Clã dos Santos tem estado a
apostar alto em ações na justiça contra detratores. Estará a pagar na mesma
moeda que tão bem conhece? Analistas entendem que não, acreditam que se trata
de simples questão de sobrevivência.
Só este mês de dezembro houve
três ações judiciais iniciadas por destacados membros da família do
ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos: Isabel dos Santos contra a
ex-eurodeputada portuguesa Ana Gomes, que muito se dedicou a denunciar os seus
supostos ilícitos, e o marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo, contra a
Sodiam, empresa angolana de comercialização de diamantes, um ex-sócio de quem
terá ganho benefícios pela posição privilegiada.
Também Welwitschea dos Santos
submeteu uma impugnação no Tribunal Constitucional de Angola por ter perdido o
mandato de deputada no Parlamento angolano, exigindo ser ouvida. Tchizé, como é
conhecida, terá excedido o período de ausência no Parlamento, violando assim um
regulamento.
Durante os últimos anos esta
família é que foi alvo de processos sem conta, tanto em Angola como fora do
país. Por isso as suas recentes iniciativas são até certo ponto
surpreendentes.
E o facto mereceu uma reação de
repúdio por parte do ativista da ONG Friends of Angola, Rafael Morais. Entende
que "deveriam ter vergonha e parar de agir dessa maneira. Esse favoritismo
que tiveram quando José Eduardo dos Santos estava no poder prejudicou de tal
maneira os cidadãos angolanos, que hoje o Estado angolano está na condição em
que está por culpa desses indivíduos que andaram a delapidar o Estado
angolano."
E o Morais defende que "eles
deveriam pedir desculpas ao Estado angolano e devolver aquilo o dinheiro que
delapidaram ao Estado. O povo angolano hoje está a morrer a fome".
A guerra entre o clã dos Santos e
o Presidente da República não é facto novo, há quem considere que mais do que
combater a corrupção, João Lourenço está é a perseguir a família do
ex-Presidente, numa espécie de revange.
Mas também há uma certeza
generalizada de que a família dos Santos abusou dos bens do Estado para
benefício próprio. Mas se a guerra não é nova, a estratégia do clã na justiça
parece ser.
Ações na justiça: sobrevivência e
autodefesa
O que estará a motivar a ofensiva
do clã dos Santos? Sentimento de revolta? O jurista Albano Pedro responde:
"Chamar revolta como tal, não. Trata-se de defesa, necessidade de
sobrevivência, porque com o risco de ser extinto, é um processo de extinção que
esta família está a correr, então a reação representa uma necessidade de
sobrevivência".
E esta opinião é comungada pelo
analista político David Kissadila: "Acho que o que está a acontecer neste
preciso momento é a procura de formas de ripostar os problemas que estão a
viver, eles querem encontrar formas de sair deles. Se calhar se justificarem e
inclusive de se autodefenderem."
E o clã escolheu fazer as
investidas a partir do exterior. A saída das filhas do ex-Presidente angolano
do país é entendida por certas correntes como uma fuga às ações iniciadas pelo
Presidente João Lourenço.
Zenú, o peão sacrificado na
"teatralização"
Entretanto, um dos destacados
membros do clã foi sacrificado. Zenú, que está agora a ser julgado em Angola
por uso indevido de milhões de dólares enquanto presidente do Fundo Soberano de
Angola, é hoje o peão deste jogo de xadrez?
"Exatamente! Alguns têm de
estar [na linha da frente]. O próprio pai está sob proteção e se aparecer todo
esse processo de combate à corrupção desmorona. Basta uma declaração do
ex-Presidente José Eduardo dos Santos para arruinar todo esse processo e por
muita gente na cadeia, inclusive gente que está no poder", responde o
jurista Albano Pedro.
E o jurista remata: "E essa
teatralização tem de criar algumas vítimas, e uma delas o filho."
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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