Bruno Veillard | CEIRI
No dia 8 de janeiro deste ano
(2020) o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, e o Presidente da
Turquia, Recep Tayyip Erdogan, reuniram-se na cidade de Istambul para a
cerimónia oficial de inauguração do gasoduto Turkish Stream. O planeamento
do gasoduto durou alguns anos e sofreu um leve revés em 2015 com o episódio da
queda do avião de combate russo pelos turcos. Todavia, o incidente não
inviabilizou o projeto o qual foi retomado em 2017 já com a construção da
linha.
A principal linha do gasoduto
possui 930 Km de extensão, e compreende 230 Km em águas marítimas russas e 700
Km em águas marítimas turcas. O Turkish Stream conecta o gás natural
da cidade russa de Anapa, no Krai de Krasnodar, a cidade
turca de Kiyikӧy, na província de Kirklareli, por
debaixo do Mar Negro. A partir de Kiyikӧy inicia-se uma
extensão da linha a qual estende-se por 69 Km até o centro de distribuição na
cidade de Lüleburgaz, e por mais 145 Km até a cidade de Ipsala, na
fronteira turco-grega.
O gasoduto russo-turco possui 2
operadores: a empresa Gazprom, que é a responsável pela seção onshore e offshore do
lado russo; e a BOTAŞ, a empresa responsável pela seção onshore turca.
Com custo estimado em 11,4 bilhões de euros (aproximadamente, US$ 12,6859
bilhões, ou R$ 52,1913 bilhões, conforme a cotação de 14 de janeiro de 2020), o
projeto levou 1 ano e 3 meses para ser concluído, e tem capacidade total de
fornecer até 31,5 bilhões de m³ de gás natural.
A Federação russa é uma das
maiores exportadoras de gás natural para o continente europeu e abastece
parcela considerável desse mercado energético, todavia, diversos Estados da
própria Europa e inclusive os Estados Unidos tendem a rechaçar a expansão
comercial do gás russo. A grande razão para o discurso dos opositores é a
dependência que o país comprador poderia adquirir dos russos, e possíveis
tentativas de interferência em assuntos internos desses últimos na realidade
política regional.
Em relação a cerimónia de
lançamento do gasoduto, o jornal Gazeta.Ru
apresentou a declaração do Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, o
qual disse: “Este é um sistema único e sem precedentes em seus parâmetros
de transmissão de gás em alto mar. Vivemos em um mundo complexo. Na região em
que estamos há tendências para uma exacerbação da situação. Mas a Turquia e a
Rússia mostram exemplos completamente diferentes – interação e cooperação em
benefício de nossos povos e de toda a Europa”.
O jornal Izvestia trouxe a
declaração do Chefe do Departamento do Instituto de Pesquisa Energética da
Academia Russa de Ciências, Vyacheslav Kulagin, sobre a questão do monopólio do
gás russo, o qual mencionou a tendência de diminuição do fluxo de gás em
trânsito pelos gasodutos europeus. Kulagin salientou: “Em breve, não mais que 20 a 25% do gás
será entregue a nós por qualquer rota de exportação. Isso garante suprimentos
confiáveis e a capacidade de trabalhar com flexibilidade no mercado. Quando
houver uma reserva de capacidades, cada proprietário do gasoduto estará
interessado em atrair um fornecedor e oferecerá condições mais convenientes”.
A Turquia não aparenta
compartilhar do receio europeu e dos Estados Unidos em comprar o gás russo, e
compreende a instalação do Turkish Stream como um benefício para sua
própria infraestrutura. No que tange a uma possível dependência energética dos
russos os turcos rejeitam essa perspectiva, pois pretendem investir em novas
fontes de energia, como a exploração de hidrocarbonetos.
Em relação a temática, o jornal Gazete Duvar apresentou a declaração do Presidente da
Turquia, Recep Erdogan, o qual disse: “Ganhamos uma infraestrutura
significativa de oferta de gás natural na região. Estamos conduzindo nossos
esforços de exploração de hidrocarbonetos para descobrir novas fontes de
suprimento e desenvolver nossas reservas existentes. Vamos virar o
Mediterrâneo, que foi o berço das civilizações ao longo da História, para o
campo da cooperação, não para o conflito. Nossas expectativas é que nossos
interlocutores se voltem para a Turquia para alargar a cooperação”.
O jornal Diyalog Gazetesi trouxe
a declaração do Ministro da Energia e Recursos Naturais da Turquia, Fatih Dӧnmez,
o qual enfatizou a cooperação com o vizinho russo, e a importância do
gasoduto para o desenvolvimento do país. Dӧnmez salientou: “O
Turkish Stream é um passo histórico dado o profundamente no Mar Negro. O
projeto mostrou mais uma vez a importância da cooperação e do ganha-ganha para
o mundo”.
A cooperação entre ambos os
atores é significativa e sólida, com duração de mais de 30 anos, nos quais
cerca de 400 bilhões de m³ de gás já foram fornecidos da Rússia para a Turquia.
Diante de um universo comercial atual equivalente US$ 100 bilhões por ano entre
os dois países (próximos de 411,41 bilhões de reais, de acordo com a cotação de
14 de janeiro de 2019), os especialistas estimam que a Gazprom poderá obter um
lucro de aproximadamente US$ 500 milhões por ano (em torno de 2,057 bilhões de
reais, conforme a mesma cotação).
Os analistas entendem que a
conexão russo-turca mediante a operação do gasoduto Turkish Stream é
estratégica no sentido económico e político. No primeiro caso, a Federação
Russa obtém lucro a partir da expansão de sua rede de gasodutos, visto que o
território turco possibilita criar um contorno ao gasoduto que passa pela
Ucrânia, e, dessa forma, abre expectativa para novos clientes entre os Estados
balcânicos.
No segundo caso, a Turquia ganha
por exercer parte do controle sob o Turkish Stream, auferindo a
possibilidade futura de negociações sobre o valor de exportação do gás russo,
e, é claro, os turcos também poderiam vir a obter benefícios financeiros com a
transmissão do gás para países vizinhos.
Em relação a questões políticas,
o gasoduto não interfere no equilíbrio de poder regional, pois os principais
Estados da localidade (Rússia e Turquia) uniram-se a favor de objetivos comuns.
Todavia, é possível a ascensão de discursos acalorados no futuro caso os países
do entorno resolvam importar seu gás em conexão com o Turkish
Stream. Isso significaria uma possível tensão entre a Federação Russa e a
União Europeia (UE), a qual observa com descrença o destaque da influência
russa no mercado de gás do Leste Europeu.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “Presidente da
Federação Russa, Vladimir Putin, e Presidente da Turquia, Recep
Erdogan” (Fonte): https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f2/Meeting_Vladimir_Putin_with_Recep_Tayyip_Erdogan_2017-03-10_03.jpg
Imagem 2 “Estação de gás
natural” (Fonte): https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/64/Pipeline_device.jpg/1280px-Pipeline_device.jpg
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