É a primeira vez que ativista
ambiental e presidente americano participam de um mesmo evento desde que Trump
tratou Greta com sarcasmo no ano passado. Clima está no topo da agenda do Fórum
Económico Mundial deste ano.
A ativista ambiental sueca Greta
Thunberg retorna à estação de esqui suíça de Davos para o Fórum Económico
Mundial (FEM) de 2020 com uma mensagem forte e clara: pôr um fim à
"loucura" dos combustíveis fósseis.
A mensagem de Thunberg dirige-se,
entre outros, ao presidente dos EUA, Donald Trump, que no passado zombou da
ativista ambiental, dizendo que ela tem um "problema de controle da
raiva". Trump, que está entre os céticos das mudanças climáticas mais
proeminentes, retorna a Davos depois de faltar ao Fórum de 2019 devido à
paralisação do governo (shutdown)
em Washington.
É a primeira vez que Trump e
Thunberg estarão presentes no mesmo evento desde a cúpula das Nações Unidas
sobre mudança climática no ano passado em Nova York, onde a adolescente pôde
ser vista olhando fixamente para o presidente dos EUA, quando seus caminhos se
cruzaram brevemente.
Mais tarde, Thunberg – escolhida
Pessoa do Ano de 2019 pela revista Time – disse à emissora BBC que
"não teria perdido tempo" conversando com Trump sobre a crise
climática no evento da ONU.
"Honestamente, acho que não
teria dito nada porque, obviamente, ele não está ouvindo cientistas e
especialistas, então por que ele me escutaria?", disse a ativista.
"Estado de emergência"
Como se sabe, Thunberg disse aos
participantes de Davos no ano passado que "nossa casa está pegando
fogo." Ela encontrou apoio entre os organizadores do Fórum Económico
Mundial, incluindo seu fundador de 81 anos, Klaus Schwab, que afirmou que o
mundo está enfrentando "um estado de emergência."
"Não queremos atingir o
momento crítico da irreversibilidade das mudanças climáticas", disse
Schwab na última terça-feira (14/01). "Não queremos que as próximas
gerações herdem um mundo que está se tornando cada vez mais hostil e menos
habitável – pense nos incêndios na Austrália", afirmou o iniciador do FEM.
O Relatório Global de Riscos
publicado pelo FEM, na última quarta-feira, colocou as mudanças climáticas e
outras ameaças ambientais à frente dos riscos apresentados por tensões
geopolíticas e ataques cibernéticos.
É a primeira vez que a pesquisa
constata que os cinco principais riscos de longo prazo são ambientais, desde
eventos climáticos extremos a governos e empresas que não conseguem mitigar e
se adaptar às mudanças climáticas.
"Capitalismo das partes
interessadas"
A sustentabilidade é o tema
principal da reunião de Davos deste ano. Ela ocorre num momento em que o mundo
enfrenta o aquecimento global, que ameaça se agravar devido às crescentes
divergências entre nações e empresas sobre como enfrentá-lo.
O encontro vai reunir mais de 50
chefes de Estado e governo, incluindo a chanceler federal alemã, Angela Merkel,
e o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte. O Fórum busca dar um
significado concreto ao "capitalismo das partes interessadas" – no
qual as empresas devem servir aos interesses de toda sociedade e não
simplesmente de seus acionistas.
"As empresas precisam agora
adotar totalmente o capitalismo das partes interessadas, o que significa não
apenas maximizar lucros, mas usar suas capacidades e recursos em cooperação com
governos e sociedade civil para abordar os principais problemas desta
década", afirmou Schwab. "Elas têm que contribuir ativamente para um
mundo mais coeso e sustentável."
Davos 2020 em números
• Cerca de 3 mil participantes de
quase 120 países. Um quarto dos participantes é formado por mulheres
• 53 chefes de Estado e governo
• Quase 1.700 líderes
empresariais, incluindo CEOs de 8 das 10 empresas mais valiosas do mundo
• Mais de 350 palestras e
workshops
• 88% dos carros usados pelo WEF são elétricos ou híbridos
Davos mais verde
A grande reunião anual – que
celebra seu jubileu de ouro este ano – tem sido frequentemente criticada por
sua própria pegada de carbono, deixada principalmente pelos líderes que voam em
seus jatos particulares.
O FEM informa que o encontro
deste ano estaria entre as cúpulas internacionais mais sustentáveis já realizadas. Ele promete comprar créditos
de carbono para compensar voos, disponibilizar mais veículos elétricos e
oferecer comida de origem local.
"É algo que levamos muito a
sério", disse Adrian Monck, diretor-gerente do FEM. "Não há nada pior
do que uma organização identificar um risco e não fazer nada a respeito."
O FEM planeia lançar um método
que usa fundos públicos e privados para plantar 1 trilião de árvores até ao
final desta década.
Tensões geopolíticas
A cúpula, que vai de terça a
sexta-feira desta semana, também se concentrará em questões como guerras
comerciais globais, desigualdade, níveis recordes de endividamento e tensões
geopolíticas no Oriente Médio.
Enquanto os principais líderes do
Iraque, Autoridade Palestina, Paquistão e Afeganistão devem participar do
evento, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, não
estará presente, já que Teerão enfrenta protestos após o abate de um avião de
passageiros ucraniano.
O cancelamento da participação de
Zarif também acontece no contexto das crescentes tensões no Médio Oriente,
desde que ataques aéreos dos EUA mataram Qassim Soleimani, um dos principais
generais iranianos, no início do mês.
Ashutosh Pandey (ca) | Deutsche
Welle
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