Díli, 22 jan 2020 (Lusa) - Os
dois maiores partidos timorenses, Fretilin e CNRT, mantiveram-se hoje em
silêncio sobre possíveis soluções para a crise política no país, desencadeada
com o 'chumbo', na sexta-feira, da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE)
para 2020.
Contactados pela Lusa, os
secretários-gerais da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin), Mari Alkatiri, e do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense
(CNRT), Francisco Kalbuadi, optaram por manter "o silêncio".
Outras fontes partidárias
garantiram que o assunto está, no entanto, a ser debatido internamente, antes
do início, na quinta-feira, de uma ronda de reuniões convocadas pelo Presidente
de Timor-Leste, Francisco Guterres Lu-Olo, com os líderes políticos do país.
As mesmas fontes sugeriram que a
posição da Fretilin assenta numa solução que passe por um Governo de grande
inclusão, enquanto o CNRT mostra maior abertura à realização de novas eleições.
Fontes partidárias da Fretilin,
do CNRT, do Partido Democrático (PD) e do Partido Libertação Popular (PLP)
admitiram à Lusa desconhecer soluções para a crise que vai deixar o país por
tempo indefinido com um apertado regime duodecimal, com grande impacto numa
economia, que em 2019 não conseguiu recuperar de dois anos de contração.
Formalmente, o Governo liderado
por Taur Matan Ruak continua em plenas funções, apesar do primeiro-ministro ter
admitido esta semana que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) -- a
coligação que o apoia -- "já não existe".
Taur Matan Ruak instruiu o
executivo para cumprir as funções com normalidade, não tendo sido ainda dado
qualquer passo que marque, formalmente, o fim do VIII Governo saído das
eleições antecipadas de 2018.
A crise política é consequência
de dois anos de divergências políticas e de intransigência de posições que
acabaram por condicionar a governação.
Uma situação que se arrasta em
Timor-Leste desde 2017, quando a Fretilin venceu as eleições por pouco mais de
1.000 votos e acabou desafiada por três partidos -- o CNRT, de Xanana Gusmão, o
PLP, de Taur Matan Ruak, e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO)
de José Naimori.
Nasceu assim a coligação da AMP,
com forças que se criticaram mutuamente durante a campanha de 2017. A AMP
acabou por travar o orçamento e o programa do Governo liderado por Mari
Alkatiri, o que levou à dissolução do parlamento e a eleições antecipadas.
A AMP apresentou-se como
coligação pré-eleitoral -- ainda que os partidos-membros se tenham depois
dividido em bancadas no parlamento -- venceu com maioria absoluta, mas
enfrentou depois o Presidente timorense, que 19 meses depois continua sem dar
posse a uma dezena de membros do Governo, a maioria do CNRT, o maior dos três
partidos da AMP.
Esta posição do chefe de Estado
timorense levou Xanana Gusmão a decidir não tomar posse, traduziu-se na subida
a primeiro-ministro de Taur Matan Ruak, "número dois" da AMP, e criou
um Governo cheio de 'interinos', com a voz do CNRT a tornar-se minoritária.
Várias medidas implementadas
desde aí extremaram as posições dentro da coligação com um crescente mal-estar
do CNRT, com dirigentes a questionarem, em declarações à Lusa, a alegada falta
de veemência de Taur Matan Ruak na defesa da tomada de posse dos seus membros
junto do Presidente.
A situação cresceu de intensidade
e a primeira proposta de OGE foi recebida com forte contestação de todas as
bancadas do Governo, o que levou Taur Matan Ruak a apresentar uma nova proposta
orçamental, que acabou por ser 'chumbada'.
Ouvidos pela Lusa, dirigentes do
PLP e membros do Governo admitiram surpresa pela abstenção ou voto contra a
proposta de OGE pelos deputados do CNRT, o que agudizou a tensão no seio da
AMP.
O CNRT é o maior partido da AMP,
mas tem menos dois lugares no parlamento que a Fretilin, partido com maior
representação parlamentar.
O cenário de um Governo de grande
inclusão obriga a resolver a dúvida sobre quem assumiria as funções de
primeiro-ministro -- se um dirigente do CNRT, da Fretilin ou uma alternativa
exterior -- e que papel teriam os restantes partidos da coligação que venceu as
eleições.
Daí que dirigentes ouvidos pela
Lusa tenham admitido que o cenário final acabe por passar por eleições
antecipadas, um voto de consequências imprevistas, mas que poderá manter o
regime duodecimal até à segunda metade do ano.
ASP // EJ
Sem comentários:
Enviar um comentário