz" e, claro,
a descentralização que mereceu mesmo a declaração de guerra.
Com a presença de todos os
cabeças-de-lista do PSD a estas eleições legislativas, também dois críticos
passaram por Monchique: Miguel Morgado e Pedro Pinto.
No local onde Sá Carneiro (várias
vezes evocado ao longo do dia) fez o primeiro comício em terras algarvias em
1975, Rui Rio veste a pele de poeta em jeito de homenagem ao algarvio António
Aleixo. Diz Rui Rio que gostaria de lhe ter pedido, se fosse vivo, umas quadras
sobre o PS. Na impossibilidade de tal acontecer, o próprio Rui Rio tratou das
quadras e acrescentou-lhe uma dose de confiança:
"O PS governa mal
Só o presente lhe interessa
O futuro de Portugal
É coisa que não tem pressa
O circo monta e desmonta
Dramatiza e sobressalta
Tem sempre a novela pronta
Espetáculo não lhe falta
Não são dadas a rigores
As políticas socialistas
Foi assim com os professores
E agora com os motoristas
Mas o teatro montado
Que o povo irá julgar
Por certo será derrotado
E o PSD vai ganhar".
Filipe Santa-Bárbara | TSF |
Foto: Lusa
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