Paulo Baldaia | Jornal
de Notícias | opinião
Um mês depois dos novos partidos
chegarem ao Parlamento, já deu para perceber que os vícios são velhos. Um
partido que de Livre tem pouco e está preso por algemas a uma deputada em quem
não confia e outro que de tão Liberal só mantinha a liderança se o Estado se
dispusesse a pagar-lhe ordenado de deputado.
E o que dizer mais sobre o Chega?
Como o partido é apenas o Ventura mais um punhado de ideias que adquiriu num
catálogo internacional da extrema-direita, sobram as contradições entre o que
ele é hoje e o que ele foi e defendeu num passado recente. Coisa pouca para
quem se dispõe a votar no Ventura e lhe interessam apenas as ideias do
catálogo.
Convencidos que estávamos com
esta lufada de ar fresco e espírito democrático, com os eleitores a premiarem a
novidade e a pluralidade, continuamos a desvalorizar o perigo que representa a
besta à solta. E sim, estou a chamar besta ao Ventura, pelas ideias que ele
anda a colocar na ventoinha. O Ventura como apareceu, haverá de desaparecer,
mas aquelas ideias estavam bem fechadas em gavetas que agora nos dispusemos a
abrir. Alguém acredita verdadeiramente que polícias e militares da GNR
disponíveis para abraçar ideias xenófobas e racistas só passaram a existir com
o doutor Ventura? É claro que não! Mas esta normalização, com o argumento de
que todas as ideias devem ser discutidas, não tem nada de democrático. E elas
continuarão à solta por muitos anos, ao serviço da conveniência de uns
trafulhas que ganham sempre que o medo se instala na memória coletiva.
Quando milhares de homens e
mulheres armados se dispõem a vestir a camisola do Ventura ainda acham que não
chega? A primeira barreira a ser levantada tem mesmo de ser a da dignidade do
exercício da profissão de jornalista. Sim, é obrigação dos jornalistas censurar
discursos xenófobos e racistas. Sim, os jornalistas não devem ter medo do
politicamente correto e devem deixar o Ventura a falar sozinho. E o Governo
socialista? Já percebeu que, fazendo bem em não aceitar o Ventura como
interlocutor, tem de ser bastante mais lesto a responder às justas
reivindicações de quem mais tem contribuído para Portugal ser um país seguro?
Pagamos muito mal a polícias e militares da GNR, numa atitude hipócrita e
ofensiva de quem acha que, tendo em conta a origem destes homens e mulheres,
lhes basta a promoção social para colocarem a vida em risco pela nossa
segurança. Agora, que eles se mostram disponíveis para passar para o outro
lado, ainda acham que chega?
*Jornalista
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