Após insultos contra jogadores,
incluindo imitações de macacos, torcedores alemães se posicionam contra o
racismo no desporto com cartazes e gritos de "Fora nazis". Que
futebolistas sigam o exemplo.
No bucólico Estádio Floresta
Negra, pouco antes do jogo contra o Fortuna Düsseldorf no último sábado
(22/02), torcedores do Freiburg estenderam um gigantesco banner contra racismo
e gritaram a plenos pulmões "Nazis raus" (Fora nazis). Os
dizeres da faixa não deixaram dúvidas sobre o teor da manifestação. Ali estava
escrito com todas as letras: "Racismo mata. Todos e tudo contra o
racismo."
Dois dias antes, por ocasião da
partida entre Frankfurt e Salzburg pela Liga Europa, ao final do minuto de
silêncio em homenagem às vítimas do atentado
de Hanau, milhares de torcedores levantaram a voz e também clamaram por
"Nazis raus". Esse grito fez-se ouvir não apenas nos estádios,
mas também em muitas cidades onde dezenas de milhares de cidadãos
foram às ruas para se manifestar contra racismo e xenofobia.
O presidente da federação judaica
de ginástica e desportos Makkabi, Alon Meyer, declarou em carta de agradecimento
publicada parcial ou integralmente pela mídia, que as manifestações dos
torcedores alemães nos estádios representam "um divisor de águas na luta
contra o extremismo de direita".
"Foi um momento grandioso e
imponente, que chama à responsabilidade todo o mundo desportivo alemão. É nosso
dever como sociedade civil assumir com determinação a luta contra o discurso de
ódio. Os adeptos do Frankfurt demonstraram isso de forma notável",
disse Meyer.
Fritz Keller, presidente da
Federação Alemã de Futebol, anunciou que a entidade lutará contra o racismo com
todos os meios à disposição e justificou: "Vivenciamos novamente uma época
na qual alguns segmentos da sociedade procuram um inimigo para que possam se
livrar do ódio que carregam dentro de si. Para esses eu digo que no futebol,
nos estádios e no desporto em geral não há lugar para ódio, xenofobia e
racismo. Vamos cerrar fileiras contra toda e qualquer forma de descriminação –
seja no estádio, na rua ou nas redes sociais."
Há quase um mês,
numa partida válida pela Copa da Alemanha entre Schalke 04 e Hertha
Berlim, Jordan Torunarigha da equipa berlinense, teve que ouvir insultos e
urros racistas durante a partida. O juiz fez-se de desentendido e deixou
passar. Logo a seguir, Jordan sofreu uma falta violentíssima que o deixou
estatelado no chão. Ao levantar-se já fora de campo, descarregou sua raiva e
chutou uma caixa com bebidas. Dessa vez, o árbitro não teve dúvidas. Deu o
segundo cartão amarelo ao jogador e expulsou-o de campo.
O incidente ocorreu na Veltins
Arena, casa do Schalke 04, cujo presidente, Clemens Tönnies, há poucos meses,
durante um evento empresarial, pleiteou
a construção de centrais elétricas no continente africano. Ele justificou
sua proposta com o seguinte argumento: "Assim, os africanos param de
derrubar árvores e de produzir crianças quando fica escuro."
Talvez seja exagero estabelecer
uma ligação direta entre a fala de Tönnies e o ato racista de um desvairado.
Por outro lado, pessoas no exercício de cargos executivos têm a
responsabilidade de medir suas palavras, especialmente quando pronunciadas em público. Excessos verbais carregam dentro de si germes à procura de um terreno
fértil, quiçá na mente dos que só necessitam de uma justificação qualquer para
extravasar sua índole violenta contra inimigos imaginários.
Leon Goretzka joga no Bayern de
Munique há um ano e meio. Ele veio do Schalke 04 e tem 25 anos. Já vestiu a camisa
da seleção alemã em 25 oportunidades. Em entrevista à revista alemã Der
Spiegel conclamou seus colegas a um maior engajamento na luta contra o
racismo.
"Infelizmente os temas do
antissemitismo e racismo tornaram-se muito atuais. Diante disso, tomei a decisão
de me posicionar claramente a respeito. Já estava mesmo na hora",
disse Goretzka.
"Na partida amistosa que
jogamos contra a Sérvia no ano passado, dois dos meus colegas de seleção
sofreram pesados insultos racistas. Até então eu achava que no nosso país
racismo fosse coisa do passado. Recentemente visitei o campo
de concentração de Dachau e decidi então fazer a minha parte para que o
horror não se repita", concluiu.
É um caso alentador de um
profissional do futebol posicionando-se claramente sobre questões políticas.
Que seus colegas se encham de coragem e sigam o exemplo.
Gerd Wenzel*
Na imagem: "Racismo mata.
Todos e tudo contra o racismo", diz cartaz exibido por torcedores do
Freiburg
*Gerd Wenzel começou no
jornalismo desportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira
vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como
especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast
"Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o
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