Surpresa: nos EUA e Inglaterra,
uma nova geração de economistas rejeita a ideia de adaptar-se ao sistema e
formula projetos opostos à ditadura das corporações e das finanças. Quem são
eles? Que ambiente político favorece esta ousadia?
Andy Beckett | Outras Palavras | Tradução: Marianna
Braghini
Por quase meio século, algo vital
tem faltado na política do campo da esquerda em países ocidentais. Desde os
anos 1970, a
esquerda mudou o modo de pensar de muitas pessoas sobre preconceito, identidade
pessoal e liberdade. Ela expôs as crueldades do capitalismo. Algumas vezes
ganhou eleições e às vezes governou de forma eficaz. Mas não tem sido capaz de
mudar, em essência, as relações de riqueza e o trabalho em nossas sociedades –
nem de oferecer uma visão convincente sobre como isso pode ser feito. A
esquerda, em resumo, não teve uma política econômica.
A direita tem. Privatização,
desregulamentação, impostos menores para as empresas e e os ricos, mais poder
para empregadores e acionistas, menos poder aos trabalhadores. Articuladas,
estas políticas recrudesceram o capitalismo e o tornaram mais onipresente que
nunca. Imensos esforços foram feitos para tornar o capitalismo inevitável e
para retratar como impossível qualquer alternativa.
Neste ambiente cada vez mais
hostil, a abordagem econômica da esquerda tem sido reativa. Ela resiste a estas
enormes mudanças, frequentemente em vão e muitas vezes voltando-se ao passado,
nostálgica. Por muitas décadas os mesmos dois analistas críticos do
capitalismo, Karl Marx e John Maynard Keynes, continuaram a dominar a
imaginação econômica da esquerda. Marx morreu em 1883, Keynes em 1946. A última vez que suas
ideias tiveram uma influência significativa em governos ocidentais ou eleitores
foi há 40 anos, durante os turbulentos dias finais da social democracia
pós-guerra. Desde então, direitistas e centristas rotulam qualquer argumento em
favor de superar o capitalismo – ou mesmo de freá-lo, como um desejo de fazer o
mundo “retroceder aos anos 70”.
Alterar nosso sistema econômico tem sido apresentado como uma fantasia — tão
possível quanto viagens no tempo.
No entando, há anos o sistema
começou a falhar. Em vez de uma prosperidade sustentável e compartilhada,
produziu estagnação dos salários, cada vez mais trabalhadores na pobreza,
desigualdade crescente, crises bancárias, convulsões de ultra-direita e
iminente catástrofe climática. Até mesmo políticos da direita reconhecem, por
vezes, a seriedade da crise. Na conferência do Partido Conservador britânico do
ano passado, o chanceler, Philip Hammond, admitiu que “uma lacuna se abriu” no
Ocidente “entre o que uma economia de mercado proporciona, em teoria …e a
realidade”. Ele continua: “Muitas pessoas sentem isso…o sistema não está
funcionando para elas.”