Primeiro-ministro faz um discurso
virado para os parceiros dizendo que não se engana na escolha de quem quer ao
seu lado para fazer o resto da legislatura... até “2021, 2022, 2023”. “Depois
os portugueses falarão”
As contas desta legislatura
fazem-se a quatro anos, garante António Costa. E o que isto quer dizer é que
este Orçamento do Estado que agora negoceia e que vai ser votado sexta-feira é
definidor do que vai acontecer daqui em diante. Da parte do PS, garante, não há
mudança de rumo nem troca de parceiros e muito menos mudança de estratégia
política.
"Se tem dado bons
resultados, porque vamos mudar de política?", perguntou. Em plena semana
de negociações com a esquerda, que duram até à última hora, esta questão tem um
significado imediato ao responder politicamente às dúvidas que têm sido
levantadas tanto por Catarina Martins como por Jerónimo de Sousa.
"Ao contrário do que muitas
vezes vejo escrito, esta não vai ser uma legislatura em que o PS vai andar à
deriva nem à procura da Carochinha", disse durante um discurso no jantar
no Dia de Reis com o grupo parlamentar do PS. O "rumo" e o
"campo" estão definidos há muito, disse. "O PS definiu nas
eleições primárias de 2014 uma estratégia política e tem sido reafirmada desde
então. Sabe bem qual o seu campo, a sua linha de atuação. Sabemos quem são os
nossos parceiros e os nossos adversários."
Nesta intervenção, horas antes de
nova conversa com os líderes de PCP e BE em São Bento por causa do Orçamento do
Estado para 2020, António Costa fez um discurso virado para os parceiros e
respondendo-lhes às críticas sobre excedente orçamental, dizendo que este
resultado é positivo e não impede outras medidas: "Ninguém pode dar um
exemplo de uma promessa que tenhamos deixado de cumprir para termos este
resultado orçamental e económico". O excedente é um resultado, não um
obstáculo, e muito menos é o diabo. "Era o que faltava que depois de o
défice ser o diabo a falta dele seja o diabo."
Aos parceiros fez o roteiro pelos
avanços que o Orçamento traz, como tem feito nos últimos dias, desde a melhoria
dos rendimentos, das pensões, do investimento em Saúde ou na melhoria dos
salários dos funcionários públicos. Se com isto foi possível um excedente,
perante esta combinação de fatores, este Orçamento é, disse, o melhor de todos.
"Este é o quinto orçamento que apresento. É o melhor orçamento que
apresentei até hoje porque é fruto do trabalho ao longo de quatro anos."
A ideia essencial do jantar era
de insistir na mensagem que, apesar de os partidos à sua esquerda criticarem o
documento, este Orçamento "é de esquerda e responsável", referiu Ana
Catarina Mendes, líder parlamentar do PS. A socialista, que abriu o jantar com
um curto discurso, afirmou ser "incompreensível" para ela se este
Orçamento não for votado pela maioria parlamentar. "Ninguém perceberá que
este que é melhor que todos os outros não seja apoiado pela maioria que o povo
português escolheu para governar o país - um PS reforçado e uma esquerda a
apoiar este Orçamento."
PS CONTRA "OS
POPULISMOS"
O mote foi dado pelo presidente
da Assembleia da República. Ferro Rodrigues fez uma curta intervenção lembrando
a entrevista do ideólogo de Trump, Steve Bannon, esta semana ao Expresso para
dizer que é preciso estar atento, uma vez que Bannon admitiu a possibilidade de
"haver em Portugal uma revolução de carácter populista e
nacionalista". Para Ferro, o populismo faz uso de várias
"manifestações" de "arruaça, provocação e de constante desafio à
ordem democrática" e o PS tem de estar na frente dessa luta para que
"essas manifestações não tenham lugar de forma sustentada na Assembleia da
República e fora dela".
António Costa pegou na ideia para
defender que o melhor antídoto aos populismos é a percepção em Portugal de que
há dois caminhos possíveis, duas alternativas, "com o PS à esquerda e o
PSD à direita". "Sempre que os portugueses quiserem mudar de rumo,
têm alternativa. O rumo é para manter e nós estamos cá para manter este
rumo" e espera "continuar até 2021, 2022, 2023, e depois os
portugueses falarão".
Liliana Valente | Expresso |
Imagem: António Pedro Ferreira
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