Mariana Mortágua | Jornal
de Notícias | opinião
Começou em Madrid a 25.a
Conferência da ONU sobre o clima, a COP25, que tem lugar 25 anos depois da
COP1, no Brasil. Desde então, as emissões de CO2, o principal gás com efeito de
estufa, aumentaram cerca de 60%; os fenómenos climáticos extremos
intensificaram-se causando milhões de refugiados; há milhares de espécies em
risco e estamos muito perto de atingir um ponto de não retorno com a subida dos
oceanos provocada pelo derretimento dos glaciares.
As consequências são
inimagináveis se pensadas à escala do tempo da nossa vida, ou mesmo da
Humanidade, mas não são inéditas num planeta onde, ao longo de milhares de
milhões de anos, a sobrevivência das espécies sempre dependeu de profundas
transformações climáticas.
Não há nada de conspiração nestas
constatações. A ciência pode discordar quanto à previsão exata do
"quanto" e "quando" deste fenómeno, mas negar as alterações
climáticas é como achar que o tabaco não prejudica a saúde. A disputa não está
por isso entre negacionistas e todos os outros, mas entre diferentes visões da
estratégia a seguir.
Há, por um lado, quem ache que o
sistema económico atual será capaz de lidar com o problema. Os adeptos do
"capitalismo verde" apostam no negócio das renováveis e dos carros
elétricos, na alteração individual dos comportamentos e em paliativos na
produção e venda de produtos (cada vez mais as empresas publicitam produtos
reciclados ou "verdes"). Querem uma transformação que não ponha em
causa a produção e o tipo de consumo de massas, que não afete os mercados que
especulam sobre recursos naturais ou os lucros das empresas que exploram
recursos fósseis ou utilizam energias poluentes. Esta visão, que dominou até
hoje, foi bem sucedida a criar novas áreas de negócio, mas falhou na proteção
do planeta. E que não se diga que tudo foi feito em nome do progresso e
bem-estar da Humanidade, porque sabemos como este progresso viveu da exploração
dos países mais pobres que hoje são os primeiros a sofrer com as alterações
climáticas; e sabemos como a finança e as grandes multinacionais ajudaram à
concentração de riqueza e ao aprofundamento das desigualdades. O sistema
desenfreado que está a destruir o clima é o mesmo que produziu a crise
financeira, que se alimenta da precariedade, que preda os serviços públicos e
que não tem pejo em financiar e beneficiar da economia da guerra sem fim.
É contra este sistema hipócrita,
que diz querer saber do clima enquanto protege as petrolíferas, que cresce um
movimento, apoiado nas greves climáticas estudantis, que sabe que a mudança é
urgente e para valer: limitar os combustíveis fósseis e as indústrias
poluentes, reduzir os consumos supérfluos, mudar a produção e o trabalho,
investir nos transportes públicos e na eficiência energética do edificado. Mas
não se enganem. Estas mudanças não vão acontecer enquanto todos os outros
aspetos da nossa sociedade forem subjugados à proteção da finança e das grandes
empresas, dos seus lucros, e à obtenção de um excedente orçamental que lhes
agrade. O clima tem de ser a prioridade, em vez da proteção da Banca: se o
clima fosse um banco, já estaria salvo.
*Deputada do BE
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