No último dia do ano, o ministro
venezuelano dos Negócios estrangeiros criticou a «vergonhosa manipulação
mediática» que o seu país sofre. A acompanhar as festividades da passagem do
dezanove para o vinte, não faltaram exemplos, nas nossas TV, de que, a nível
internacional, a campanha de manipulação mediática está para durar.
AbrilAbril | editorial
No último dia do ano passado, o
ministro venezuelano dos Negócios estrangeiros, Jorge Arreaza, recorreu à
sua conta oficial de Twitter para criticar a «vergonhosa manipulação
mediática» que o seu país continua a sofrer, referindo-se em concreto às fake
news (notícias falsas) que alguns órgãos de comunicação espanhóis e
latino-americanos «se dedicam a publicar».
Enquanto isso, silenciam esses e
muitos outros «meios» o facto de a República Bolivariana da Venezuela – mesmo
com as dificuldades resultantes «do bloqueio e da agressão» impostos por
Washington e amigos – ter conseguido entregar a «casa 3 milhões», no âmbito do programa Grande Missão Habitação Venezuela, criado em 2011
pelo então presidente da República, Hugo Chávez, com o objectivo de enfrentar a
abordagem especulativa e capitalista do sector privado ao direito à habitação,
e, dessa forma, garantir a pessoas de baixos recursos uma casa digna e o acesso
a serviços básicos.
No dia 26 de Dezembro, 3 000 000
de casas entregues; até 2025, o objectivo é chegar a 5 000 000 – um marco
histórico e uma vontade reafirmada pelas autoridades, que assumem maior
relevância no contexto das dificuldades impostas ao país caribenho.
Abafar os 3 000 000 de casas
entregues e dizer, por exemplo, que Maduro quer os venezuelanos na pobreza é um
quase-nada num ano de intensa campanha de ataque à Venezuela, desde que Guaidó
se autoproclamou e houve TV e figurões (de cá também) a cobrir no local as
«cenas» da extrema-direita e a dar voz aos seus porta-vozes; mas, como bem sabe
o ministro e talvez saiba o leitor, a campanha não acabou.
De resto, a acompanhar as
festividades da passagem do dezanove para o vinte, não faltaram exemplos, nas
nossas TV, de que, a nível internacional, a campanha de manipulação mediática
está para durar. Até no regaço mais recôndito dos barrocos serranos, com as
cavacas a arder e chaminés a fumegar, se viu o Burj Khalifa, que é enorme, fica
no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), e proporciona espectáculos de «luz
e fogo».
Os Emirados são uma maravilha, ao
que parece, pelos vistos na TV – sobretudo quando nada nos contam do que há
anos os Emirados são um dos principais intervenientes na guerra de agressão
imperialista ao Iémen, contribuindo para a destruição do mais pobre dos países
árabes e para gerar uma das maiores crises humanitárias de sempre.
Recentemente, surgiram ainda informações relativas ao saque de peças arqueológicas do Iémen,
em que os EAU têm assumido um papel destacado, segundo denúncias realizadas por
um arqueólogo norte-americano. Mas, pelos vistos na TV, nada a apontar.
Também em destaque nesta passagem
esteve, nos ecrãs que levam as festas a planícies e montanhas, o «ataque à
embaixada dos EUA no Iraque», em que «aquela gente» parecia desgovernada e sem
norte, a insurgir-se contra a sede da «civilização mundial». A propósito,
podiam os «meios» ter lembrado a protecção que os EUA deram, em Washington, à
ocupação da embaixada da Venezuela, um Estado soberano. Mas não se foi por aí.
A novela «Irão» deu logo-logo,
mas sobre a ocupação do Iraque pelos EUA, que dura há 16 anos,
tudo ficou por dizer, bem como sobre as ditas milícias «pró-Irão» – as Kata'ib
Hezbollah –, que combatem o Daesh e foram atacadas pelos EUA.
A partir de segunda-feira, temos nova edição do Paris – Dakar, que é na Arábia Saudita (acusada de violações de direitos humanos a nível nacional,
de liderar a guerra atroz contra o Iémen e de financiar o terrorismo na Síria).
Já há loas e há-de haver mais. O mesmo se passará com o Qatar e o «seu» mundial
(de 2022). Pouco parece interessar à «imprensa» que a Síria continue a acusar esse país árabe de gastar milhões no
apoio ao terrorismo.
O que acima se refere é apenas
uma ligeira amostra. Frente às grandes doses diárias de propagação do
neoliberalismo, do imperialismo e do neocolonialismo nos vários quadrantes do
mundo, a luta que aqui se trava continuará a ser anti-imperialista e pela
soberania dos povos.
Imagem: Tal como previsto, em
2019 foi entregue a casa número 3 000 000, no contexto do programa Gran Misión
Vivienda Venezuela Créditos/ camarainmobiliaria.org.ve
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