Díli, 22 nov 2019 (Lusa) - O
Presidente da República timorense condecorou hoje o jornalista britânico Max
Stahl, destacando a sua nobreza e coragem em defesa do direito à
autodeterminação, e defendeu que lhe seja concedida a cidadania de Timor-Leste.
"Alguém que, com tanta
nobreza, arriscou a sua vida em horas de extrema gravidade e que se entregou
totalmente ao nosso país, ganhou o direito de ser cidadão timorense",
afirmou Francisco Guterres Lu-Olo.
"O nosso irmão Max Stahl é
tão timorense quanto nós. Solicito ao Parlamento Nacional a atenção para este
caso por uma questão da mais elementar justiça", disse.
Lu-Olo falava depois de
condecorar Max Stahl -- jornalista que filmou o massacre de Santa Cruz a 12 de
novembro de 1991 -- com o Colar da Ordem da Liberdade, o mais alto galardão que
pode ser dado a um cidadão.
"As imagens de Max Stahl
contribuíram muito para alterar as atitudes e ajudar a comunidade internacional
a entender que, a manifestação sem medo dos jovens, representava também o
desejo profundo de um povo em luta, de um povo que, pelos vistos, sendo
corajoso e indomável, soube organizar-se e lutar sob o lema 'Resistir é
vencer'", disse o Presidente.
Massacre de Santa Cruz, a fuga para a vida |
"A influência no pensamento
da comunidade internacional a favor da nossa luta aconteceu graças à filmagem
do massacre em Santa Cruz", refere o decreto.
"Max Stahl manifestou a sua
coragem apesar de estar em situação de opressão na altura. O massacre de Santa
Cruz foi considerado como um ponto de viragem da nossa luta pela libertação da
pátria ocupada", nota ainda.
Manifestando "profunda
emoção", o chefe de Estado explicou que a condecoração reconhece
"tudo o quanto este amigo fez até à data por este país e por este povo que
ajudou a libertar da cruel dominação estrangeira".
Lu-Olo recordou os que
"lutaram destemidamente e, com determinação por Timor-Leste, movidos pelo
dever de servir a pátria e o povo".
Manter-se caído não é opção, a luta por Timor-leste aconteceu e acontece todos os dias |
Christopher Wenner, que começou a
ser conhecido como Max Stahl, iniciou a sua ligação a Timor-Leste a 30 de
agosto de 1991 quando, "disfarçado de turista" entrou no território
para filmar um documentário para uma televisão independente inglesa.
Entrevistou vários líderes da
resistência e, depois de sair por causa do visto, acabou por regressar,
entrando por terra, acabando, a 12 de novembro desse ano por filmar o massacre
de Santa Cruz.
"Importa aqui relembrar a
sua grande coragem em filmar num dia de indescritível crueldade contra jovens
indefesos", recordou Lu-Olo.
"Depois de um interrogatório
de 9 a 10 horas na esquadra da polícia de Comoro, Max regressa nesta mesma
noite ao cemitério de Santa Cruz, arriscando mais uma vez a sua própria vida,
para retirar as cassetes enterradas numa campa recente", disse.
O material que recuperou acabou
por ser tirado do país pela holandesa Saskia Kowenberg -- que deverá ser
galardoada no próximo dia 28 de novembro, com as imagens a serem emitidas
poucos dias depois em todo o mundo.
O Presidente recordou que, desde
a independência, Max Stahl tem desenvolvido um amplo projeto para a criação em
Timor-Leste de um arquivo audiovisual que ajudará a deixar registos da luta
contra a ocupação para gerações vindouras.
"Max Stahl manifestou um
desempenho corajoso no percurso da nossa luta. Na época depois da ocupação, Sr.
Max Stahl continua a contribuir para o desenvolvimento de Timor-Leste, entre
outras coisas, através de uma organização que se chama Centro Audiovisual Max
Stahl cujas atividades estão ligadas à preservação, divulgação e
desenvolvimento dos arquivos da memória histórica. Os contributos mostrados
pelo corajoso jornalista e repórter de guerra merecem ser reconhecidos e
valorizados.
Hoje. Max Stahl, um timorense com merecido destaque na perpétua história de Timor-Leste |
O chefe de Estado disse que a
história mostra que "os timorenses não estavam sozinhos durante os anos da
luta" com apoio de cidadãos em vários países.
"Max Stahl veio para filmar,
mas entregou-se de corpo e alma ao nosso amado Timor-Leste livre e
independente. Vive hoje em Timor-Leste com a família tendo estado a
contribuir, de uma forma inexcedível, para elevar o nível profissional dos
nossos repórteres", afirmou.
"Há 28 anos que comunga os
nossos ideais e trabalha connosco nas horas boas e nas difíceis! Compartilha
connosco as nossas vitórias e fracassos, as nossas emoções, as nossas
preocupações e as nossas esperanças num país em estado de consolidação.
Stahl, que vai ter que sair
temporariamente de Timor-Leste para tratamentos médicos, já tinha sido
agraciado em 2009 com a Ordem de Timor-Leste, na altura com o grau de Insígnia.
ASP // FST
Imagens em Google, legendas PG
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