Os cidadãos e a imprensa têm
direito de enfrentar o poder? Ataque ao criador do Wikileaks revela que o
Ocidente rendeu-se às corporações e abandonou a bandeira da liberdade. É
preciso descobrir como resgatá-la
Chris Hedges* | Outras Palavras | Tradução: Antonio
Martins
A prisão, nesta quinta-feira, de
Julian Assange, desmente todo o discurso sobre o Estado de Direito e a
liberdade de imprensa. As ilegalidades praticadas pelos governos do Equador, da
Grã-Bretanha e dos Estados Unidos na captura de Assange são sinistras. Elas
pressagiam um mundo em que as ações internas, abusos, corrupção, mentiras e
crimes – inclusive os de guerra – praticados por Estados corporativos e pela
elite governante global serão escondidos do público. Elas pressagiam um mundo
em que aqueles que mantêm coragem e integridade para expor o abuso de poder
serão caçados, torturados, submetidos a julgamentos farsescos e condenados a
penas perpétuas, em confinamento solitário. Elas pressagiam uma distopia
orwelliana em que a informação é substituída por propaganda, banalidades e
distração. A prisão de Assange, temo, marca o início oficial do totalitarismo
corporativo que ameaça definir nossas vidas.
Sob que lei o presidente
equatoriano, Lenin Moreno, liquidou de forma caprichosa os direitos de Julian
Assange ao asilo, como refugiado político? Sob que lei Moreno autorizou a
polícia britânica a entrar na embaixada equatoriana – que tem status diplomático
de território soberano – para prender um cidadão equatoriano naturalizado? Sob
que lei a primeira-ministra Theresa May ordenou que a polícia britânica
agarrasse Assange, que nunca cometeu um crime? Sob que lei o presidente Donald
Trump pediu a extradição de Assange, que não é cidadão norte-americano e cuja
organização noticiosa não está situada em território dos Estados Unidos?